Últimas Notícias
Ato Médico
Cremesp leva à Polícia Civil e Anvisa farmacêutico que realizou e feriu paciente em procedimento estético
Atualização profissional
Cremesp lança segunda edição do Manual Melhores Práticas Clínicas na Covid-19
Programa Mais Médicos
Fiscalização do Cremesp encontra irregularidades em São Bernardo do Campo
Acreditação de escolas
Cremesp recebe SAEME-CFM para falar sobre qualidade do ensino médico
Notícias
26-07-2017 |
Artigo |
Confira o artigo de Mauro Aranha, ex-presidente do Cremesp, "Palavras ao tempo" |
I. Há cerca de 80 anos, Sérgio Buarque de Holanda, cravou, no entremeio narrativo de “Raízes do Brasil”, a verdade mais profunda e atemporal do homem dessa terra multicentenária e tropical. O “homem cordial”: do latim cordis , mais que afável ou afetuoso, homem que age, também na vida pública, conforme laços e preferências do próprio coração. Destarte, disse o insigne historiador: “um dos efeitos decisivos da supremacia incontestável, absorvente, do núcleo familiar - a esfera, por excelência, dos chamados contatos primários , dos laços de sangue e de coração – está em que as relações que se criam na vida doméstica sempre forneceram o modelo obrigatório de qualquer composição social entre nós. Isso ocorre mesmo onde as instituições democráticas, fundadas em princípios neutros e abstratos, pretendem assentar a sociedade em normas antiparticularistas.”. Mais tarde, o diplomata e escritor Alberto da Costa e Silva arrematou, insofismável e definitivo: “Acentuou-se no Brasil a propensão lusitana para confundir os domínios do privado e do público, este constantemente invadido por aquele. Os valores afetivos impuseram-se sobre os da razão coletiva. E o compadrismo tornou-se norma. Bem como a total ausência de solidariedade e responsabilidade fora dos laços de família. Aí estavam as raízes do atraso brasileiro”. II. Eu, agora, colegas, vos digo. Não falo de hoje, falo de estruturas, as mais imóveis e coesas da Nação. O mais são consequências nefastas: nepotismos, corporativismos, trusts, tráficos de influência, populismos à direita e à esquerda. E corrupção. Patrimonialismo e podridão. Não falo de partidos. Não falo de José, ou de João. Falo de uma sina impregnante cujo avesso é a utopia, a esperança, o trabalho, a construção. Construção de oportunidades (para todos), isonomia, justiça distributiva, políticas afirmativas, compensatórias, desde as iniquidades e vulnerabilidades históricas, ou as de ocasião. Falo de fraternidade: desconstrução de ressentimentos, mágoas, iras, ataques, vinganças, mediante o mútuo reconhecimento dos erros, a promessa cooperativa de acertos e, entre eles, o perdão. Liberdade e igualdade. Entre elas, conforme estruturas, contextos e acontecimentos, a justa e harmoniosa proporção. Falo de um projeto de país. De educação e saúde. O mais, se desdobra em virtude, se houver entre todos boa vontade, esforço e união. Falo de um futuro longínquo. É isso que penso. Se penso, é o que faço. Desculpem-me a teimosia: ou é isso, ou é não. III. Doravante, fico por aqui. Agradeço a todos. Conselheiros, delegados, funcionários. À minha família, pela torcida e concessão. Agradeço ao Lavínio, sua fidelidade e trabalho. Desejo-lhe o sucesso e lhe ofereço cooperação. No mais, deixo a voz do poeta falar: “Sobre o tempo aprendi o tempo de ser presença e passagem. Não pelos carros cruzando avenidas, nem pela morte, ou a infância perdida. Sobre o tempo aprendi o tempo de ser, mais que outrora ou porvir, aqui. E aprendi no poema minha exata medida. Quem o ler compreenda que enquanto escrevo deixo de ser e já não sou na palavra lida". Obrigado. Mauro Aranha 21/07/2017 |