CAPA
EDITORIAL
Vamos festejar a cidadania
ENTREVISTA
Clóvis Francisco Constantino
RETROSPECTIVA 1
Cremesp faz retrospectiva do 1º período da gestão
RETROSPECTIVA 2
Cremesp faz retrospectiva do 1º período da gestão
POLÍTICA DE SAÚDE
Estréia, a partir desta edição, série de matérias sobre o SUS
GERAL
Cremesp implanta sistema de suporte de vida
CLASSE MÉDICA EM MOVIMENTO
Medidas jurídicas fortalecem a CBHPM
VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA
Alerta: Febre Maculosa Brasileira
AGENDA
Reinauguração de delegacias do Cremesp
NOTAS
Alerta Ético
PARECER
Prontuários Médicos
HISTÓRIA
Cremesp - uma trajetória
GALERIA DE FOTOS
ENTREVISTA
Clóvis Francisco Constantino
“Vou trabalhar para que o momento seguinte possa ser melhor que o anterior”
O pediatra Clóvis Francisco Constantino preside, até 31 dezembro de 2004, o Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp), quando completará 15 meses no cargo e deverá transmiti-lo a Isac Jorge Filho. O regimento interno da Casa prevê rodízio na ocupação dos cargos de diretoria durante a gestão Unidade Médica (2003-2008), iniciada em 1º de outubro do ano passado. As lutas pela adoção da CBHPM, pela aprovação do Ato Médico, as discussões em prol de uma entidade médica única, a campanha contra a abertura indiscriminada de escolas médicas foram algumas das marcas de seu mandato, mas ele prefere não comentá-las. “Elas falam por si mesmas; não cabe a mim a retrospectiva”, ponderou Clóvis, que foi também presidente da Sociedade de Pediatria de São Paulo (SPSP) e pertence ao quadro médico do Conjunto Hospitalar do Mandaqui, da Secretaria de Estado da Saúde, desde 1974. Confira, a seguir, a entrevista:
Jornal do Cremesp. O que significou para o senhor ser presidente do Conselho?
Clóvis Francisco Constantino. Significou uma oportunidade de tentar proporcionar algum benefício para a classe médica e para a população, no que diz respeito à assistência à saúde. É uma experiência ímpar a presidência do Cremesp porque é o maior de todos e, por ser maior, tem muitas dificuldades. Portanto, a responsabilidade é muito grande. Tentei recuperar o que via na profissão quando decidi ser médico, em 1958: a imagem que a Medicina tinha e depois foi perdendo. Isso permanecia em minha memória e me pareceu que essa tenha sido uma oportunidade de ter me aproximado dessa intenção.
JC. Como o senhor se sente na posição de ser presidente de um órgão que muitas vezes é visto pela população como corporativista e, pelos médicos, como punitivo?
Clóvis. Esse foi um dos meus maiores investimentos de tempo. Investi muito na imagem do Conselho que era e ainda é dividida nessas duas frentes de público-alvo. A população imagina que é um órgão corporativo e os médicos imaginam que é punitivo. Não economizei contato com o público médico, nem com a população e nem com a imprensa e me parece que algum resultado ocorreu.
JC. Qual?
Clóvis. Acho que a população está começando a entender que o Cremesp é um órgão corporativo quando se trata de defender condições de trabalho, mas não quando se trata de punir maus profissionais, com base no devido processo legal. Começou a compreender que o Conselho não tem interesse em ter entre os seus pares quem não dignifica a profissão. O médico também começou a compreender que o Conselho não apenas pune, eventualmente, o médico, mas também se movimenta em prol da classe médica, como por exemplo, o movimento pela adoção da CBHPM, por meio de assembléias e a sólida consistência que todas as entidades médicas deram a essa atividade.
JC. Que as ações e atividades do seu mandato o senhor destaca como principais?
Clóvis. As ações são diárias, mas nós também fizemos com que as questões e o trabalho internos ocorressem de forma bastante diligente, como já vinha ocorrendo. Atingimos até números inéditos em termos de julgamentos e preocupamo-nos muito com as questões burocrática e administrativa, como os descontos no pagamento da anuidade do Conselho para os médicos que mantêm consultório nos quais não são realizados procedimentos, mas são obrigados a se constituir como pessoas jurídicas por exigência dos planos de saúde. Recomendo, nesse sentido, a leitura da retrospectiva de nossas diretorias, publicada nesta edição do Jornal do Cremesp [N.R.: páginas 4, 5, 6 e 7]. Privilegiamos ao máximo as ações externas, o contato com a sociedade em geral, a mídia e os médicos.
JC. Nas ações externas o senhor inclui as várias pautas em conjunto com as demais entidades?
Clóvis. O Conselho – mesmo com todos os 42 conselheiros trabalhando, como trabalharam, incansavelmente – teria tido um impacto menor se não fosse essa união das entidades médicas. É isso que dá consistência ao movimento médico. Internamente, temos uma média de 15 sessões plenárias por mês, incluindo as sessões de julgamentos e as sessões parlamentares. Então o Conselho está reunido em praticamente metade do mês em sessões plenárias, além das reuniões de Câmara, de diretoria, os encontros nos intervalos das audiências, as fiscalizações, representações, simulações, palestras, aulas e viagens. Ou seja, os conselheiros estão juntos na Casa o mês inteiro. Aqui há um convívio estreito e constante e as decisões são tomadas em colegiado, nas plenárias. Isso cria algumas particularidades, mas a consistência de tudo é dada com o esforço pela união das entidades.
JC. E sobre o movimento pela CBHPM, as campanhas que o Cremesp fez durante sua gestão, a luta pelo Ato Médico, contra a abertura indiscriminada de escolas médicas, o que o sr. tem a dizer?
Clóvis. A CBHPM, a peregrinação que todos nós fizemos pelo Estado para falar sobre o Ato Médico, a questão das escolas de Medicina, a ação da Comissão de Pesquisa e Ensino Médico, as campanhas do Conselho, entre outras ações, falam por si mesmas; não cabe a mim a restrospectiva.
JC. Na sua gestão houve um aprofundamento da união das entidades...
Clóvis. Investi muito tempo para que isso ocorresse. Enfrentei problemas porque, no meu modo de entender, o grande empecilho para as entidades se juntarem numa só não é problema administrativo, nem legal, nem de entendimento político, mas uma questão relacionada às vaidades humanas e às respectivas áreas de poder constituídas. Por isso, dediquei muito esforço na manutenção da coesão externa e interna, pois são 42 conselheiros, de origens diferentes. Há, entre nós, um convívio muito constante. É preciso, portanto, uma certa harmonia e cordialidade. Também em relação às demais entidades médicas, houve dedicação para aprofundar a atuação conjunta e, na prática, estamos atuando – creio – como uma entidade única. Se um dia pudermos efetivá-la legalmente e estruturalmente será melhor para todos nós, médicos.
JC. Como o senhor pretende levar a experiência de presidente do Cremesp para o Conselho Federal de Medicina (CFM), para o qual o senhor foi eleito recentemente e é agora vice-presidente?
Clóvis. O que eu puder contribuir com minha experiência vou fazê-lo, como já disse lá no CFM. Nossa intenção é levar a experiência de São Paulo para contribuir, sem almejar galgar postos, mas sim visando compartilhar. Vou continuar atuando como conselheiro no Cremesp e auxiliando a nova equipe que dirigirá o Conselho. Vou torcer e trabalhar para que o momento seguinte seja sempre melhor que o anterior.
JC. Por que é realizado o rodízio de diretorias do Cremesp?
Clóvis. O rodízio visa dar oportunidades, fazer com que os conselheiros aflorem seus potenciais, estimulados pelas funções que ocuparão. Não adianta ser um bom motorista se não for dado a ele o volante de um automóvel. Ele só vai expressar seu potencial se dirigir o carro. Então é importante que os motoristas troquem de lugar às vezes, porque cansam e acabam tendo dificuldade de manter o mesmo ritmo. Quando assumimos o Conselho (gestão 2003-2008) alteramos o regimento interno – que antes era de três diretorias durante os cinco anos – para quatro, ou seja, 15 meses para cada diretoria. Mesmo que pareça um tempo curto, o ritmo intenso do Conselho torna necessário esse rodízio. Enquanto eu puder influenciar, vou lutar para que continue ocorrendo. E interpreto as discussões envolvidas nas sucessões como saudáveis.
JC. O cargo de presidente do Cremesp demanda muita dedicação. E o senhor ainda manteve, durante todo esse período, suas atividades de pediatra. Como conseguiu conciliar a presidência, as atividades profissionais e a vida pessoal?
Clóvis. Evidentemente, repercutiu muito... Não sei quantas viagens fiz, mas viajei muito e perdi muitos dias do meu trabalho. Mantive minha atividade de pediatra, pois consegui manter um ritmo uniforme. Em casa, apesar da minha ausência, que é nítida do ponto de vista físico, tenho sido compreendido por todos, mesmo porque sabem que é temporário e meus familiares percebem, olhando nos meus olhos, que estou fazendo algo que gosto, com objetivos claros que eles sabem que são autênticos. Por isso, nunca houve problema algum nesse sentido, nem com minha esposa, nem com meu filho menor, o maior; ou minha mãe, que mora em outra cidade, mas com quem falo diariamente.
JC. O senhor gostaria de deixar alguma mensagem para os médicos de São Paulo?
Clóvis. Contem sempre comigo! Feliz Natal, saúde a todos e a seus familiares e um 2005 melhor que 2004.