CAPA
EDITORIAL
Ponto de Partida
ENTREVISTA
Esmeralda Ortiz
CRÔNICA
Ruy Castro*
SINTONIA 1
Reutillização de Descartáveis
SINTONIA 2
Entre Paris e a roça
CONJUNTURA
Anabolizanres: perfil do usuário
POLÍTICA DE SAÚDE
Crise de Identidade na Saúde
EM FOCO
Arte nos hospitais
HISTÓRIA DA MEDICINA
A globalização das epidemias
CULTURA
Lasar Segall
LIVRO DE CABECEIRA
Moacyr Scliar e Renato Nalini
TURISMO
São Francisco do Sul
CARTAS & NOTAS
Destaque para nova gestão Cremesp e referências bibliográficas consultadas
CREMESP EM FOCO
Flamínio Fávero
POESIA
Trecho de "A Máquina Fotográfica"
GALERIA DE FOTOS
TURISMO
São Francisco do Sul
São Francisco do Sul: muito mais que história
João Prudente*
A pequena São Francisco do Sul, no litoral catarinense, encanta quem a conhece. Descoberta por franceses e colonizada por portugueses, está sendo redescoberta por turistas do Brasil e do exterior. É uma boa pedida para quem busca diversão, belas praias e, claro, muita história.
As fachadas coloridas dos sobrados no centro histórico de São Francisco do Sul, de influência açoriana, remetem o visitante ao Brasil Colônia. A cidade, na verdade, uma ilha, a terceira mais antiga do Brasil, que só perde para Porto Seguro e São Vicente, surpreende por sua rica cultura, receptividade dos moradores e excelente gastronomia. A ilha, no litoral norte de Santa Catarina, tem 32 mil habitantes e 30 quilômetros de costa. Está a 188 quilômetros de Florianópolis, 180 de Curitiba e 520 de São Paulo. Desde 1986 é considerada Patrimônio Histórico Nacional.
A cidade também integra o Programa Monumenta, do Ministério da Cultura - um projeto de recuperação e valorização do patrimônio histórico nacional desenvolvido em 26 cidades do país. As fotos das edificações que ilustram esta matéria foram feitas por Cristiano Mascaro - um dos grandes expoentes da fotografia brasileira - especialmente para o Programa Monumenta.
São Francisco do Sul é alto astral o tempo todo. Nas ruas de paralelepípedos, há um quê de romantismo e saudosismo. Seus trapiches, decks e belvederes (mirantes) criam um ambiente mágico.
Para quem chega à cidade de carro, o melhor é deixá-lo estacionado próximo ao centro histórico e percorrer as ruas e vielas a pé. No caminho, o visitante encontrará o pequeno porto; a igreja Nossa Senhora da Graça, conhecerá o artesanato local e o Mercado Municipal, centro comercial da ilha por anos a fio. Vale a pena parar nas cariocas, denominação indígena para as "bicas d´água" que abasteciam a antiga Vila. Das cinco do passado, hoje restam apenas três, nas ruas Marcílio Dias, Coronel Oliveira - que mantém sua construção original - e a da Benjamim Constant, revestida de azulejos portugueses. As águas cristalinas e geladas são consumidas pelos turistas e moradores da cidade.
A Igreja Nossa Senhora da Graça, em estilo veneziano, é peculiar. A construção, que foi iniciada em 1699 pelas mãos de escravos e da comunidade, tem uma argamassa composta de óleo de baleia, cal de concha e areia.
O prédio do Museu Histórico, também na rua Coronel Oliveira, é uma das mais antigas edificações da ilha, construído no final do século XVIII. No período da Guerra do Contestado serviu como prisão de líderes revolucionários. No acervo do museu destaca-se um carro fúnebre do início do século, além dos moinhos de cana e mandioca expostos no pátio. Entre as tradições culturais e folclóricas estão as danças do Boi-de-Mamão, cujas festas acontecem a partir do natal, estendendo-se até o Carnaval, e a Dança do Vilão, apresentadas nas festas da cidade. A Festa do Camarão e a Festilha (Festa das Tradições da Ilha), que acontecem em abril, fazem a cidade fervilhar.
Barcos e farol
Logo na entrada da Barra de São Francisco está o arquipélago da Graça, com diversas ilhas, sendo que a principal, a da Paz, abriga um farol que orienta navegadores desde 1905.
Passear de barco e conhecer um pouco das mais de vinte ilhas e praias de beleza exuberante é um programa indispensável nessa parte do litoral catarinense. Alguns recantos tranqüilos são banhados pelas águas da Babitonga, a principal baía da região. Muitas ilhas possuem infra-estrutura completa para receber os turistas. O Balneário de Paulas, por exemplo, de águas calmas, rica em peixes e mariscos, tem quatro praias: dos Ingleses, da Figueira, do Salão e do Calixto. O Balneário de Capri, numa área que abrange duas praias de águas cristalinas e calmas, está a 18 quilômetros do centro histórico. Lá, pode-se visitar as ruínas de um antigo leprosário, onde eram abandonados marinheiros e pessoas acometidas pela doença.
Na alta temporada a agitação corre solta nas areias da Praia de Enseada, palco de eventos culturais e esportivos. A Praia do Molhe é a preferida dos praticantes de esportes náuticos, surf e bodyboard, com muitos bares, hotéis e restaurantes com cozinha típica caiçara.
A Praia da Saudade (ou Prainha) é uma das mais bonitas e a Praia Grande, muito bem preservada, é muito procurada por naturistas, pescadores e surfistas. As praias de Itaguaçu, entre o Morro João Dias e o Balneário de Ubatuba, complementam o passeio.
Na parte continental do município há recantos de rara beleza e sossego. O Distrito do Saí, formado pelo Torno dos Pintos, Estaleiro e Vila da Glória, é uma região ecológica com vestígios da passagem dos franceses pela costa catarinense. Foi lá que fundaram, em 1842, o Falanstério do Saí, comunidade de produção, seguidora das doutrinas de François-Marie Charles Fourier, predecessor do socialismo no mundo moderno. No alto do Morro do Pão de Açúcar, a 150 metros de altura, tem se uma vista panorâmica da Ilha e do Porto de Paranaguá, no litoral do Paraná. O cume é acessível por caminhada, em meio à mata nativa. Na Praia do Forte, a cerca de 18 quilômetros da cidade, o Forte Marechal Luz tem um acervo de peças antigas de artilharia e um mirante com vista para a ilha da Paz (ou do Farol).
Museu Nacional do Mar
Menina dos olhos de São Francisco, o Museu Nacional do Mar, inaugurado em 1992, é único na América Latina. É lá que se pode ver a maior coleção de canoas do Brasil, de rústicas a sofisticadas, à vela, remo ou motor, baleeiras, saveiros, bianas, botes, bateiras e as enormes jangadas do Maranhão. Na sala dedicada ao navegador brasileiro Amyr Klink está exposto o famoso "Paraty", barco a remo utilizado na travessia do Atlântico, além de equipamentos usados por ele em expedições.
Há também uma grande coleção de barcos em miniatura, muitos feitos por presidiários. Em uma cúpula de vidro, está o L'Espoir em miniatura, o primeiro navio francês a chegar na região. Estão expostas as obras de Conny Baugarten, um dos mais completos artesãos do gênero no Brasil. De cabelos e barbas brancas, Baugarten é um dos primeiros colaboradores do Museu do Mar, que tem uma sala de trabalho no local onde desenvolve uma maquete do centro histórico da cidade, com mais de 300 prédios, praças e ruas.
Museu Nacional do Mar: sábados, domingos e feriados das 11 às 18 horas. No verão, de segunda à sexta-feira, das 9 às 18:30. No inverno, de terça à sexta, das 9 às 18 horas. Ingressos à R$ 3,00 para adultos e 1,00 para crianças de 7 a 12 anos e adultos acima de 65 anos.
"Ó mar salgado, quanto do teu sal
são lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!
Quantas noivas ficaram por casar
para que fosses nosso, ó mar!
Valeu a pena? Tudo vale a pena
se a alma não é pequena.
Quem quer passar além do Bojador
tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
mas nele é que espelhou o céu."
Fernando Pessoa (Exposta na entrada do Museu do Mar)
Vinte luas
Em 1504, os franceses montaram uma expedição, conhecida como a Expedição de Gonneville, e chegaram à região de São Francisco do Sul. Essa expedição, financiada por comerciantes da Normandia, norte da França, partiu do Porto de Honfleur em 24 de julho de 1503. Com o objetivo de encontrar as "belas riquezas das Índias", a expedição desceu o Atlântico, ao largo da África, mas a nau "L'Espoir" perdeu-se e aportou, em janeiro de 1504, em "terras estranhas" e que, hoje se sabe, era precisamente São Francisco do Sul.
Conta-se que, durante seis meses, a tripulação do "L'Espoir" conviveu amistosamente com os índios Carijós, primeiros habitantes da região. Na volta para a França, levaram Iça-Mirim, filho do cacique Arosca para aprender o uso da artilharia, prometendo, de pés juntos, que o devolveriam em 20 luas. Até hoje não voltou. Diz a lenda que por lá casou-se com a filha do capitão e teve 14 filhos.
Nossa Senhora da Graça foi o primeiro nome de São Francisco do Sul. A cidade foi povoada somente a partir de 1641. Seus primeiros habitantes vieram de São Vicente, a pedido do rei de Portugal, para estender os domínios brasileiros até o Rio da Prata. A fundação da Vila de São Francisco do Sul iniciou-se com o colonizador Manoel Lourenço de Andrade que, além de sua família, levou para o lugar uma grande quantidade de escravos, animais domésticos, muitos instrumentos agrícolas e ferramentas para exploração de minas.
Dicas
1) Onde ficar
Bristol Villa Real - praia/esportes náuticos - (47) 444-2010;
Pousada Zibamba - centro histórico - (47) 444-2020
Pousada Villa da Glória (47) 492-1001 - acesso por balsa.
Pousada das Ilhas (47) 449-5120 acesso por balsa.
Pousada do Sol (47) 442-2143.
2) Onde comer
A maioria dos restaurantes do centro trabalha como buffet ou por quilo.
Restaurantes à base de pescados e mais sofisticados, como Mocó Garoupa e Nazareno, ficam fora do centro.
3) Informações Turísticas: (47) 444-5380
*João Prudente é jornalista e fotógrafo
(Foto: Cristiano Mascaro)