CAPA
EDITORIAL
Destaque p/reportagem especial sobre o longo e penoso processo de aposentadoria dos médicos
ENTREVISTA
Nesta edição, Giovanni Guido Cerri fala sobre sua experiência à frente da FMUSP
CRÔNICA
O escritor Ruy Castro nos brinda com seu texto divertido e inteligente, sua marca registrada
SINTONIA
Polêmico, o apelo ao consumo infantil desenfreado na análise de uma especialista no tema...
MEIO AMBIENTE
Mata Atlântica: ainda é possível, sim, salvar o que resta desta floresta
CONJUNTURA
Aposentadoria: depois de anos de (árduo) trabalho, chega - enfim - a dificuldade maior...
DEBATE
Saúde Suplementar: especialistas no assunto avaliam as relações de mercado e a assistência à saúde
HISTÓRIA DA MEDICINA
Você conhece Alcméon de Crotona? Acompanhe a história do avô da Medicina, por José Marques Filho
ESPECIAL CENTRO DE SÃO PAULO 1
A restauração do centro da cidade devolve aos paulistanos a nostalgia dos bons tempos...
ESPECIAL CENTRO DE SÃO PAULO 2
Mercado Municipal: restauro tornou local agradável para passear, fazer compras e almoçar
ESPECIAL CENTRO DE SÃO PAULO 3
Theatro São Pedro aniversaria em plena atividade, com espetáculos de dança, música e dramaturgia
TURISMO
Prepare-se para realizar uma viagem de sonho pelo continente australiano
LIVRO DE CABECEIRA
Cartas da Guerra, de Antonio Lobo Antunes, é a recomendação de nosso delegado em Atibaia
CARTAS & NOTAS
Acompanhe o que os leitores da Ser Médico acham da revista...
POESIA
A poesia da vez é de autoria de Vladimir Mayakoviski
GALERIA DE FOTOS
LIVRO DE CABECEIRA
Cartas da Guerra, de Antonio Lobo Antunes, é a recomendação de nosso delegado em Atibaia
António Lobo Antunes
Escritor e médico português que serviu na África
Compreender a construção do romance em António Lobo Antunes, prêmio Camões 2007, passa obrigatoriamente pela leitura das cartas enviadas à esposa quando serviu na África, como médico, de 1971 a 1973, e publicadas em 2005, com o título D’este viver aqui neste papel descripto - Cartas da guerra.
Entre confissões de amor (Gosto de ti e sobem-me nas pernas/Marés que um lodo triste não cobriu), descrições da crueldade da guerra e da vida miserável vivida pelos africanos (Isto é terrível – e trágico. Todos os dias me comovo e me indigno com o que vejo), mergulhado em leituras e na construção de seu calhamaço (quanto ao calhamaço lá vai coxeando, mal e mal, escreve à esposa de Marimba, em 11.3.72, sobre o romance em que está trabalhando), Lobo Antunes enxerta as linhas mestras que darão um tom inconfundível a sua obra.
Balzac é o grande culpado pela cristalização do romance. E continua-se a escrever histórias como no tempo dele. Num mundo em que tudo evoluiu, a arquictetura, a pintura, a música, escreve o autor em 9.7.71, antecipando para uma desconstrução em seu estilo. O que penso é que as pessoas são loucas, e que é preciso traduzir essa secreta loucura, os saltos de imaginação e de humor, o medo da morte, as coisas inexprimíveis. E deixar de pôr os homens em prateleiras catalogadas.
Portanto, receptivo à crise que atinge a modernidade, do caos e da fragmentação reinantes, insatisfeito com os diálogos, o tudo muito bem contado, ou com a análise psicológica do personagem do romance moderno, o autor pensa a estrutura da prosa como uma espécie de tricot subterrâneo, a correr por baixo da aparência, devendo, o texto, caminhar para um festival das palavras, uma celebração pânica (no sentido grego), uma festa pagã, e os personagens simples vozes que deslizam cantando ou cochichando páginas fora.
A obra de Lobo Antunes rompe com os paradigmas pertencentes ao romance moderno. Ontem não te vi em Babilônia, de 2006, seria outra boa indicação de leitura, depois, é lógico, de Cartas da guerra, ambas da Publicações Dom Quixote, de Lisboa.
Carlos Alberto Pessoa Rosa
Delegado do Cremesp
Atibaia