CAPA
EDITORIAL
A partir de 02/10, o Cremesp dá início ao recadastramento dos médicos paulistas
ENTREVISTA
Entrevista: Simônides Bacelar fala sobre seu Projeto Linguagem Médica Melhor
ATIVIDADES DO CREMESP 1
Dia do médico: festividades já estão agendadas para dia 18/10
ATIVIDADES DO CREMESP 2
Exame do Cremesp: sextanistas de Medicina podem inscrever-se até 06/10
SAÚDE MENTAL
Em debate, a implantação do novo modelo assistencial em saúde mental
ATIVIDADES DO CREMESP 3
Recadastramento de médcos paulistas: será realizado entre 02/10/2006 e 31/03/2007
ÉTICA MÉDICA
Proibida a vinculação de médicos a cartões de descontos
ATUALIZAÇÃO
Aprovada vacina contra quatro tipos do HPV, os mais relacionados ao câncer de colo de útero
GERAL
Veja como foi o II Encontro Nacional dos Conselhos de Medicina em Manaus
HISTÓRIA
Beneficência Portuguesa: um megacomplexo de excelência em assistência hospitalar
AGENDA
Acompanhe a participação do Conselho em eventos relevantes para a classe
TOME NOTA
O Alerta Ético desta edição mostra a importância de responder às denúncias
NOTAS
Propaganda sem bebida: encontro em Santos inicia segunda etapa da campanha
GALERIA DE FOTOS
ATUALIZAÇÃO
Aprovada vacina contra quatro tipos do HPV, os mais relacionados ao câncer de colo de útero
Anvisa aprova vacina
contra quatro tipos do HPV
Medicamento evita os sorotipos mais relacionados ao câncer de colo de útero
Chega ao Brasil, em outubro, pela rede privada de saúde, mais um importante aliado contra o papilomavírus humano (HPV). Trata-se da primeira vacina preventiva, Gardasil, desenvolvida pelo laboratório Merck Sharp & Dohme, que protege o organismo do vírus por cinco anos. Ainda sem preço estipulado, a vacina foi aprovada pela Anvisa no final de agosto e destina-se à população de mulheres entre 9 e 26 anos de idade, não infectadas ou que não tenham iniciado sua vida sexual.
Quadrivalente, ela combate os tipos do HPV de alto risco, que respondem por 90% das verrugas genitais (tipos 6 e 11) e os responsáveis por 70% dos casos de câncer de colo de útero (tipos 16 e 18). Como se sabe, existem mais de cem subtipos que também podem causar a doença.
A mesma vacina está em uso nos EUA desde junho. Lá, cada dose custa US$ 120,00. Para a imunização são necessárias três; a segunda é dada dois meses após a primeira aplicação e a terceira, seis meses após a dose inicial. Se prescrita no Brasil, seriam gastos cerca de 800 reais por mulher, o que inviabiliza a distribuição da vacina pelo sistema público de saúde do país.
O Instituto Nacional do Câncer (Inca) informou que o câncer de colo de útero afeta mais de 19 mil mulheres no Brasil e mata quatro mil por ano, mas não é um risco exclusivamente feminino; os homens podem desenvolver câncer de pênis e ânus.
E os meninos?
Fábio Russomano, responsável pelo setor de Patologia Cervical e Colposcopia do Instituto Fernandes Figueira – unidade de ensino, pesquisa e assistência médica da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) – informa que existem vacinas terapêuticas em teste, que pretendem regredir as lesões causadas pelo HPV. Ele explica que a Fiocruz, junto com a Secretaria Nacional de Assistência à Saúde, Secretaria Nacional de Vigilância e Instituto Nacional de Câncer, estão avaliando a incorporação desta tecnologia. De acordo com o médico, há uma discussão mundial em torno da possibilidade de substituir o rastreio citológico (como o exame de papanicolaou), usado na prevenção do câncer de colo, por uma estratégia vacinal, mas isso “não será possível em curto e médio prazos”, informa Russomano. O especialista defende a manutenção e aperfeiçoamento do programa de Controle do Câncer de Colo Uterino, o chamado Programa Viva Mulher.
Russomano lembra que muitas perguntas ainda estão sem respostas, dentre elas: seria interessante vacinar meninos, o que faria dobrar o investimento? As doenças relacionadas aos tipos virais não contemplados nas vacinas continuarão a provocar o mesmo ou maior número de doenças ou as vacinas conferirão proteção cruzada? Que barreiras culturais serão encontradas para a introdução de uma vacina que previne uma Doença Sexualmente Transmissível (DST) em meninas antes do início da atividade sexual?
Alto custo reduz acesso
Luiz Alberto Barcellos Marinho, médico mastologista e ginecologista de Campinas, diretor do Sindicato dos Médicos de Campinas comenta, em seu artigo A vacina para câncer de colo de útero, que o alto custo impede o acesso dos mais pobres à imunização contra o HPV, que são “justamente os grupos de maior exposição ao vírus”. Marinho também se preocupa com a forma como a mídia levará a informação ao público leigo. Ele lembra que, nos anos 80, a então novidade da solução dos retrovirais específicos para o tratamento da Aids foi tão divulgada, que muitos passaram a não ter a mesma preocupação com a possível contaminação pelo HIV, por causa da existência do tratamento.
Sobre isso, Luís Bahamondes, ginecologista e obstetra, professor titular da Unicamp, diz: “Seria pouco inteligente alguém pensar que usando uma vacina contra quatro tipos de HPV sua vida será resolvida, em termos de câncer de colo. É bom que se diga que a vacina não é a oitava maravilha do mundo, como está aparecendo na mídia. A vacina é boa, é um avanço, mas as pessoas não podem imaginar que estejam livres de contrair a doença. A vacina protege contra quatro cepas do HPV, mas a camisinha e o exame ginecológico preventivo ainda são necessários”.
Para ele, é mais interessante que o setor público invista em programas educativos, campanhas nacionais, exames de Papanicolaou para as mulheres que nunca fizeram e no uso da camisinha, que previne DSTs, inclusive Aids. “No Sul do país, o câncer de colo é infinitamente menos presente do que no Norte e Nordeste. O Ministério da Saúde diz que, depois de dois papanicolaous negativos, se pode fazer o exame a cada três anos. No nosso país, são sempre as mesmas mulheres que fazem o exame todos os anos e há um número gigantesco de mulheres que não fazem nunca”, informa.
Ainda na opinião de Bahamondes, o governo não pode comprar 40 ou 50 milhões de doses de vacina (tendo em vista que são 3 doses). “Arredondando para 180 milhões de brasileiros, 70 milhões de mulheres, 45 milhões em idade reprodutiva, de 15 a 49 anos, se fossem vacinadas 20% das 45 milhões de mulheres (9 a 10 milhões), por 350 dólares, já seria uma loucura! São três bilhões e meio de dólares. Se o governo deseja ter a vacina disponível no setor público, precisará fazer um acordo com a indústria farmacêutica e produzi-la no país, ou então, desenvolver uma vacina própria”, defende.
De acordo com Caio Rosenthal, infectologista do Instituto Emílio Ribas; do Serviço de Moléstias Infecciosas do Hospital do Servidor Público Estadual e conselheiro do Cremesp, em algumas populações, até 50% das mulheres em idade adulta estão infectadas.
“Isso não significa que elas desenvolverão o câncer, mas alguma porcentagem poderá, sim, evoluir”, assevera. “O melhor preventivo”, prossegue, “ainda é a camisinha, que evita a exposição ao vírus”.
Mas vale lembrar que o vírus pode estar alojado na virilha, por exemplo e, portanto, o mais indicado é que mulheres sexualmente ativas façam, regularmente, seu exame de papanicolaou. Rosenthal salienta que todas as DSTs são, de alguma forma, portas de entrada para o HIV.
Imunidade cruzada
Na opinião de Wagner José Gonçalves, especialista em Oncologia Ginecológica e professor da Unifesp, a vacina poderá gerar imunidade cruzada: quando o vírus é parecido, o sistema imunológico também se defende contra. Como o período de incubação do vírus é longo e o avanço das lesões até a morte envolve anos, Gonçalves também acredita que o mais eficiente para essas mulheres “ainda é o bom e velho papanicolaou”.
Wagner Gonçalves conta que em muitos países europeus o serviço de saúde convoca as mulheres por carta para fazer o exame de prevenção periódico. Ele sugere uma política pública semelhante, que atrele algum benefício ao rastreamento obrigatório, como o bolsa-família (que incentiva crianças a ir à escola, recebendo por isso uma ajuda de custo mensal).
Concorrência
Em meados de setembro, o laboratório GlaxoSmithKline divulgou que aguarda liberação para comecialização da vacina Cervarix, imunizante dos tipos 16 e 18 do HPV. Ela estará disponível no mercado em 2007.