CAPA
PÁGINA 1
Nesta edição
PÁGINAS 4,5
Cartas e notas
PÁGINAS 6, 7, 8, 9, 10 E 11
Entrevista
PÁGINAS 12 E 13
Crônica
PÁGINAS 14, 15, 16, 17
História
18, 19, 20, 21
Panorama
PÁGINAS 22, 23, 24 E 25
Em foco
PÁGINAS 26,27,28 E 29
Vanguarda
PÁGINAS 30 E 31
Tecnologia
PÁGINAS 32 E 33
Medicina no mundo
PÁGINAS 34, 35 E 36
Opinião
PÁGINA 37
Resenha
PÁGINAS 38 E 39
Hobby
PÁGINAS 40,41,42 E 43
Turismo
PÁGINAS 44,45,46 E 47
Agenda cultural
PÁGINA 48
Fotopoesia
GALERIA DE FOTOS
PÁGINAS 32 E 33
Medicina no mundo
Janeiro Roxo
Moléstia de Hansen
Por Leontina C. Margarido*
A Moléstia de Hansen (MH), também conhecida como lepra, é infecto-contagiosa, de evolução crônica, altamente incapacitante, causada pelo bacilo de Hansen Mycobacterium leprae (Ml), descrito por Gerhard Hansen, em 1873. A doença foi citada no Egito antigo, em 3.000 a.C, e persiste ainda hoje, podendo acometer ricos e pobres. O Ml invade, inicialmente, a célula de Schwann do sistema nervoso periférico (SNP); depois, o sistema linfático, vascular; e, a seguir, a pele (grupo não contagiante, paucibacilar). Após meses ou anos, desencadeia perda sensitiva e motora.
A maioria dos doentes brasileiros, contudo, apresenta a forma contagiante (multibacilar), que também compromete outros órgãos e sistemas, exceto o sistema nervoso central. Nas fases tardias, o doente tem incapacidades físicas, inestéticas e funcionais, especialmente na face, olhos (espessamento nervoso, conjuntivite, glaucoma), nariz (rinite, sangramentos), boca, membros (neurites periféricas, amiotrofias, garras nas mãos, úlceras, artrites), hepatoesplenomegalia, vasculites, orquiepididimite, azoospermia, aborto ou natimorto, recém-nascidos de baixo peso, artrite de pequenas e médias articulações e nefropatia. Portanto, todas especialidades médicas deveriam estar capacitadas para a diagnose precoce.
A Organização Mundial da Saúde (OMS), em 2004, cita o Brasil como o país mais endêmico, pois mais de 60% dos doentes são contagiantes; o diagnóstico é tardio, já com incapacidade física; há déficit na adesão ao tratamento e aumento da resistência medicamentosa. Além disso, faltam treinamentos de equipes de saúde (assistenciais e de ensino) e conscientização da população.
Torna-se fundamental qualificar equipes de atenção básica, pois MH tem cura e não deixa sequelas quando diagnosticada e tratada na fase inicial. O tratamento é ambulatorial, com antibióticos, fornecidos pelo SUS, aliados a medidas fisioterápicas preventivas ou reabilitadoras das incapacidades, e tratamento específico de eventuais complicações.
Hanseníase e HIV-Aids
Estudamos, no Hospital das Clínicas da FMUSP, a associação entre HIV-Aids e MH1. Concluímos que, provavelmente, a infecção pelo HIV pode reduzir o período de incubação dos bacilos e, assim, nos imunodeprimidos, a doença evolui mais rápido. Já a sorologia do HIV não se altera pela moléstia de Hansen e suas reações. Os doentes com MH paucibacilar, adequadamente tratados, não apresentam recidiva da MH, após a instalação da aids. Porém, doentes com história de tratamento prévio para MH multibacilar deveriam receber, quando se tornam imunodeprimidos (por exemplo, por aids) novo esquema de multidrogaterapia para MH, com objetivo de prevenir recidiva. As manifestações cutâneas da MH multibacilar, por sua vez, não são mais exuberantes em imunodeprimidos, uma vez que esses pacientes já haviam atingido o grau de anergia contra o bacilo. Contudo, a hanseníase e o vírus do HIV são neurotrópicos, e a associação destas duas moléstias pode ser desastrosa para o doente, pois, além da infiltração específica do nervo periférico pelo Ml, pode ocorrer vasculite necrotizante pelo HIV (no SNP e no sistema nervoso central).
* Médica, professora doutora, dermatologista e hansenologista, delegada da APM,
membro da Academia de Medicina de SP e da Câmara Técnica de Dermatologia do
Cremesp
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VACINA ANTIGA, PORÉM SEGURA
Uma das doenças mais devastadoras da história da humanidade – só no século 20 matou quase 500 milhões de pessoas –, a varíola foi considerada erradicada pela OMS nos anos 1980, graças à vacinação, marco da Medicina que reforçou a importância e o sucesso da imunização em massa. Ainda assim, alguns países decidiram guardar vacinas contra a doença, temendo reintrodução acidental ou intencional. O vírus continua armazenado em laboratórios do Centro de Controle de Doenças (CDC), nos EUA, e Instituto Vector, Rússia.
Ainda que bem sucedida, a vacina tradicional (ACAM2000) pode resultar em efeitos tóxicos e graves em pacientes imunodeprimidos ou com problemas de pele. Isso motivou estudo em fase III sobre eficácia Modified Vaccinia Ankara (MVA), criada nos anos 1970, e que usa uma cepa altamente atenuada do vírus vaccinia potencialmente segura –, publicado na New England Journal of Medicine (NEJM).
Cerca de 440 militares americanos baseados na Coréia do Sul foram randomizados em dois grupos: o primeiro recebeu duas doses de MVA, seguidas de uma de ACAM 2000; o outro, apenas ACAM 2000. Objetivo: verificar o pico sérico de anticorpos neutralizantes após as aplicações, e a extensão da lesão pósvacinal, que marca a resposta imune, em ambos os grupos.
Segundo o estudo, o pico do anticorpo neutralizante foi bem maior no grupo MVA em relação ao ACAM 2000. A área máxima da lesão do primeiro foi zero, contra 76.0
mm/s. A taxa de eventos adversos foi maior no grupo ACAM em comparação às duas doses do MVA. Conclusão: a MVA foi mais eficaz em resposta imune, atenuação máxima do vírus, e proteção – o que demonstra melhora no perfil de segurança contra a varíola.
Fonte: New England Journal of Medicine
SELEÇÃO DE EMBRIÕES PARA QI OU ALTURA. FACTÍVEL?
Pesquisadores israelenses usaram dados de estudos genéticos para verificar com que frequência previsões baseadas em DNA se sustentam em indivíduos e simular o que aconteceria se vários pares de pessoas usassem diagnóstico genético pré-implantacional (PGD), auxiliado por escores de riscos poligênicos, para escolher embriões, de forma a maximizar a altura ou o QI de seus filhos.
Porém, existem dilemas bioéticos e temores em torno da possibilidade de programarem-se bebês a partir de opções por sexo, cor de cabelo, olhos etc.
Segundo a equipe, se os médicos tivessem dez embriões disponíveis por casal, a seleção resultaria em um ganho de cerca de três pontos de QI, em comparação à média dos embriões. “Para a maioria das pessoas, isso não é muito", salienta o coautor Shai Carmi.
O grupo também analisou dados genéticos de 28 famílias com grande número de crianças, e observou que apenas sete delas eram mais altas que a prevista por um escore de risco poligênico. Para Susanne Haga, da Universidade de Duke, aspectos como altura e inteligência são influenciados por vários fatores além do DNA, como dieta e exposição à poluição.
Fonte: The Scientist
RESPOSTA CELULAR AO OXIGÊNIO E O NOBEL DE MEDICINA
Como as células sentem e se adaptam à disponibilidade de oxigênio? William G. Kaelin Jr, de Harvard, e Gregg L. Semenza, da Johns Hopkins, ambos norte-americanos, e Peter J. Ratcliffe, de Oxford, Reino Unido, dedicaram-se, desde a década de 1990, a responder tal fenômeno, identificando os mecanismos moleculares que permitem às células responder às mudanças nos níveis de oxigênio, desde a adaptação do organismo às altas altitudes, até implicações em doenças nas quais o oxigênio é escasso – como anemia, ataques cardíacos e derrames –; ou utilizado para “alimentar” certas células cancerígenas.
Ao estabelecerem, em pesquisas individuais, a resposta à hipóxia das células, os três médicos compartilharam o Nobel de Medicina ou Fisiologia de 2019, anunciado no início de outubro. “Tais descobertas seminais revelaram o mecanismo para um dos processos adaptativos mais essenciais da vida”, salientou o comunicado do comitê responsável pelo prêmio do Instituto Karolinska, na Suécia.
Desde o século 20, a ciência já sabia que o corpo regula a atividade metabólica das células para se adaptar às variações de oxigênio disponível. O trabalho do trio teve como foco, entre outros, a eritropoietina (ou EPO), hormônio que estimula a produção de glóbulos vermelhos que transportam o oxigênio, e os hypoxia-inducible factors (HIF), moléculas que sinalizam a resposta a reduções no oxigênio disponível no ambiente celular.
Fontes: site do Instituto Karolinska e The New York Times
1: Dr_microbe/Istock