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CAPA

PONTO DE PARTIDA (SM pág. 1)
O Conselho Municipal de Saúde e seu importante papel na aglutinação e mobilização dos trabalhadores da saúde


ENTREVISTA (SM pág. 03)
Inteligente e polêmico, o convidado desta edição é Paulo Henrique Amorim. Sem comentários!


CRÔNICA (SM pág. 10)
O médico Tufik Bauab recupera, em linguagem bem-humorada, um pouquinho do cotidiano que faz a história de cada um


SINTONIA (SM pág. 12)
Esporte competitivo. Qual o limite para que o treinamento não se torne excessivo e prejudicial à saúde?


MEIO AMBIENTE (SM pág. 15)
Doença de Chagas e transmissão oral. Total descaso das autoridades com o meio ambiente e a saúde


CONJUNTURA (SM pág. 18)
Voluntários sadios e a polêmica da remuneração nos testes clínicos


DEBATE (SM pág. 21)
O tema em discussão trouxe à tona o Exame do Cremesp e a qualidade do ensino médico no país


HOBBY DE MÉDICO (SM pág. 28)
Cirurgia plástica e alpinismo? Combinação perfeita! Acompanhe os desafios de Ana Elisa Boscarioli...


ESPECIAL (SM pág. 32)
Cem anos de convivência com a cultura japonesa: a arte e a gastronomia conquistaram os brasileiros, definitivamente


CULTURA (SM pág. 38)
Oscar Niemeyer: dedicação integral à criação e à arte da arquitetura no país e no exterior


TURISMO (SM pág. 42)
Ah! você não pode perder essa viagem a um verdadeiro paraíso batizado de Ilha do Cardoso


LIVRO DE CABECEIRA (SM pág. 47)
Acompanhe a dica de leitura de nosso diretor de Comunicação, Bráulio Luna Filho


POESIA (SM pág. 48)
Cora Coralina é a poetisa que fecha com chave de ouro esta edição da Ser Médico


GALERIA DE FOTOS


Edição 42 - Janeiro/Fevereiro/Março de 2008

ESPECIAL (SM pág. 32)

Cem anos de convivência com a cultura japonesa: a arte e a gastronomia conquistaram os brasileiros, definitivamente

Cem anos da imigração japonesa no Brasil


Estimativa atual é de que existam 1,5 milhão de japoneses e descendentes no Brasil

Eduardo Jaccoud*

Estima-se que o Brasil tenha hoje uma população de 1,5 milhão de japoneses e descendentes. A maior parte concentra-se no Estado de São Paulo e ao norte do Paraná, mas eles estão distribuídos por todo o país, sendo representativos também no Amazonas e norte do Pará. É o maior contingente populacional de origem japonesa fora do Japão.

Na América Latina, a presença japonesa é marcante também no Peru, Argentina, Paraguai e Bolívia. O Peru foi o primeiro país da região a receber esses imigrantes, a partir de um tratado de parceria com o Japão, assinado em 1873. Em 1895, Brasil e Japão firmaram o Tratado de Amizade, Comércio e Navegação. Mas a imigração começou a ser contada oficialmente a partir de 18 de junho de 1908, com a chegada do navio Kasato-Maru ao Porto de Santos, com 165 famílias procedentes do Japão. O Brasil necessitava de mão-de-obra nas lavouras de café, seu maior produto de exportação, enquanto o Japão enfrentava dificuldades com a explosão demográfica e desemprego crescentes.


Hospital Santa Cruz, fundado em 1939

Outros imigrantes chegaram aos poucos, até 1941, totalizando 188 mil agricultores. Com o fim da Segunda Guerra Mundial, mais 50 mil japoneses aportaram no Brasil, muitos deles para exercer outras atividades, inclusive trabalhar em multinacionais japonesas instaladas no país. Os que vieram trabalhar nas fazendas tinham o sonho – frustrado – de enriquecer rapidamente e retornar à terra natal. Com o passar dos anos, alguns acumularam recursos e puderam arrendar ou comprar terras por eles desbravadas, desenvolvendo técnicas que possibilitaram novos produtos agrícolas, mudando o colorido da mesa brasileira.

A migração das famílias japonesas para os grandes centros urbanos deveu-se, inicialmente, à crise cafeeira no campo e à preocupação com o ensino dos filhos. Como não faziam parte da mão-de–obra qualificada e tinham dificuldades para se comunicar, acabaram dirigindo-se para o pequeno comércio, com a participação de todos os membros da família, para evitar despesas com empregados. Boa parte deles conseguiu formar seus filhos. Na Medicina, por exemplo, hoje os nipo-descendentes são representativos como profissionais destacados.


Feira no bairro da Liberdade

O Censo de 1988 apontou que cerca de 90% da população japonesa passou a viver na cidade. Em São Paulo, o bairro da Liberdade concentra uma comunidade que vive ali como se estivesse no Japão. Estabelecimentos comerciais com letreiros em japonês vendem uma variada gama de produtos orientais. Bares e restaurantes com pratos típicos da cozinha japonesa transformaram-se em um atrativo singular da Capital paulista. Nos últimos anos a Liberdade vem sofrendo grandes modificações com a chegada de chineses, coreanos, vietnamitas, passando atualmente a ser conhecida como bairro oriental.


Templo budista japonês da comunidade Soto Zenshu, em São Paulo

Em 100 anos, os imigrantes conseguiram difundir a cultura japonesa pelo país. A maioria de suas manifestações culturais está presente em nosso meio: as lutas marciais (judô, jiu-jitsu), os arranjos florais, origamis, ikebanas, haikais, karaokê e tantas outras. Os desenhos em quadrinhos (mangá) e os desenhos animados (animê) conquistaram os jovens do mundo inteiro. Pokemóns e Godzilla tornaram-se sucessos traduzidos em várias línguas. A cozinha japonesa conquistou o paladar dos brasileiros, que tornaram-se hábeis em mexer os pauzinhos (hashis) para saborear os sushis, sashimis, pratos de peixes, legumes, verduras, arroz branco etc. Devido ao baixo teor de gordura saturada, a cozinha japonesa é recomendada para quem precisa controlar o colesterol. É por isso que o Japão tem o mais baixo índice de doença cardiovascular, comparado ao ocidente.


Na foto acima, a família Uemura alguns anos após a chegada ao Brasil. O segundo menino, da direita para a esquerda, se tornaria o pai do conselheiro do Cremesp, Kazuo Uemura

O Eldorado oriental, uma outra história

A partir dos anos 80, os descendentes de japoneses começaram a emigrar para o Japão para trabalhar na indústria, sonhando com melhores condições de vida, e em retornar algum dia ao Brasil. São os dekasseguis (sair para trabalhar). Atualmente, nossa colônia no Japão é estimada em cerca de 300 mil brasileiros, a terceira maior comunidade estrangeira em território japonês. Lá eles constroem uma nova história, que provavelmente será celebrada em seu centenário. Mas essa é uma outra história...

*Eduardo Jaccoud é cardiologista do Instituto Dante Pazzanese de São Paulo e do Hospital e Maternidade Brasil, em Santo André, licenciado em japonês pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP, estudante de Literatura  na Escola Sanwa-gakuin, em São Paulo.


Presença japonesa na Medicina

Comunidade trouxe à cidade de São Paulo dois grandes hospitais, o Santa Cruz e o Nipo Brasileiro. O médico Seigo Suzuki foi ministro da Saúde

A influência e a importância da comunidade japonesa no Estado de São Paulo possibilitaram a construção de dois grandes hospitais, na capital paulista.  O Hospital Santa Cruz - que foi fundado em 1939 com ajuda dos governos brasileiro e japonês. Foi mantido em funcionamento sob a responsabilidade dos japoneses até a Segunda Guerra Mundial, quando foi expropriado pelo governo brasileiro. Durante o governo de Fernando Henrique Cardoso, foi devolvido à Sociedade Brasileira Japonesa de Beneficência Santa Cruz, que o administra até hoje. Em 1988, foi inaugurado o Hospital Nipo brasileiro, por ocasião do 80º aniversário da colônia japonesa. Sua construção foi subsidiada por recursos enviados pelo governo japonês, em conjunto com as contribuições da comunidade japonesa no Brasil.

Alguns médicos descendentes de japoneses se destacaram na Medicina e na política. O cirurgião cardiovascular Seigo Tsuzuki foi ministro da Saúde no governo de José Sarney. O cardiologista Siguemittuzo Ariê, falecido recentemente, foi diretor do Laboratório de Hemodinâmica do Incor, um dos pioneiros em hemodinâmica cardiovascular no país. O anestesista  Kentaro Takaoka foi o criador do ventilador pulmonar mecânico que leva seu nome. O médico Nelson Okano, já falecido, foi delegado do Cremesp, sendo considerado por seus colegas um profissional de destaque.

Sabedoria oriental no Cremesp


Da esq. p/a dir. os conselheiros Kazuo Uemura, Ruy Tanigawa e Akira Ishida

Dos 42 conselheiros do Cremesp, três são de origem japonesa. O número dá uma idéia sobre a importância da presença nipônica na comunidade médico-brasileira. São eles o professor titular de Ortopedia e Traumatologia da Unifesp, Akira Ishida; o anestesiologista Kazuo Uemura; e o presidente da Associação Brasileira de Acupuntura, Ruy Tanigawa. A seguir, eles contam como as suas famílias chegaram ao Brasil.

Kazuo Uemura
“Meu pai tinha 3 anos quando chegou com a família ao Brasil, em 1933. Hoje, ele está com 87 e vive em Guarulhos. Meus avós, assim  como meu pai, nasceram em  Okinagwa, no Japão, mas antes de virem para cá, foram tentar a vida na Califórnia, nos Estados Unidos. Em pouco tempo, decidiram mudar o rumo da viagem, seguindo para o Brasil. Ficaram na Hospedaria dos Imigrantes, na Capital, e depois foram para a região do município de Promissão, no interior de São Paulo, para trabalhar na lavoura. Meu pai conheceu minha mãe na comunidade japonesa que lá vivia. Casaram-se e tiveram quatro filhos.  Por volta de 1947, decidiram tentar a vida na cidade, mudando-se para Valparaíso, onde meu pai montou uma farmácia. Graças a isso, pude cursar Medicina na Faculdade de Taubaté.

É característico da cultura japonesa o rigor e a exigência extrema na educação dos filhos. Com meus pais não era diferente, tinha de estudar muito enquanto meus colegas brasileiros brincavam. Por isso, sou uma pessoa disciplinada e metódica. Como os traços asiáticos são marcantes, sofri preconceito, sim. Embora não se compare ao preconceito sofrido pelos descendentes de africanos no Brasil, minhas características físicas davam motivos para brincadeiras de colegas. Mas nasci no Brasil e me sinto brasileiro, assim como os filhos de italianos e portugueses que aqui chegaram.”

Ruy Tanigawa
“Sou neto de imigrantes, então chamado de sansei, ou seja, da terceira geração. Meus avós aqui chegaram em 1917 e, do Porto de Santos foram para o Interior do Estado, para trabalhar como lavradores. Após itinerância por algumas fazendas, conseguiram autonomia, fixando-se como cafeicultores em Penápolis, cidade de minha naturalidade. Sou filho único, criado com muitas regalias, fato incomum, pois as famílias dos japoneses, em geral, eram constituídas por muitos filhos. Não tive problemas de integração, tanto que a minha convivência com a comunidade nipônica foi a mesma em relação aos gaijins, denominação dada aos não descendentes de japoneses. Sinto-me um privilegiado, dentre as muitas oportunidades que desde muito jovem sugiram em minha vida escolhi a Medicina e nela encontrei os elevados fins da existência. Agradeço por esta Terra que recebeu nossos ancestrais e de minha parte orgulho-me de ser brasileiro e da herança recebida – o compromisso da honradez de samurai em servir à sociedade. E por fim, este descendente do país do sol nascente, mais uma vez, sente-se privilegiado, pois seus tesouros, os filhos Ryan e Sley concluíram o curso médico este ano.”

Akira Ishida
“Minha mãe nasceu no Japão e veio para o Brasil aos três anos, com meus avós. Já meu pai, que era natural de Nagoya, veio adulto e sozinho. Em períodos diferentes, ambos se dirigiram para o Interior do Estado, onde viriam a se conhecer. A agropecuária foi a atividade de meus pais até o final de suas vidas. Eu nasci na cidade de Pompéia, passando minha infância e parte da juventude em Marília, vindo posteriormente para a Capital para estudar na Escola Paulista de Medicina, onde trabalho até hoje. Garantir que os filhos pudessem estudar era de fundamental importância para meu pai, razão pela qual nos mudamos para Marília. Sou o caçula de dez irmãos e, além de mim, mais um seguiu a Medicina. Há uma visão de que o japonês é trabalhador e sério; e acredito que hoje os  seus descendentes estão integrados à sociedade brasileira e bastante miscigenados. Eu sou um exemplo dessa situação.  Por destino ou coincidência, eu viria a me casar com a pediatra Maria Aparecida Monteiro Machado, bisneta do senador e médico Paulo Moraes Barros. O senador Moraes Barros permaneceu um ano no Japão, em 1914, cuidando dos protocolos para oficializar o Tratado de Imigração Japonesa entre os dois países. Ou seja, essa viagem do trisavô da minha única filha, que é estudante de Psicologia, tem profunda relação com o encontro das famílias Machado e Ishida no Estado de São Paulo.”

O tsuru, símbolo de saúde e fortuna

Esta matéria especial é ilustrada com o tsuru (grou), um dos origamis mais populares. Sua dobradura simples e fácil serve de base para outras figuras. Costuma-se pendurar estas aves de papel como móbiles de teto ou oferecê-las em templos e altares, juntamente com as orações, para pedir proteção. A figura é utilizada também para enfeitar embalagens de presente, simbolizando saúde e fortuna. E quando uma pessoa se encontra hospitalizada, mil grous são oferecidos para que ela se restabeleça. Na tradição japonesa, para a confecção dos mil grous é preciso união, esforço e fé de muitas pessoas, formando-se assim uma corrente de pensamento positivo. A seguir, as instruções para fazer o seu grou:

1. Dobre um papel quadrado ao meio no sentido horizontal.
2. Dobre ao meio na vertical e abra. Dobre nas duas diagonais sendo o lado direito para a frente...
3. ... e o esquerdo para trás.
4. Abra ao meio na parte de baixo, levante a ponta inferior e junte a ponta esquerda com a direita para formar um quadrado.
5. Dobre as laterais esquerda e direita para o centro e abra. Dobre e abra a parte superior no pontilhado. Com cuidado puxe a ponta (A) para cima ficando com uma figura igual a da próxima etapa.
6. Vire o papel e repita, ficando com uma figura igual a da próxima etapa.
7. Certifique-se de que a parte aberta está para baixo. Dobre as laterais esquerda e direita para o centro, conforme a figura. Vire o papel e faça o mesmo do outro lado.
8. Dobre a lateral direita sobre a esquerda acompanhando o eixo vertical central. Vire e faça o mesmo do outro lado e você terá a figura abaixo com a parte aberta para cima.
9. Dobre a ponta inferior para cima onde está a linha tracejada.
10. Para formar a cabeça do pássaro dobre ponta da mesma aba para a frente e você terá a figura da próxima etapa.
11. No mesmo ponto onde foi dobrada a parte da frente dobre a aba de trás para formar a cauda.
12. Abra as laterais esquerda e direita e fazendo um vinco na parte de baixo.
13. Dobre ligeiramente as asas para baixo, puxe delicadamente a cabeça e a cauda na diagonal para expandir o corpo.


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