Ao microfone, João Ladislau participa dos debates sobre os problemas do setor da saúde no país
Não existe um controle da relação custo-benefício para a aquisição de novos equipamentos médicos de alta tecnologia no Brasil, gerando desperdício de recursos. Essa foi a principal conclusão dos palestrantes do fórum O Futuro da Saúde, promovido pela Revista Exame neste 1º de dezembro de 2014, no Hotel Intercontinental, na capital paulista.
“O Brasil atravessa três principais transições, a expansão demográfica e etária, a tecnológica e a epidemiológica”, analisa Marcio Coriolano, presidente da Federação Nacional de Saúde Suplementar (FenaSaúde).
Coriolano destaca que o aumento dos custos está relacionado à evolução tecnológica, em que há uma supervalorização do equipamento médico, e não do profissional que utilizará esse dispositivo. “É preciso reorganizar a forma com que os médicos são remunerados, e dar mais incentivo a áreas pouco valorizadas, como, por exemplo, a Clínica Geral. Não é difícil baratear a Saúde, mas é necessário que haja vontade política e pessoas dispostas a ajudar”, diz Coriolano.
João Ladislau, presidente do Cremesp, esclarece que a procura dos pacientes pela alta tecnologia se deve ao fato da saúde ser vendida como produto de consumo. Pois à medida que a tecnologia avança e se torna mais cara, mais a iniciativa privada promete equipamentos de primeira linha, e as pessoas passam a exigir esse recurso. “Tornou-se um produto que as pessoas escolhem. É uma perversão do exercício da Medicina”, sintetiza.
Segundo o presidente do Cremesp "os médicos se concentram onde podem encontrar infraestrutura e qualidade de vida”
Para ele, seguindo essa tendência do avanço tecnológico, o médico vai na direção da sofisticação, buscando trabalhar em locais com mais recursos. “A formação dos profissionais nas universidades os leva a buscar trabalhar em áreas em que existem mais recursos. E isso não é diferente com os médicos, que se concentram onde podem encontrar infraestrutura e qualidade de vida”.
Gestão do SUS
Ladislau comenta que com a criação do SUS, uma grande parcela da população que não tinha acesso a cuidados médicos, por não ter carteira assinada, passou a ser considerada cidadã e a ter esses cuidados. “O SUS trouxe uma massa para ser atendida, sem ter a infraestrutura necessária. E apesar do Ministério da Saúde ter triplicado seu orçamento nos últimos anos, o atendimento ainda é precário”, diz, destacando que o Brasil precisa de uma política pública que dirija sua atenção à Saúde Básica. “Há uma distorção do sistema, falta gestão, planejamento adequado e uma intervenção maior do Estado”, afirmou o presidente do Cremesp na mesa de debates Como resolver a equação: ampliação do acesso à saúde x aumento contínuo de custos. Ele acredita que o atendimento primário poderia resolver cerca de 90% dos problemas, além de ter custo menor.
Para Bento C. Santos, coordenador Einstein Insper do MBA Executivo em Gestão de Saúde, a Saúde é um elemento da cidadania, e por isso as pessoas podem emitir opinião, pois além de profissionais, todos são pacientes. “Aumentando-se os gastos em saúde, aumenta-se o acesso”, destacou Santos, mas alegando que é importante controlar os desperdícios.
Colaborou: Rodrigo Carani (estagiário de Jornalismo do Depto de Comunicação do Cremesp)
Fotos: Osmar Bustos
Tags: SUS, saúde, fórum, futuro, recurso.
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