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CAPA

PONTO DE PARTIDA (SM pág. 1)
Novo movimento deve unir médicos e sociedade contra o descaso e a falta de prioridade com as quais a Saúde vem sendo tratada


ESPECIAL 1 (SM pág. 4)
Ser Médico comemora 10 anos em grande estilo. Seu conteúdo diversificado agrada a todos, médicos inclusive...


ESPECIAL 2 (SM pág. 5)
Ser Médico 10 anos: acompanhe trechos de artigos memoráveis da revista


CRÔNICA (SM pág. 12)
Nesta edição comemorativa, uma crônica bem-humorada e inteligente de Moacyr Scliar. É preciso dizer mais?!?


SINTONIA (SM pág. 14)
Congresso Brasileiro de Bioética: acompanhe síntese da palestra da cientista política Adela Cortina


CONJUNTURA (SM pág. 18)
Médicos e indústria farmacêutica: a falta de limites para conflitos de interesse


MEIO AMBIENTE (SM pág. 21)
Parece sonho, mas é realidade. A Reserva Ecológica Mamirauá existe. Mesmo.


DEBATE (SM pág. 25)
AVC: um RX da situação epidemiológica e condutas no atendimento do paciente, no Brasil


COM A PALAVRA (SM pág. 32)
Humanização da Medicina. Idéia atual? Não senhor! Já estava bem presente no passado...


GOURMET (SM pág. 39)
Prepare sua mesa. Você não vai conseguir resistir a esta receita...


TURISMO (SM pág. 42)
Ah... esse deserto você precisa conhecer. É ali, no Maranhão! Acompanhe o texto, veja as fotos!


LIVRO DE CABECEIRA (SM pág. 47)
Às margens do Sena, junto a Maison De La Radio... você já ouviu esse bordão?


POESIA (SM pág. 48)
Toda a emoção de um trecho de Entre o que Vejo e o que Digo, do poeta mexicano Octavio Paz


GALERIA DE FOTOS


Edição 41 - Outubro/Novembro/Dezembro de 2007

TURISMO (SM pág. 42)

Ah... esse deserto você precisa conhecer. É ali, no Maranhão! Acompanhe o texto, veja as fotos!

Um deserto de encantos

De tão suntuosa, a região sugere ser pura miragem

texto e fotos: Sérgio Tulio Caldas* e Victor Andrade**

O Maranhão surpreende. Para começo de conversa, tem a única capital do Brasil fundada por franceses – São Luís –, que esbanja um centro histórico nada acanhado: contam-se ali 3.500 prédios históricos tombados, 1.100 deles declarados Patrimônio Cultural Mundial pela Unesco. Outra surpresa? Nesse Estado nordestino, cujo litoral se estende por 640 quilômetros de belas praias (é a segunda maior costa litorânea do país depois da Bahia), o mar não é sua principal atração. O que mais fascina no Estado são os Lençóis Maranhenses, um inesperado deserto brasileiro, coberto de dunas, reentrâncias e lagoas. De tão suntuosa, a região sugere ser – sem exageros – pura miragem.


Vila de Mandacaru, que surgiu por conta do farol Preguiça

Longe de ser uma alucinação que acomete quem cruza os desertos, o próprio nome do lugar estimula a fantasia de quem o visita: visto de longe, se assemelha a uma seqüência de lençóis brancos estendidos para secar ao sol e ao vento. Com 1.550 km², os Lençóis têm tamanho equivalente à cidade de São Paulo. Nessa vastidão coberta por areia, mais uma vez o visitante fica incrédulo ao ver que, durante boa parte do ano, suas dunas douradas ficam entremeadas por incontáveis lagoas de águas azuis cristalinas.

O que torna os Lençóis uma das regiões mais interessantes do país é, simplesmente, a chuva. É dela que surgem as lagoas. A água, responsável pela criação da exótica paisagem dos Lençóis, despenca do céu com abundância nos primeiros seis meses do ano. É quando nuvens carregadas pairam sobre as dunas. No segundo semestre não há chuvas. A beleza cênica da região está em constante transformação. A cada dia, as dunas mudam de altura, na semana seguinte elas podem entrar um pouco mais pelas margens do Preguiças, um rio de águas fartas que nasce no interior do Maranhão e corre pelo deserto até desaguar no Atlântico.   

A porta de entrada para esse ambiente de natureza improvável é Barreirinhas, cidade a 250 quilômetros ao leste de São Luis, onde se encontra a melhor infra-estrutura para os viajantes. É dali que saem os grupos dispostos a explorar a pé, ou de barco – pelo Preguiças, um dos trechos dos Lençóis Maranhenses – área declarada parque nacional, que conta com 70 quilômetros de litoral e outros 50 quilômetros continente adentro.

Os moradores da pacata Barreirinhas vivem de acordo com o ritmo das estações. Essa gente se acostumou a conduzir suas vidas conforme os dois períodos climá­ticos do ano. Durante o inverno, quem mora à beira do Preguiças parte para longas temporadas de pesca no trecho onde o rio se encontra com o mar, cerca de 40 quilômetros distante de Barreirinhas. Ali, em locais como Caburé, um vilarejo de cabanas cobertas por palhas de buriti, eles se fartam da generosidade das águas: há muitas corvinas, robalos e outros peixes graúdos, que depois de pescados são levados para a cidade. É essa a atividade que vai garantir um pouco mais de dinheiro nos outros seis meses do ano, durante a seca, quando os trabalhos se resumem praticamente à lavoura e à produção de tijolos nas olarias no entorno de Barreirinhas. 

Se o Preguiças é essencial para os moradores da região, é navegando por suas águas que se faz contato com as boas surpresas dos vilarejos locais, já fora das divisas do parque nacional (qualquer agência de turismo em Barreirinhas organiza passeios pelo rio, que começam pela manhã e se encerram no final do dia). A primeira parada costuma ser Vassouras, 45 minutos rio acima. Vassouras, do lado direito do Preguiças, fica numa região conhecida como Pequenos Lençóis, uma área cerca de dez vezes menor que Lençóis, porém com dunas e lagoas igualmente fantásticas. Ali, entre manguezais e a preservada vegetação nativa, há mais povoados como Alazão, Espadarte, Morro do Boi e Moitas, até que se alcança Mandacaru.


Menina segura papagaio em Vassouras

Nessa vila, paisagem e história se fundem numa única imagem. Mandacaru surgiu por conta do extraordinário farol Preguiça, erguido em 1940, cujos 35 metros de altura podem ser vencidos escalando seus 160 degraus. Lá do alto, além de se avistar Lençóis de um ângulo peculiar, compreende-se a importância de sua luz que guia os navegantes pelas águas traiçoeiras daquela parte do rio. 


Biguás à beira do Rio Preguiças

Quem vive em Lençóis, precisa também estar atento a outro fenômeno natural. Como a areia em toda parte é muito fina e o vento nunca pára de soprar, as dunas estão em constante movimentação – pesquisas indicam que as dunas ali podem se mover até 20 metros por ano. Onde a vegetação não é capaz de conter o avanço da areia, casas, estradas e até alguns vilarejos já foram soterrados. São problemas inerentes a um deserto – assim como a eles estão relacionadas as miragens.

De volta a Barreirinhas, é exatamente essa sensação de ilusão que se tem ao avistar a Lagoa Azul (foto acima): um oásis, repleto de lagoas verdes com águas cristalinas e cheias de peixes. Por conta disso, tornou-se um lugar muito procurado pelos visitantes e moradores locais em busca de um refresco para o calor acachapante.

Na outra ponta do parque, a cerca de 95 quilômetros da cidade, sendo 40 deles em trilhas na areia, encontra-se a lagoa da Gaivota, de igual encanto, também cercada por dunas de areias finas e brancas. É uma das maiores da região e fica em Santo Amaro do Maranhão, um vilarejo de casinhas de barro sombreado por cajueiros.

Santo Amaro, além de estar próxima a várias lagoas que nunca secam e à lagoa do Sonda, de águas incrivelmente esverdeadas, guarda outra surpresa. Ali é possível fazer uma descida pelo rio Cardosa, munido de colete salva-vidas, máscara e snorkel. Atração ainda pouco conhecida do turismo, a descida pelo rio de águas verdes e transparentes serpenteia em meio a buritis – a árvore milagrosa do povo ribeirinho, fornecedora de matéria-prima para alimentos, moradias, canoas e artesanato.


Dunas de Santo Amaro

Com tantas atrações e belezas naturais, os Lençóis Maranhenses deixam o visitante sem saber que rumo tomar. É o que acontece com quem visita Caburé, o vilarejo de casinhas cobertas de palhas de buriti. Às margens das águas tranqüilas do Preguiças, basta andar alguns metros adiante para dar de cara com o Oceano Atlântico. Se você se encontrar nessa situação, entre refrescar-se no rio ou correr para o mar, não há escolha: opte pelos dois. Lençóis é assim: um deserto onde o que parece ser miragem é pura realidade.


Vista do Rio Preguiças em Caburé


Como chegar
A partir de São Paulo e do Rio de Janeiro, as principais companhias aéreas do país têm vôos diários para a capital maranhense. Uma vez em São Luís, deve-se seguir até Barreirinhas, a porta de entrada para o Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses. A viagem de 260 quilômetros leva cerca de três horas e meia de carro por uma estrada recém reformada e em boas condições. Também é possível voar até Barreirinhas em aviões pequenos, de até seis pessoas. A viagem leva 45 minutos a partir de São Luís (informações: tel. 98 3244-1511).  

Onde se hospedar
As melhores opções de hospedagem se encontram em Barreirinhas. Um dos melhores hotéis da cidade é o Solare Lençóis Flat Residente, com bons apartamentos, piscina e bar flutuante sobre o rio Preguiças. O Porto Preguiças Resort tem piscina cercada de buritis e fica na beira do rio. Para informações sobre outros hotéis na cidade e nos arredores clique AQUI.

Fique ligado
Não é necessário alugar carro em São Luís. Todos os passeios realizados no Parque Nacional são feitos de barco ou em veículo 4X4, que cruzam estradas de areia pouco ou nada sinalizadas. Durante as caminhadas é indispensável a presença de um guia. É muito fácil se perder, devido às paisagens que são praticamente iguais.

Distâncias entre São Luís e algumas capitais
- São Paulo (SP): 3551 km
- Rio de Janeiro (RJ): 3721 km
- Belo Horizonte (MG): 2635 km
- Brasília (DF): 2377 km
- Salvador (BA): 2001 km
- Porto Alegre (RS): 4717 km

Uma cidade, duas capitais

São Luís é parada obrigatória para quem se aventura pelos Lençóis Maranhenses. Patrimônio da Humanidade, essa cidade é a única capital brasileira fundada por franceses, batizada em 1612 como Saint Louis em homenagem ao rei Luís XIII, da França. Entretanto, foram os portugueses que ditaram sua história.

A herança da colonização lusitana está estampada nos 3.500 prédios tombados como patrimônio histórico, reunidos no centro antigo, principalmente nos arredores da Praia Grande. É ali que se pode ver os mais conservados casarões dos séculos 18 e 19, erguidos sob a imponente arquitetura colonial e finamente decorados com azulejos nas fachadas e beirais. Um passeio pelos becos e vielas da capital maranhense é voltar no tempo – um programa que vem se tornando mais atraente com os trabalhos do Projeto Reviver. Responsável por recuperar antigos edifícios, aterrar a fiação elétrica e instalar luminárias de época, esse programa devolveu a aparência original de boa parte das ruas, praças e prédios da cidade.

São Luís, porém, é mais que história. Ela se transforma em pura alegria durante o mês de junho, quando grupos tradicionais de “bois” invadem suas ruas e arraiais para realizar a festa mais famosa do Estado, o Bumba-Meu-Boi. Diversão é o que não falta ali. Apenas para lembrar, São Luís é capital duas vezes: do Maranhão e do reggae, estilo de música jamaicano que aportou nas terras maranhenses nos anos 1970, se popularizou, e hoje embala as noites dançantes da capital, de domingo a domingo.

* Sérgio Túlio Caldas é jornalista e escritor, autor dos livros Nas fronteiras do Islã, editora Record, 2002; Arara Azul, editora DBA, 2005 e Café, um grão de história, Dialeto, 2007, entre outros.

** Victor Andrade é fotógrafo e jornalista, autor dos livros Papel de Salto,110 anos de evolução e tecnologia; e Bahia, Cores e Sentimentos (junto com Mauricio Simonetti), ambos pela Escrituras Editora, 1999 e 2002, entre outros trabalhos publicados.


Dunas de Santo Amaro




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