CAPA
PONTO DE PARTIDA (SM pág. 1)
Novo movimento deve unir médicos e sociedade contra o descaso e a falta de prioridade com as quais a Saúde vem sendo tratada
ESPECIAL 1 (SM pág. 4)
Ser Médico comemora 10 anos em grande estilo. Seu conteúdo diversificado agrada a todos, médicos inclusive...
ESPECIAL 2 (SM pág. 5)
Ser Médico 10 anos: acompanhe trechos de artigos memoráveis da revista
CRÔNICA (SM pág. 12)
Nesta edição comemorativa, uma crônica bem-humorada e inteligente de Moacyr Scliar. É preciso dizer mais?!?
SINTONIA (SM pág. 14)
Congresso Brasileiro de Bioética: acompanhe síntese da palestra da cientista política Adela Cortina
CONJUNTURA (SM pág. 18)
Médicos e indústria farmacêutica: a falta de limites para conflitos de interesse
MEIO AMBIENTE (SM pág. 21)
Parece sonho, mas é realidade. A Reserva Ecológica Mamirauá existe. Mesmo.
DEBATE (SM pág. 25)
AVC: um RX da situação epidemiológica e condutas no atendimento do paciente, no Brasil
COM A PALAVRA (SM pág. 32)
Humanização da Medicina. Idéia atual? Não senhor! Já estava bem presente no passado...
GOURMET (SM pág. 39)
Prepare sua mesa. Você não vai conseguir resistir a esta receita...
TURISMO (SM pág. 42)
Ah... esse deserto você precisa conhecer. É ali, no Maranhão! Acompanhe o texto, veja as fotos!
LIVRO DE CABECEIRA (SM pág. 47)
Às margens do Sena, junto a Maison De La Radio... você já ouviu esse bordão?
POESIA (SM pág. 48)
Toda a emoção de um trecho de Entre o que Vejo e o que Digo, do poeta mexicano Octavio Paz
GALERIA DE FOTOS
MEIO AMBIENTE (SM pág. 21)
Parece sonho, mas é realidade. A Reserva Ecológica Mamirauá existe. Mesmo.
Floresta com futuro
Reserva de Desenvolvimento Sustentável alia preservação e melhoria de vida dos nativos à pesquisa científica
Conciliar a preservação da natureza à melhoria da qualidade de vida dos habitantes foi o que motivou a criação da Reserva Ecológica Mamirauá, localizada em Tefé, no Amazonas. Com uma área de 11.240 km2, sua criação, em 1986, chegou a esbarrar na proibição de permanência da população. Porém, em nenhum momento do longo processo de negociação os habitantes do lugar foram removidos da área, pois é justamente a presença dos nativos que garante a preservação do local e sua sustentabilidade.
Morador processando farinha de mandioca
Segundo a antropóloga e diretora geral do Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá (IDSM), Ana Rita Alves, a aproximação com a população local foi lenta e enfrentou resistências daqueles que tinham interesses econômicos na área. “Esses exploradores, geralmente com bastante influência política, chegaram a fazer uso de canais de televisão e de rádio para convencer os nativos de que os biólogos e pesquisadores eram intrusos que levariam os produtos da floresta a outros países. Mais tarde, com o esclarecimento das comunidades, o caminho para a implantação dos projetos idealizados se abriu”, diz.
Comunidade da Reserva de Mamirauá
Classificada inicialmente como Reserva Ecológica Mamirauá, após a criação de normas para esse tipo de programa passou à categoria de Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) – modelo ambiental originado em 1996 e incorporado ao Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC) em 2000. “Tivemos que elaborar programas de educação ambiental, saúde e de alternativas econômicas para que a comunidade produzisse, vendesse e tivesse como adquirir bens e mantimentos sem deteriorar o meio ambiente”, explica Ana Rita.
A pesca é uma das principais formas de subsistência na reserva
A antropóloga conta que atividades já desenvolvidas na região, como pesca, exploração madeireira, agricultura e artesanato, assim como ecoturismo e exploração de produtos florestais não madeireiros foram reestruturadas. “O instituto combinou um sistema de zoneamento de áreas de uso para cada atividade, baseado em pesquisa científica, conhecimento do local, gestão participativa e implantação de alternativas econômicas”.
As comunidades participam ativamente das ações desenvolvidas. “Agentes ambientais mirins aprendem a cuidar do lixo, respeitar a floresta e os animais. As populações ribeirinhas domesticam animais selvagens; então mostramos a eles a importância de deixá-los viver na floresta. Esses agentes recebem cursos e reproduzem o que aprendem em casa com a família”, revela Ana Rita. O efeito multiplicador desses agentes ajuda a disseminar a noção de que é necessário preservar o meio ambiente para as próximas gerações.
Macaco uacari branco
O Mamirauá conta com 25 cientistas, além de pesquisadores-visitantes de diversas universidades e institutos brasileiros, e do exterior. O acervo do instituto é mantido dentro do INPA (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia), em Manaus. As atividades são viabilizadas a partir de um contrato com o Ministério da Ciência e Tecnologia, que garante 58% dos recursos financeiros. Registrada como uma associação civil privada e sem fins lucrativos, a instituição conta ainda com o financiamento da Petrobrás e de entidades internacionais, como a Wildlife Conservation Society (WCS) – ligada ao zoológico de Nova Iorque; Fundação Gordon Moore dos EUA; e Zoológico de Londres.
Além de Mamirauá, o IDSM é responsável pela gestão de outra reserva estadual, a Amanã. Juntas, elas totalizam 34.740 km2 de florestas alagáveis – várzea e igapó – e de terra firme. A RDS Mamirauá é considerada uma área alagada de importância internacional e inscrita como um dos sítios brasileiros da Convenção Ramsar, das Nações Unidas – que protege áreas alagáveis em todo o mundo. A Reserva de Amanã liga a de Mamirauá ao Parque Nacional do Jaú. As três unidades formam um bloco de floresta tropical oficialmente protegido com cerca de 65.000 km2.
Os resultados são visíveis. “O ambiente está sendo conservado, as populações têm uma melhor qualidade de vida, o índice de mortalidade infantil diminuiu, as crianças estão melhor alimentadas, e, com a possibilidade de ampliação da renda, existe a chance de aumentar a escolaridade dos filhos”, destaca Ana. No modelo de Mamirauá o que é arrecadado é aplicado nas próprias comunidades. “Nós já ganhamos alguns prêmios concedidos por instituições conceituadas, como o de melhor programa de ecoturismo no Brasil. A partir do trabalho de Mamirauá, já foram criadas RDSs em outros Estados do Brasil e até no exterior”.
Origem das RDSs
O primeiro projeto de reserva ambiental sustentável começou a ser colocado em prática no Brasil a partir de uma solicitação, em 1985, do biólogo e primatologista José Márcio Ayres, e do fotógrafo Luis Cláudio Marigo, à Secretaria Especial de Meio Ambiente (Sema) do Governo Federal. Ambos queriam criar uma área de proteção ao macaco uacari-branco – que era estudado por Ayres – e propuseram a criação da Reserva de Mamirauá.
(Colaborou Gustavo Tristão)
Fotos: Marcos Amend