ARTE NO COQUEIRO

Médico cria técnica de pintura sobre palha e participa de exposição em Londres

Para um médico pediatra atuante, José Ricardo Dias Bertagnon, de 58 anos, tem um invejável currículo como artista. Dez anos depois de iniciar um curso de pintura como hobbie, contabiliza inúmeras exposições, mais de 28 prêmios e até uma medalha de ouro recebida da Assembléia Legislativa paulista. Suas obras tornaram-se conhecidas depois que ele passou a desenvolver uma técnica própria e a representar a cidade de Bertioga no Mapa Cultural de São Paulo – evento bienal que reúne obras de artistas do Estado. Dos mais de 200 quadros que já produziu, a maioria foi vendida, doada ou presenteada.

Há quatro anos, o pediatra começou a desenvolver uma nova técnica de pintura sobre fibra de coqueiro, de apurado resultado estético, que vem rendendo cada vez mais reconhecimento, até mesmo fora do Brasil. Atualmente, tem seis obras expostas na Galeria Chrysalis em Londres. O quadro intitulado “Figuras Humanas”, foi vendido logo ao chegar à galeria londrina. 

Também entre as obras de destaque, fez, sob encomenda, uma mala para a exposição “Viajando São Paulo por 450 malas”, realizada no Sesc Pompéia, no primeiro semestre de 2004, em comemoração aos 450 anos da cidade.

Bertagnon esteriliza as peças de palha de coqueiro por um processo de fervura, colocando-as entre duas pranchas por 12 horas para secagem. Depois disso, seleciona as mais adequadas e cola umas às outras sobre uma tela convencional. Um tanto aleatória, a pintura do artista nasce do que ele consegue visualizar como figura a partir das linhas geométricas produzidas pela colagem dos retalhos. Uma vez definida a imagem, começa a pintar –  com óleo ou tinta acrílica. Segundo o pediatra, quando devidamente tratada e livre de fungos, a palha torna-se um material duradouro e resistente à umidade e às temperaturas quente ou fria. Mas, no começo ele enfrentou dificuldades para ter o trabalho reconhecido como arte, porque a palha de coqueiro era considerada material não durável.

Formado em 1971 pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), Bertagnon tem uma intensa rotina de trabalho. De segunda à quinta-feira atende em consultório particular e em ambulatório da Prefeitura de São Paulo, além de atuar como professor do Departamento de Neonatologia na Universidade de Santo Amaro (Unisa). Nos fins de semana, atende em seu ambulatório da prefeitura de Bertioga. Dedica as noites de sábado e domingo à pintura, no ateliê que mantém em Bertioga e, ocasionalmente, pinta no consultório em São Paulo. Casado há 30 anos e com dois filhos adultos, ainda encontra tempo para cantar no coral da cidade litorânea.

Colaborou Vanessa Miano