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CAPA

EDITORIAL
Ato Médico: fundamental para a população


ENTREVISTA
José Carlos de Souza Andrade, reitor da Unesp


ATIVIDADES DO CONSELHO 1
Programa de Controle da Qualidade Hospitalar


ATIVIDADES DO CONSELHO 2
Destaque para resposta do Secretário municipal ao Cremesp sobre Terapias Naturais


CLASSE MÉDICA EM MOVIMENTO 1
Cresce mobilização por honorários


CLASSE MÉDICA EM MOVIMENTO 2
ANS impõe regras de contratos entre Planos de Saúde e profissionais da saúde


CLASSE MÉDICA EM MOVIMENTO 3
Prorrogada suspensão de novos cursos de Medicina


GERAL 1
Serviço de Destaque


GERAL 2
CFM traça novo perfil do médico brasileiro


GERAL 3
De olho nos sites: Cremesp, Bioética e Banco de Empregos Médicos


AGENDA
Entre os destaques, a comemoração dos 109 anos da Academia de Medicina


NOTAS
Alerta Ético


PARECER
Uso de Nifedipina


DIA DA MULHER
Homenagem a Berta Sbrighi


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Edição 199 - 03/2004

ENTREVISTA

José Carlos de Souza Andrade, reitor da Unesp


"O despreparo é visível e a Faculdade de Medicina não abre todas as portas"

O médico e professor titular em Urologia, José Carlos de Souza Trindade, é reitor da Unesp, a mais jovem universidade pública do Estado, com 27 anos. Tendo seus campi distribuídos em 23 cidades paulistas, oferece cerca de 7.000 vagas nos vestibulares, forma mais de 4.000 novos profissionais por ano e tem mais de 27.000 alunos de graduação e 11.000 de pós-graduação. Além disso, tem preparado profissionais altamente gabaritados para ensino e pesquisa em instituições públicas e privadas: 2.182 doutores e 5.026 mestres, nos últimos 5 anos. O contrato de gestão celebrado entre a Secretaria de Estado da Saúde e a Unesp, para a gestão do Hospital de Bauru, por intermédio da Faculdade de Medicina de Botucatu, reverteu-se em benefício para uma população de aproximadamente um milhão de pessoas. Nesta entrevista ao Jornal do Cremesp, Trindade fala da qualidade do ensino superior, da formação médica, do sistema de cotas e do impacto da  reforma da Previdência na universidade.

Jornal do Cremesp. Na opinião do Sr., como deve ser a avaliação do ensino superior?
José Carlos de Souza Trindade.
O melhor sistema de avaliação é aquele abrangente, que reúne o maior número de aspectos da vida da instituição, ou seja, que contempla tanto o "processo do ensino", quanto o  "produto acabado" do ensino (o aluno e a efetiva capacitação por ele adquirida), abrangendo ainda  as condições de oferta, entre elas, o corpo docente, no que diz respeito a sua titulação e regime de trabalho;  a organização didático-pedagógica do curso; as instalações da instituição (laboratórios didáticos e recursos de informação científica e tecnológica em bibliotecas). A posição hegemônica, do ponto de vista quantitativo, do ensino superior privado no Brasil e especificamente no Estado de São Paulo, onde 84,5% das matrículas estão em instituições privadas -  recomenda que não se abandone a avaliação externa, de modo que se possa efetivamente utilizar seus resultados para obtenção da melhoria da qualidade. Por essa razão, entendo que o "Provão" deveria ser mantido e aperfeiçoado como instrumento capaz de estimular e de "guindar" o ensino público e, sobretudo, o ensino privado em níveis mais elevados. Mas defendo a inserção de uma co-responsabilidade do aluno, que terá em sua vida curricular o resultado de seu desempenho.

JC. Como o Sr. avalia o ensino médico?
Trindade.
Nosso compromisso deve ser a busca obsessiva do que é academicamente consistente e socialmente conseqüente. A qualidade profissional é essencial e deve estar acima de tudo. Houve uma época em que, ao ingressar numa Faculdade de Medicina, o jovem via seu futuro praticamente assegurado como médico. Hoje a situação é bastante diversa. Mudaram a Universidade, o mercado de trabalho e os estudantes, muitos dos quais inadvertidamente compram a ilusão de que o diploma é a garantia do sucesso profissional. Ledo engano! A proliferação de Faculdades de Medicina nos últimos 20 anos, especialmente na rede privada, é a um só tempo o reflexo e a causa dessas mudanças. O mercado de trabalho, cada vez mais saturado, também passou a exigir maior especialização e qualificação dos jovens profissionais. Como não há programa de Residência para atender todos os formandos, o resultado final é a evidente queda de qualidade. O despreparo é visível e conseqüência da ilusão de que a Faculdade de Medicina abre todas as portas. Não abre! Os alunos sem qualificação acadêmica pagam caro para conseguir os diplomas, que não serão de grande valia.

JC. E a abertura desenfreada de cursos de Medicina?
Trindade.
É excessivo o número de 25 Faculdades de Medicina no Estado de São Paulo, abertas, na sua maioria, sem serem observados os indicadores médicos epidemiológicos ou demográficos, que traduzem as reais necessidades de saúde da população. Cabe a nós, representantes das universidades públicas e das entidades de classe responsáveis, cobrar do Estado mais critério e rigor na aprovação de novos cursos, bem como na fiscalização dos já existentes, zelando por sua excelência, em defesa dos interesses da população.

O mais sensato seria aprimorar a avaliação, zelando pela qualidade, por meio de indicadores aplicados pelo MEC e Ministério da Saúde, dentro de uma política restritiva de autorização da implantação de novos cursos de Medicina ou da manutenção de cursos deficitários.

JC. O que o Sr. acha da reserva de cotas para afro-descendentes nas universidades públicas?
Trindade.
Sou contra as cotas, porém, a favor da ampliação do acesso ao ensino superior público e minha gestão como reitor da Unesp é prova inconteste dessa postura. Entretanto, gostaria que o acesso a essa ampliação se desse da forma mais democrática possível, aumentando as possibilidades para todos aqueles que têm sido privados dessa oportunidade, seja por serem economicamente excluídos, ou geograficamente discriminados, por viverem longe dos centros de oferta do ensino, ou até por serem portadores de deficiências físicas ou necessidades especiais. A meu ver, o problema da inclusão não se refere apenas a afro-descendentes nas universidades públicas, mas de ampliar o acesso da população economicamente desfavorecida, seja ela negra, branca, amarela ou indígena, melhorando suas condições não somente para conquistar por mérito uma vaga, já que não dispomos de vagas para todos, mas para concluir o curso com condições satisfatórias de competência. Assim, temos que melhorar o ensino básico público, organizar e manter cursinhos pré-vestibulares gratuitos, além da ampliação do número de bolsas de estudo que permitam aos mais capazes se dedicarem integralmente aos estudos, com vistas a qualificar nossa população desfavorecida não apenas para o ingresso, mas para a integralização de seu curso superior.

JC. As universidades perderam com a reforma da Previdência?
Trindade.
Infelizmente as universidades - e a Unesp em particular - perderam muitos docentes no melhor momento de suas carreiras. Além da perda em qualidade há a questão dos custos envolvidos, pois os aposentados continuam na folha de pagamento da universidade, representando hoje aproximadamente 30% de seu total.
As novas regras que passam a vigorar, não garantindo proventos de aposentadoria integrais e nem equivalência salarial com o pessoal da ativa, com certeza vão afugentar bons técnicos da carreira universitária pública, que irão à busca de melhores salários na iniciativa privada. Creio que diminuirá o número de docentes trabalhando em regime de dedicação integral na Universidade, o que trará prejuízos à qualidade do ensino e severos prejuízos à atividade de pesquisa.


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