Aula magna

“Maconha é objeto inesgotável e infinitamente variável de saberes”, afirma presidente do Cremesp

Mauro Aranha durante o V Simpósio Internacional Maconha e Outros Saberes

Para o presidente do Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp), Mauro Aranha, “a maconha e sua relação com o humano é objeto inesgotável e infinitamente variável de saberes”. Aranha apresentou a aula magna do V Simpósio Internacional Maconha e Outros Saberes, que acontece entre os dias 8 e 11 de maio, na Universidade Federal Paulista (Unifesp).

De acordo com Aranha, muitos atores da esfera pública discutem problema das drogas, incluindo a maconha, sem que se possa encontrar um consenso crítico e esclarecido, tanto na comunidade científica quanto no debate entre essa e a sociedade civil. “E, mesmo na comunidade científica, os cientistas da natureza divergem entre si, assim como esses divergem dos cientistas sociais”, ressaltou. 

O presidente do Cremesp destacou, também, que a distinção entre as ciências da natureza e da cultura, consolidada a partir do século 19, ampliou a distância entre as respectivas metodologias de conhecimento.  “A percepção da vida enquanto bios, dissociada da existência sociocultural, tem trazido, a ambos os lados, reducionismos que em nada contribuem para a compreensão da realidade complexa como resultado e princípio das condutas humanas”, afirmou.

Aula magna do V Simpósio Internacional Maconha e Outros Saberes na Unifesp

Para contextualizar a maconha como “objeto inesgotável de saber”, Aranha chamou a atenção para um “saber em 360 graus, multidimensional”, que abrange a planta, suas flores e canabinóides;  seu uso recreativo, cerimonial, terapêutico e industrial, em diferentes regiões, culturas e tempos históricos.

Ele defendeu ainda que a discussão sobre os saberes da maconha sejam realizados com base no “reconhecimento e igualação das diferenças, sob o valor supremo da dignidade humana” e no qual “a ciência não se ponha como deus substituto, sabedora privilegiada do humano e formuladora impositiva de seus desígnios”.

Aranha também falou sobre as atividades e discussões da Câmara Temática Interdisciplinar sobre Drogas do Cremesp em relação aos cuidados de saúde para usuários de drogas, garantia de direitos para tratamento e  superação do estigma e discriminação.

Dentre os presentes à aula magna de Aranha, estavam o apresentador de TV, Cazé Peçanha e o jornalista e vice-presidente do Conselho Municipal de Drogas e Álcool de  São Paulo (Comuda), Bruno Torturra. Após a  aula, Torturra e Peçanha participaram da mesa redonda “O papel da mídia e a construção da mentalidade em torno da maconha”.

Fotos: Laura Jorge