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Notícias
24-09-2014 |
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João Hélio Rocha |
A importação de médicos estrangeiros |
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Atualmente, fala-se muito que estão faltando médicos no Brasil. Mas isso não é uma verdade comprovável. O problema reside na distribuição irregular dos profissionais no território nacional porque os médicos estão concentrados especialmente no Sudeste e no Sul e em todas capitais estaduais principalmente nas dos estados menos desenvolvidos aonde poucos vão para o interior. No Amazonas, por exemplo, 3.721 médicos estão em Manaus (95,04%) e apenas 194 estão no interior (4,96%). Em 12 dos 27 estados mais de 70% dos médicos ativos estão concentrados nas capitais. Apenas em 6 estados os percentuais de médicos no interior são um pouco maiores do que nas capitais. As exceções são Tocantins com 60,20% no interior e Santa Catarina com 71,95% como mostra o levantamento estatístico seguinte. Estados Capitais % Interior % TOTAL Roraima 532 97,08% 16 2,92% 548 Amazonas 3.721 95,04% 194 4,96% 3.915 Sergipe 2.700 94,77% 149 5,23% 2.849 Amapá 483 92,71% 38 7,29% 521 Alagoas 3.420 88,21% 457 11,79% 3.877 Piauí 2.684 81,31% 617 18,69% 3.301 Acre 573 80,03% 143 19,97% 716 Ceará 8.076 78,15% 2.258 21,85% 10.334 Rio Grande do Norte 3.372 77,27% 992 22,73% 4.364 Pernambuco 9.355 76,16% 2.928 23,84% 12.283 Pará 4.806 76,01% 1.517 23,99% 6.323 Maranhão 2.939 73,51% 1.059 26,49% 3.998 Goiás 6.600 69,13% 2.947 30,87% 9.547 Distrito Federal 6.427 67,83% 3.048 32,17% 9.475 Rio de Janeiro 38.445 67,74% 18.306 32,26% 56.751 Bahia 10.761 64,47% 5.930 35,53% 16.691 Mato Grosso do Sul 2.576 64,21% 1.436 35,79% 4.012 Paraiba 3.240 63,32% 1.877 36,68% 5.117 Rondônia 1.103 57,54% 814 42,46% 1.917 Mato Grosso 1.969 53,78% 1.692 46,22% 3.661 Paraná 9.393 49,61% 9.540 50,39% 18.933 São Paulo 51.518 48,50% 54.703 51,50% 106.221 Espírito Santo 3.681 48,31% 3.938 51,69% 7.619 Rio Grande do Sul 12.359 48,08% 13.346 51,92% 25.705 Minas Gerais 15.992 40,11% 23.877 59,89% 39.869 Tocantins 638 39,80% 965 60,20% 1.603 Santa Catarina 3.158 28,05% 8.101 71,95% 11.259 BRASIL 210.521 56,68% 160.888 43,32% 371.409 Fonte: Conselho Federal de Medicina atualizados em 14/01/2014 – www.cfm.org.br Para resolver o problema da falta de médicos no interior e na periferia das cidades maiores, o Governo Dilma optou pela importação maciça de médicos estrangeiros que nem sequer falam a nossa língua e sem avaliar os seus conhecimentos médicos, tarefa que deveria ser cumprida pelo Conselho Federal de Medicina e pelos conselhos regionais de medicina de cada estado da federação, os quais foram atropeladas pela decisão arbitrária do governo que, deu um jeitinho (ele, sempre ele, o jeitinho, a marca deletéria da nação brasileira) e passou sumariamente por cima da lei estabelecida. Levar médicos para cidades carentes e periferias desassistidas é uma necessidade e deve ser conduzida pelo governo com visão desenvolvimentista. Uma decisão desta ordem necessitaria de ser produto de um consenso entre o governo, que tem o poder, e as entidades médicas, que têm o conhecimento e a experiência do exercício da assistência médica, as quais podem oferecer subsídios vivenciais para orientar decisões políticas sem outros objetivos senão o de prestar assistência médica às populações desassistidas. Não houve a preocupação de analisar procedimentos anteriores para encaminhar uma solução e nem sequer se deu ao trabalho de consultar estudos feitos sobre a matéria. O Dr. Carlos Gentile de Mello (1918-1982), um estudioso dos aspectos econômicos e sociais da assistência médica, publicou em 1969 o trabalho “Contribuição ao estudo da Saúde” no qual ele demonstrou que nas cidades sem médicos não havia também agência bancária, provando desta maneira que a ausência de condição econômica local é determinante na ausência de médicos em cidades carentes. Arquitetos, engenheiros, dentistas, magistrados, promotores de justiça, delegados, advogados e outros profissionais de nível superior agem da mesma forma. Não residem nos locais de trabalho onde faltam estruturas econômica, cultural, educacional e de lazer. Sugiro utilizar o potencial do Projeto Rondon, criado em 1967 e extinto em 1989, o qual levou 350 mil estudantes universitários e professores aos mais longínquos pontos (fonte: Wikipedia). Servia ao estudante, que podia colocar em prática o que aprendera na teoria, e ao país com a prestação de assistência em regiões carentes e afastadas. O Projeto Rondon voltou a funcionar em janeiro de 2005. Se o governo ampliar e diversificar sua área de atuação, aumentando o número de participantes, renovável ao final de cada ano, será muito mais barato e mais eficiente do que a importação de médicos estrangeiros para trabalhar no volátil programa Mais Médicos, mero paliativo assistencial sem bases sólidas. Outra alternativa — por sinal vitoriosa e com know how fácil de colher — é a implantada pelo México funcionando há muitos anos. No México, depois de formado, o médico tem que passar um ano em cidades carentes do interior até mesmo em lugarejos muito pobres próximos à fronteira com a Guatemala no sul; só depois disso, é que recebe autorização para clinicar em qualquer lugar. O programa Mais Médicos, além de ser de elevado custo, é uma iniciativa fadada ao fracasso porque, em pouco tempo, faltará estímulo para os médicos continuarem no programa sejam eles brasileiros ou estrangeiros. Os médicos que aderiram, assim fizeram por necessidade financeira imediata ou, no caso dos cubanos, industriados pelo governo do seu país com outros objetivos. Não há perspectiva de carreira. Sentirão a falta de estrutura para o trabalho profissional, sentirão a falta de oportunidade para educação dos filhos, a falta de cultura, de lazer social, viverão o isolamento familiar e a ausência do companheirismo com os amigos. Os médicos que estão sendo levados para cidades carentes e para a periferia desassistida são diferentes dos imigrantes de outros países e dos migrantes brasileiros de um estado para outro porque vão com esperança de progredir, de criar novas raízes, de ganhar dinheiro, de fazer parte da vida da comunidade, de conquistar um novo status social. Por isso, ralam satisfeitos porque têm um futuro pela frente. E os profissionais do Mais Médicos, o que os espera depois de três anos? Nada, a não ser voltar para suas pátrias. O programa Mais Médicos é um bom negócio para Cuba porque a ilha vermelha obtem vantagem financeira com o sequestro da maior parte dos salários pagos pelo governo brasileiro, repassados ao governo de Cuba que entrega aos médicos cubanos somente com uma pequena parcela da remuneração pelo seu trabalho. Assim agindo, o governo brasileiro compactua com o governo cubano na exploração do homem pelo homem. Extraído do livro Memórias de um médico visionário— uma história de amor à assistência médica © João Hélio da Silveira Rocha, é pediatra em Nova Friburgo, RJ. |