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CAPA

EDITORIAL
O exercício da Medicina: qualidade versus quantidade


ENTREVISTA
Cláudio Luiz Lottenberg, novo secretário municipal da Saúde de São Paulo


CONSELHO
Destaques: encontro dos CRMs Sul e Sudeste será no Espírito Santo


MOVIMENTO MÉDICO
Lei Estadual pode implantar a CBHPM


MOBILIZAÇÃO
Ato contra a Medida Provisória 232


ENSINO MÉDICO
Revalidação de diploma: Cremesp repudia acordo entre Brasil e Cuba


ESPECIAL: Série SUS
O acesso aos medicamentos pela população brasileira


RESOLUÇÃO
A revalidação dos títulos de especialistas


GERAL
Conselhos em Sintonia


ATUALIZAÇÃO
Consenso Paulista para Hepatite C


AGENDA
Em destaque, os eventos do mês que contaram com a participação dos Conselhos Regionais de Medicina


NOTAS 1
Alerta Ético: displicêncvia com prontuário


NOTAS 2
Atenção deve ser dada a todas as denúncias


HISTÓRIA DA MEDICINA
Roberto Geraldo Baruzzi


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Edição 210 - 02/2005

ENTREVISTA

Cláudio Luiz Lottenberg, novo secretário municipal da Saúde de São Paulo


“O médico deve ganhar mais e ter produtividade”

O novo secretário municipal de Saúde de São Paulo, o oftalmologista Cláudio Luiz Lottenberg, presidente licenciado do Hospital Israelita Albert Einstein e professor do curso de pós-graduação em Oftalmologia da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp/EPM), falou ao Jornal do Cremesp sobre os principais desafios e prioridades de sua gestão. No dia 22 de fevereiro, o secretário participou da Plenária do Cremesp  (íntegra desta visita ).

JC. Quais são as prioridades da política municipal de saúde?
Cláudio Lottenberg.
Uma das prioridades é fortalecer substancialmente a atenção básica. Hoje as pessoas entendem que ter um bom padrão de atendimento é ter acesso à tecnologia. Mas há abuso no uso da tecnologia, muitas vezes desnecessária. Isso porque falta orientação, falta compromisso de quem atende no início e depois delega a outros parte do processo. Por isso é preciso fortalecer a atenção básica, criar um verdadeiro trabalho educativo de promoção social, uma boa medicina preventiva, uma referência física na unidade básica de saúde. Devemos levar ao cidadão o conceito do que é uma complexidade em saúde, quando deve procurar uma emergência ou um ambulatório de especialidades e quando a unidade básica gera aquilo que a pessoa precisa.

De que forma a experiência  do senhor junto à iniciativa privada poderá ser levada ao serviço público?
O rigor na gestão de uma iniciativa privada deve ser o mesmo na gestão de iniciativas públicas. Não é porque o dinheiro é público que ele pode ser tratado de forma diferente. Nada é caro e nada é barato, na medida que traga um benefício para o cidadão. Gostaria de levar para a iniciativa pública a agilidade que temos na iniciativa privada. Não estou vendo maus profissionais no setor público, mas eles são vítimas de uma burocratização que nasceu para trazer uma transparência para a sociedade, porém tem tido efeito reverso, isto é, prejudica o cidadão.

Os salários dos médicos da Prefeitura estão defasados e faltam profissionais na periferia...
Sei que estão defasados. Existem médicos que estavam na rede estadual, foram para o município e o salário não acompanhou a mudança. Mas há também médicos que acumulam salários. Quero fortalecer a área administrativa para saber onde estão as imperfeições. Sabemos que o médico tem que ganhar mais, mas também tem que trabalhar, tem que ter uma agenda, uma produtividade. Sou muito mais favorável a remunerar um indivíduo pela sua performance.
Talvez o médico que chega às oito e sai ao meio-dia trabalhe menos do que outro que chega às oito e sai às dez e meia. O que cumpre carga menor, às vezes, dá mais atenção e cuida melhor dos pacientes. É delicado mensurar isso, mas acho lamentável que os médicos, nas suas reivindicações, coloquem a questão do salário como sendo a principal.

Hoje 70% dos médicos que estão na rede pública também têm um consultório particular. Então, na hora do aperto, eles preferem trabalhar no consultório. Costumo lidar com a realidade e não com os sonhos. O ideal seria que todo mundo cumprisse o horário direitinho, que estivesse presente e quisesse trabalhar lá dentro. Assim, não dá para falar que falta médico. Falta fazer um bom levantamento, fortalecer quem é o responsável por esse médico, a pessoa que tem que garantir a presença do profissional. Se o médico não estiver cumprindo o pacto estabelecido, deve ser dispensado. E em locais de difícil acesso poderá haver necessidade de algum estímulo.

Há carência na oferta de especialidades médicas na rede municipal?
Não há como dizer, pois o controle de dados de produção e a capacidade instalada da saúde municipal estão, ainda hoje, em tabela do Excel. Precisamos ter tecnologia de informação para agir na estrutura e conhecer toda a dinâmica do sistema. Não sei se faltam especialidades, aparentemente sim; mas pode ser também que o fluxo do encaminhamento seja lento, a maneira de identificar onde esteja o especialista não seja adequada. A saúde de São Paulo tem solução, mas ela passa muito mais pelo processo de gestão, do que propriamente por ações pontuais.

As unidades municipais de saúde serão administradas por Organizações Sociais?
Não tenho uma opinião se isso deve acontecer ou não. A experiência do Estado mostrou-se positiva, inclusive no Programa Saúde da Família. A adesão é maior, não só por uma questão de salários, mas porque há toda uma performance que o parceiro tem que cumprir. Mas para isso ser implantado é necessário um trabalho que envolve desgaste político, uma série de mecanismos que têm de existir em termos de transparência. Por outro lado, você conta com uma eficiência maior; e quando a coisa não funciona, você desfaz o contrato.

Qual é a opinião do senhor sobre duas decisões da gestão anterior: de que as unidades de saúde poderiam ser chefiadas por profissionais não médicos; e a aprovação da lei das “terapias alternativas” na rede municipal?
Há muito tempo quebrou-se o mito de que o médico tem que ser um bom gestor. Ele pode, ou não, ser. Isso tem que ser tratado com muita liberdade, muita abertura e acho bom que não tenha regra. O indivíduo que vai chefiar uma unidade de saúde precisa ter uma formação diferenciada, em relação ao que fez apenas um curso de Medicina, Psicologia, Sociologia ou Serviço Social.

Já as terapias alternativas são um ponto polêmico, porque existem evidências científicas sobre algumas delas. Em um devido momento vamos analisar e contar com os órgãos competentes como o Conselho Regional de Medicina, as sociedades de especialidades e as universidades. Não terei nada contra terapias alternativas que tenham respaldo da sociedade médica.

Serão construídos os hospitais de até 50 leitos, conforme uma das propostas de campanha? Como será estruturada a urgência e emergência?
Defendo a construção de hospitais para crônicos. Hoje você tem muitos pacientes crônicos internados em hospital público, até por um ano, às vezes, porque a família não sabe o que fazer; outras vezes porque são casos sem solução. Será que esse paciente de longa permanência precisa ficar em um hospital, cuja estrutura de custeio é tão cara? Então entendo que deveríamos ter hospitais de retaguarda, os chamados hospitais de longa permanência, diminuindo 10% ou 15% das internações. Com isso, como são catorze hospitais, você ganharia quase 1,5 hospital para São Paulo e daria mais vazão aos pacientes de urgência e emergência.

O Programa Saúde da Família será mantido nos moldes atuais? E quais as novidades da política de medicamentos?
A idéia é ampliar o Programa Saúde da Família, pois é a grande válvula de escape, o grande regulador do sistema. Ampliado e adequado, o programa é a referência, o ponto físico para a solução de boa parte dos problemas de saúde da população. Quanto aos medicamentos, vamos terceirizar as logísticas dos nossos estoques para uma empresa que saiba fazer isso rapidamente. A distribuição para as Unidades Básicas será feita pelos Correios, o que já ocorre parcialmente, mas nós vamos ampliar. Alguns doentes crônicos, que hoje vão buscar remédio nas unidades, passarão a recebê-los pelos Correios.


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