CAPA
PÁGINA 1
Nesta edição
PÁGINAS 4 E 5
Cartas e notas
PÁGINAS 6,7,8,9,10 E 11
Entrevista
PÁGINAS 12 E 13
Crônica
PÁGINAS 14, 15, 16 E 17
Dossiê Acupuntura: uma breve história
PÁGINA 18
Dossiê acupuntura relato de caso
PÁGINAS 19,20,21,22,23
Dossiê acupuntura: panorama
PÁGINAS 24, 25, 26 E 27
Dossiê acupuntura em foco
PÁGINAS 28 E 29
Dossie Acupuntura: Vanguarda
PÁGINAS 30 E 31
Tecnologia
PÁGINAS 32 E 33
Medicina no mundo
Páginas 34 e 35
Opinião
páginas 36,37 e 38
Hobby
PÁGINAS 39,40,41 E 42
Gourmet
PÁGINAS 43,44,45 E 46
Agenda Cultural
PÁGINA 47
Resenha
PÁGINA 48
Fotopoesia
GALERIA DE FOTOS
PÁGINAS 14, 15, 16 E 17
Dossiê Acupuntura: uma breve história
Acupuntura: uma breve história
Por Hong Jin Pai*
As origens da Acupuntura perdem-se no tempo. Evidências arqueológicas permitem supor que a técnica era praticada na Ásia, mais especificamente na China, há mais de cinco mil anos. Na medicina tradicional chinesa (MTC), mestres antigos ensinavam ser a doença uma alteração das funções do corpo ou desgaste deste, provocado por fatores externos, como frio, calor, umidade, fatores emocionais, nutricionais ou envelhecimento. Por meio da MTC, seria possível a promoção da saúde.
NA CHINA
A história da MTC registra períodos em que a acupuntura atingiu um considerável desenvolvimento, assim como outros em que permaneceu estacionária. Durante a dinastia Tang (618-907 d.C.), ganhou grande destaque, com a fundação do Colégio Imperial de Medicina, onde se formaram, oficialmente, os primeiros médicos acupunturistas.
Aproximadamente duzentos anos após, durante a dinastia Song (960-1279), foi construída uma estátua em bronze representando um homem – oca e de tamanho natural –, que continha, em seu interior, réplicas dos órgãos. Havia, na superfície, os pontos de acupuntura perfurados nos trajetos dos meridianos. Esse modelo, conhecido como “O Homem de Bronze”, era utilizado no ensino e treino dos estudantes. Para tanto, cobria-se a superfície deste com cera negra e enchia-se o modelo com água. O aluno deveria introduzir uma agulha, deixando verter a água, caso atingisse corretamente o ponto indicado. Esse inovador método de ensino permitiu um considerável desenvolvimento da técnica.
No decorrer de quase três séculos (1644 - 1911), registra-se o declínio paulatino da acupuntura, que se inicia com a exclusão do seu ensino nas universidades. Simultaneamente, a influência da medicina ocidental amplia-se e acentua-se no século 19.
Com a crescente aceitação da medicina ocidental no início do século 20, a acupuntura chegou a ser proibida, junto com outras formas de MTC. Após a instalação do governo comunista, em 1949, sua prática foi restabelecida, possivelmente por motivos nacionalistas, mas também como o único meio de fornecer níveis básicos de saúde em massa à população.
Institutos de pesquisa de MTC foram estabelecidos em toda a China, e o tratamento tornou-se disponível em departamentos separados, nos hospitais de estilo ocidental. No mesmo período, buscou-se uma explicação mais científica da Acupuntura, iniciando-se pesquisas inovadoras sobre a liberação de neurotransmissores, particularmente peptídeos opioides, por meio do tratamento.
NO MUNDO
A disseminação da Acupuntura para outros países ocorreu em vários momentos e por diferentes rotas. No século 6, a Coreia e o Japão assimilaram a prática da acupuntura e as ervas chinesas em seus sistemas médicos.
No Ocidente, a França adotou o tratamento antes de outros países. Os missionários jesuítas trouxeram pela primeira vez relatos de acupuntura no século 16. Na primeira
metade do século 19, houve uma onda de interesse na América e na Inglaterra, e publicações apareceram na literatura científica, incluindo um editorial da Lancet
intitulado "Acupunctura". Em 1971, um jornalista norte-americano recebeu acupuntura durante a recuperação de uma apendicectomia de emergência na China, que ele estava visitando por ocasião da visita do presidente Richard Nixon. Ele descreveu a experiência no New York Times, o que gerou um aumento da curiosidade do Ocidente em relação ao tratamento. A acupuntura, atingiu seu atual nível de aceitabilidade nos EUA quando uma conferência de consenso do National Institutes of Health (NIH) relatou, em 1997, que havia evidências positivas de sua eficácia.
NO BRASIL
No Brasil, a Acupuntura foi considerada uma especialidade médica pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) em 1995 e, pela Associação Médica Brasileira (AMB), em 1998, tendo sido realizado logo após o primeiro concurso para o Título de Especialista, no qual mais de 800 médicos foram aprovados. Atualmente, há cerca de 3.600 médicos nessa especialidade no País. Aos poucos, foram criados cerca de 50 cursos de especialização em Acupuntura e 90 serviços de atendimento na rede pública, vinculados ao Sistema Único de Saúde (SUS), patrocinados pelas sociedades médicas ou ligados a hospitais universitários, nos Estados brasileiros.
ACUPUNTURA CONTEMPORÂNEA
As teorias tradicionais da Acupuntura foram contestadas no Ocidente. Conceitos antigos foram substituídos por um modelo neurológico, baseado em evidências
de que as agulhas estimulam terminações nervosas e alteram a função cerebral, particularmente os mecanismos intrínsecos inibidores da dor.
Há várias teorias em relação aos mecanismos de ação, mas poucos dados válidos sobre quais deles são relevantes para a prática clínica. Evidência de eficácia clínica também é satisfatória para muitas patologias, como a dor crônica. Nos últimos anos, revisões sistemáticas forneceram evidências mais confiáveis do valor da acupuntura no tratamento de náusea (de várias causas), dor orofacial, lombalgias e cefaleias.
A crescente procura pela terapia de acupuntura é justificada, de um lado, pela credibilidade desta por parte da população e, de outro, pelo desejo de melhor qualidade de vida, porque o paciente, ao ser tratado com a acupuntura, registra melhora em vários aspectos e, praticamente, sem desagradáveis efeitos adversos.
Entretanto, a quase totalidade dos pacientes desconhece o mecanismo de ação da acupuntura. Alguns só sabem um pouco de sua história, e, outros, que as agulhas são inseridas em alguns lugares do corpo, proporcionando resultados favoráveis. Alguns pacientes recebem as informações por meio de colegas ou de sites que, muitas vezes, limitam-se a divulgar notícias pouco científicas e que, em vez de esclarecer, acabam gerando mais dúvidas.
O progresso da acupuntura e da MTC tem sido constante e notável. Evidências científicas acumulam-se acerca de sua eficácia, e a explicação de seu mecanismo de ação está sendo buscada em muitos centros médicos do mundo, incluindo hospitais universitários na China e em nosso próprio País. Para que se obtenham os melhores resultados, a tendência é, de fato, a inclusão da acupuntura na especialidade do médico, como, por exemplo, a acupuntura aplicada à pediatria, à ortopedia, à ginecologia, e assim por diante. É fundamental a associação dos conceitos da MTC com os da Medicina Ocidental, potencializando assim os resultados positivos almejados pelos pacientes.
*Médico voluntário de Acupuntura do Centro de Dor da Neurologia do HC- FMUSP, professor colaborador do Instituto de Ortopedia e Traumatologia do HC- FMUSP, e Prof. pelo World Federation of Chinese Medicine Societies
Acesse a versão digital da Ser Médico na íntegra.