CAPA
PONTO DE PARTIDA
Editorial, com Isac Jorge Filho
ENTREVISTA
Nosso convidado é Diego Gracia, um dos papas da Bioética na Europa
CRÔNICA
Acompanhe texto bem-humorado de Tufik Bauab, médico radiologista
CONJUNTURA
Uma análise da história da hanseníase no país
BIOÉTICA
A situação sombria das mulheres indianas
MÉDICAS EM FOCO
Marilza Rudge e Mary Ângela Parpinelli contam suas trajetórias profissionais
DEBATE
A quebra das patentes dos medicamentos no Brasil
FOTOLEGENDA
Harold Pinter, prêmio Nobel de Literatura, e a política externa dos EUA
SINTONIA
Hospital expõe fotos tiradas por crianças e adolescentes internados
LIVRO DE CABECEIRA
Totalidade e Infinito - Emmanuel Lévinas
CULTURA
Faculdade de Medicina da Bahia: 1ª instituição do ensino superior do país
TURISMO
O crescimento - prazeroso - do turismo rural no Brasil
HOBBY DE MÉDICO
Quando a partitura se transforma em instrumento de trabalho...
POESIA
Entre o Sono e o Sonho - Fernando Pessoa
GALERIA DE FOTOS
HOBBY DE MÉDICO
Quando a partitura se transforma em instrumento de trabalho...
Dez prás Onze
Paixão pela música une cinco médicos, um jornalista
e uma especialista em Saúde Pública
Colegas de trabalho há mais de três décadas, Nelson Ibañez, médico, e Selma Patti Spinelli, formada em Ciências Sociais e Saúde Pública, ambos professores da Faculdade de Medicina da Santa Casa de São Paulo, iniciaram a parceria quando davam aulas no curso de graduação. “Nos intervalos das aulas, trocávamos figurinhas sobre música e Nelson mostrava suas composições”, lembra Selma. Mais tarde, os estudantes da Faculdade e hoje médicos Osvaldo Cudizio, Arthur Goldfeber, Paulo Carrara e Antônio Antonietto (ausente no ensaio acompanhado pela Ser Médico) juntaram-se aos professores Nelson e Selma, e passaram a trocar experiências musicais.
A primeira tentativa de criar uma banda aconteceu em 1991, mas durou poucos meses, devido à vida agitada de todos. Em 2003, Ibañez e Carrara, decidiram “convocar” os amigos e retomar os ensaios. Assim, nasceu o conjunto Dez prás Onze. “O primeiro nome era Ensaio, pois sempre que perguntavam, respondíamos ‘ainda é só ensaio’. Achávamos que não iria além da primeira apresentação, que aconteceu no Butantã e, por isso, deixamos esse nome; mas como a idéia vingou, era preciso batizar o conjunto”, recorda Ibañez.
Em uma discussão acalorada sobre o novo nome, um dos integrantes disse, na tentativa de encerrar a conversa: “já são dez para as onze”. Daí, nasceu o nome. Este também é o horário do término dos ensaios. “Acho que é um relógio biológico”, acrescenta Edson Mendes de Almeida, jornalista que, desde o final de 2005, é integrante do grupo. A música oficial para encerramento do ensaio é sempre “Trem das Onze”, de Adoniran Barbosa, um ícone para o grupo.
Os ensaios acontecem sempre às segundas-feiras na casa de Ibañez. “É uma alegria saber que a cada semana vou encontrar os amigos, em meio a tantas atribuições do cotidiano. É uma descontração, mas levamos o ensaio a sério”, afirma Ibañez. Violonista e compositor, ele diz ter como fonte de inspiração o cotidiano médico. Nas horas vagas os integrantes do grupo pesquisam arranjos, letras, histórias e tudo o que possa enriquecer o repertório.
“O exercício da Medicina inspira crônicas”, diz Ibañez. “A tensão de lidar com a vida e com a morte precisa ser aliviada”, emenda Edson. “A música é muito mais barata que terapia”, completa o clínico geral Antonietto. Segundo Mendes, a organização dos ensaios é herança da formação médica: “Acho que a primeira matéria que eles aprendem na faculdade de Medicina é como organizar o tempo”, comenta. A tese defendida por Cudizio é que a música influencia a prática médica: “A música me trouxe mais sensibilidade, paciência para escutar o paciente e concentração em meu consultório”.
Ritmo e influências
O Dez prás Onze faz música popular brasileira, com forte influência da década de 60. Tocam muitos sambas tradicionais, choro, músicas de Noel Rosa, Geraldo Pereira, Adorinan Barbosa e Paulinho da Viola, entre outros. O público que acompanha o conjunto é formado por amigos, familiares e colegas de profissão. Cada apresentação tem repertório único, mas já há uma lista das mais pedidas: Jura, de Sinhô; e Noites Cariocas, de Paulo Vanzolini.
Dentre os integrantes, alguns se dedicam à música desde a adolescência. Selma, a vocalista, estudou piano e violão. Goldfeber toca violão de sete cordas, enquanto o médico homeopata Cudizio estudou violão, toca flauta e cavaquinho e já cantou no coral da Santa Casa. Autodidatas, Ibañez, diretor do Instituto Butantã, e Antonietto, delegado do Cremesp e gerente de pacientes externos do Hospital Sírio Libanês, também tocam violão. A percussão fica por conta de Carrara e Mendes, que ajudam a garantir o ritmo contagiante da banda.
As famílias integram a aventura musical, seja por meio de críticas, sugestões e até participações especiais. Por exemplo, Pablo Ibañez, filho de Nelson, sempre que pode se apresenta com o grupo, tocando cavaquinho. O bom humor é a marca registrada dos ensaios e das apresentações. Às gargalhadas, Nelson revela que Selma sempre ensaia corretamente as músicas, mas não raro troca as letras na hora da apresentação. Cudizio revida a maledicência do amigo, lembrando que já livrou Nelson de cair em pleno palco, oferecendo o joelho para que ele se apoiasse. A banda, que já se apresentou no Instituto Butantã, em clubes da periferia, na cidade de Cotia e no restaurante italiano Buttina, em São Paulo, sonha em gravar um CD. “Já está na hora de registrar tudo isso. Somos amadores, mas levamos a música a sério”.
Colaborou: Fernanda Ubatuba