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    12-03-2012

    Posição do Conselho

    Cremesp critica acordo CFM-Interfarma sobre o relacionamento entre médicos e indústria farmacêutica

    Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp) discorda do protocolo assinado no dia 14 de fevereiro pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) e pela Associação da Indústria Farmacêutica de Pesquisa (Interfarma), que aborda o relacionamento entre os médicos e a indústria de medicamentos.

    Conforme deliberação da Sessão Plenária de 23/02/2012, os conselheiros do Cremesp encaminharam ao CFM as seguintes considerações:

    1- O acordo representa um retrocesso ao sedimentar práticas que são eticamente inaceitáveis. Dentre outras distorções, o documento autoriza o recebimento pelos médicos de presentes e brindes oferecidos pelas empresas farmacêuticas, estipulando valores e periodicidade de difícil aferição; autoriza o patrocínio de viagens e participações em congressos e eventos sem apontar os critérios para escolha dos médicos beneficiados; submete os médicos a propagandistas de laboratórios visando, inclusive, o registro de efeitos adversos de medicamentos, tema de relevância sanitária que requer total autonomia profissional.

    2- É inadequada a parceria entre um órgão federal julgador e disciplinador da classe médica e uma entidade representativa de empresas privadas com interesses particulares nas áreas de Medicina e Saúde. Cabe ao CFM normatizar o exercício ético da profissão e cabe à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) regular as práticas das empresas farmacêuticas na promoção comercial de medicamentos.

    3- O relacionamento entre médicos e farmacêuticas pode influenciar, de forma negativa ou desnecessária, as prescrições de medicamentos e as decisões de tratamento. Os gastos com ações dirigidas aos médicos são repassados ao preço final dos medicamentos e têm impacto no bolso dos cidadãos e nos custos do sistema de saúde. Nenhum fator deve impedir que as prescrições sejam decididas pelos médicos exclusivamente de acordo com as credenciais científicas dos medicamentos e as necessidades de saúde dos pacientes.

    4- O Cremesp solicita ao CFM que seja reaberta a discussão sobre a necessidade de revisão e de aprimoramento das normas éticas que envolvam a relação entre médicos e indústria farmacêutica.

    Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo, 5 de março de 2012

    Tags: CremespplenáriaCFMindústriafarmacêuticacritica.

    Veja os comentários desta matéria


    Não concordo com o Cremesp. Acredito que nós não precisamos de tutela. Somos responsáveis o suficiente para não sermos subornados com tão pequenas coisas. Para mim, particularmente, isso de ganhar brindes nao tem importância nenhuma. Aliás nunca precisei disso pra fazer minhas escolhas. Então, laboratórios não podem ter representações nos Congressos. Eu realmente não sei o que um laboratório daria para um médico a ponto de comprometer o livre exercicio da profissão. Desculpem-me se estou sendo ingênuo. Talvez a minha realidade seja outra ou meu relacionamento com os representantes comerciais nos hospitais e ou congressos não passe de cordialidade e mera troca de informações. Já recusei inscrição de congresso brasileiro, mas não porque alguém achou que eu não deveria aceitar. Recusei porque considerei não conveniente. Agora, convenhamos, receber um souvernir (canetas, livros, pastas, penduricalhos em geral) não vai mudar nada para mim.
    Antonio
    Muito salutar o posicionamento respeitoso e crítico do Cremesp. Que venham as discussões e que sejam pautadas pela eticidade.
    Benedito
    Concordo com a posição do CREMESP. Parabéns. Acho que o CFM extrapolou suas funções. Há conflitos de interesses que não podem ser ignorados. Isto me parece regulamentação de uma prática aliciadora.
    Márcia S. Sayeg
    Parabéns CRM! Finalmente vejo-me bem representado!
    Salvador
    Sou professor da Fac. Farmácia da UFMG, e coordeno o Centro de Estudos do Medicamento nesta faculdade. Em nosso blog (http://cemedmg.wordpress.com/) postamos um veemente comentário contrário ao acordo, e parabenizo os conselheiros paulistas pela lucidez. att Professor Edson Perini
    Farmacêutico

    Centro de Estudos do Medicamento
    As vezes vejo o CFM ter retrocessos em mares já navegados, pois institucionalizar acordos com donos das drogas, é o mesmo que dizer: vocês seguem o código deontológico e nós podemos fugir dele, pois esta atitude não foi racional, ou, digamos que, no mínimo eles não fizeram a lição de casa, lendo a cartilha deontológica. Enfim está aí a atitude verticalizada, sem ser discutida com suas bases que são os conselhos estaduais, até amadurecer o que mais de amadurecido está nosso novo código. Lamentável.
    Jose Eli Baptistella
    Parabéns aos conselheiros paulistas pela integridade e coerência. Nota corajosa e dignificante para o Cremesp. Espero que os outros conselhos sigam o exemplo.
    nicola

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