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    20-07-2017

    Artigo

    Isac Jorge Filho, médico e ex-presidente do Cremesp, escreve carta aberta ao ministro da saúde

     

    Carta aberta ao Ministro da Saúde

     

    Senhor Ministro

    O Sr. não poderia conseguir meio mais eficaz para se colocar como inimigo da maioria dos médicos brasileiros do que sua falácia quanto a “médicos que fingem trabalhar”. Apenas escaparão como seus aliados aqueles que sua mensagem atingiu, ou seja, os médicos que fingem que trabalham. Mas, o Sr. vai se decepcionar, eles são pouquíssimos. O MÉDICO BRASILEIRO TRABALHA MUITO!

    É pena que o Sr. chegue a ocupar o Ministério da Saúde e não conheça  como trabalham os médicos de seu país: sem material adequado, agredidos em hospitais e unidades de saúde, assaltados nas unidades mais periféricas, mortos em acidentes ao sair cansados de plantões, contaminados no seu trabalho por falta de equipamentos de proteção. A lista é muito longa, mas ficaremos por aqui.

    Como o Sr. deve saber, de um modo geral, os médicos brasileiros se dirigem para assistência, pesquisa ou docência. Sua equipe certamente tem amplo acesso à mídia e deve saber que estão cada vez piores as condições para trabalho em pesquisa e docência em nosso país. Entre os nossos melhores profissionais, muitos estão saindo do Brasil em busca de condições dignas de trabalho, muitas vezes para terminar pesquisas começadas aqui e interrompidas, não por “fingir que trabalha”, mas por falta de matéria prima, insumos, equipamentos e recursos humanos auxiliares. Esses colegas carregam para o exterior todo o aprendizado de anos e anos, bancados com os recursos saídos, direta ou indiretamente, dos bolsos dos brasileiros. Se pudessem não fariam essa opção. Carregam também a sensação amarga de não conseguir realizar sonhos que envolviam a vida e o futuro em seu país. Sentem, no fundo da alma, a enorme decepção de saber que as autoridades pouco ou nada fizeram para impedir seu exílio, voluntário, mas forçado pelas condições precárias que nossos governos legaram ao Brasil. Sabem, como todos nós, que seu governo dirá que a culpa é do governo anterior, assim como o governo anterior alegava que os culpados estavam nos governos dos antecessores. Já estamos fartos desse joguinho político e cansados de assistir ao mesmo filme de terror, agora acrescido de sua declaração, que atinge toda a classe médica brasileira e mostra sua enorme insensibilidade e seu desconhecimento dos reais problemas que afligem a saúde do Brasil.

    Como o Sr. deveria saber, a situação na área da assistência à saúde pública é ainda pior. Falta de tudo, e não estamos falando de coisas complexas ou altamente tecnológicas. Desde fios e compressas até medicamentos do dia-a-dia. Hospitais, unidades de saúde e mesmo faculdades insistem em tentar conseguir condições mínimas para que os profissionais possam exercer adequadamente seu trabalho. E o Sr. diz que os médicos fingem que trabalham? Nós perguntamos se o Sr. trabalha para resolver nossos problemas de saúde ou finge que trabalha, fazendo declarações de alcance nacional como esta? Sabemos que o Sr. não é da área de saúde e não sente pessoalmente as enormes necessidades desse país doente. É mais fácil, como tem feito a maioria de seus antecessores, colocar a culpa nos médicos, certamente o elo mais frágil na corrente que deve manter um bom sistema de saúde. Primeiro vocês argumentam que faltavam médicos e aumentaram o número de vagas nas faculdades e o número de novas faculdades. Trouxeram médicos do exterior sem passar por exames de qualificação (todos seriam médicos realmente?). Como não deu certo e não querem confessar que o problema não é no trabalho médico, mas na ineficácia de um sistema desequilibrado, querem agora dizer que o problema não é mais no número de médicos, mas no pretenso fato de que os médicos fingem que trabalham. São argumentos pouco mais que infantis, mas seria necessário que a população percebesse esse jogo para que ele fosse desfeito, mas, infelizmente, as mídias de acesso colocadas à disposição das pessoas estão em sua grande maioria comprometidas com as condutas governamentais ou de grandes empresas. Ainda assim, vamos continuar insistindo com a verdade e a verdade é que A GRANDE MAIORIA DOS MÉDICOS BRASILEIROS TRABALHA MUITO, EM MÁS CONDIÇÕES PARA O EXERCÍCIO PROFISSIONAL E NÃO PODE ARCAR COM ESSA ARMAÇÃO, QUE NÃO É NOVA, DE QUERER ENGANAR A POPULAÇÃO COLOCANDO NAS COSTAS DOS MÉDICOS UMA RESPONSABILIDADE QUE NÃO É NOSSA, MAS DE UM SISTEMA BEM PLANEJADO, GERENCIADO POR PESSOAS INCAPAZES DE ENTENDER QUE O BRASIL É UM PAÍS DE MUITAS DOENÇAS, MAS A PRINCIPAL DELAS É A INSENSIBILIDADE POLÍTICA QUE POR TANTOS ANOS AQUELES QUE ESCOLHEMOS NAS URNAS CUIDAM DE MANTER.

     

                Cordialmente.

    Prof. Dr. Isac Jorge Filho

     - MÉDICO -.


    Veja os comentários desta matéria


    Digna resposta dada por um profissional ético, competente, com longa experiência na atuação médica e docente. Não podemos silenciar diante do descaso do governo com a saúde pública, da indicação de políticos profissionais sem conhecimento da área e desprovidos de valores mínimos para o exercício de uma cidadania responsável. Também não queremos médicos sem comprometimento com a sociedade, mas não podemos admitir que uma minoria seja usada por políticos menores para generalizações do tipo apresentado, contra profissionais que sofrem todo tipo de negligência política e administrativa. Parabéns mestre, apesar da idade e das dificuldades relacionadas com a própria saúde, não silenciou, é assim quando se pratica a profissão com seriedade, comprometimento e ética, coisa que esses políticos desconhecem.
    carlos alberto pessoa rosa
    Excelente meu caro Professor Isaac. Precisamos que este Ministro seja enxotado e em seu lugar entre alguém da área médica, e que seja referendado pelo Cremesp. É inadmissível que indivíduos, apadrinhados políticos, assumam qualquer cargo sem ter conhecimento da área de atuação
    Ivan Tadeu Rezende

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