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CLASSE MÉDICA EM MOVIMENTO 2
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CFM: novos parâmetros para lipoaspiração


HISTÓRIA DA
PEDIATRIA

Wilson Maciel e Francisco De Fiore


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Edição 198 - 02/2004

HISTÓRIA DA
PEDIATRIA

Wilson Maciel e Francisco De Fiore


Wilson Maciel

"Precisávamos ter mais olho clínico"


Memória aguçada e invejável, para um jovem prestes a completar 79 anos. Nascido no Rio de Janeiro e batizado em Areado, Minas Gerais, o pediatra Wilson Maciel, CRM 5.870, mesmo alfabetizado em casa por sua mãe - que não era professora - formou-se em 1950 em Medicina pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e já contabiliza muitos anos de bons serviços prestados à Medicina e, em particular, à Pediatria.


Também assistente social e médico sanitarista, o professor adjunto da Escola Paulista de Medicina já deu aula no Senegal, foi conselheiro do Cremesp de 1968 a 73, presidente da Sociedade de Pediatria de São Paulo e diretor da Saúde da Criança do governo estadual, na década de 60. "Naquele tempo, trocavam-se os políticos, mas se respeitavam os valores", elogia.

Capaz de falar sobre qualquer assunto sem perder o bom humor, Maciel destaca as mudanças em sua especialidade. "A Pediatria hoje progrediu muito, em todos os aspectos, desde os diagnósticos das doenças até a terapêutica". E compara: "antigamente, não tendo os recursos técnicos que se tem hoje, o médico era muito mais observador e clínico. Ele tinha que saber os sinais e faces de determinadas doenças".

Diz que antes era mais difícil diagnosticar as doenças nas crianças, pois o ato exigia muito mais olho clínico. "Se usava muito a percussão, procedimento que tocava as costas do paciente para sentir o som emitido e, por meio dele, fazer o diagnóstico". Outros procedimentos usados eram a ausculta e a palpação. Havia, por exemplo, a "face de choramingas", destaca Maciel. Nela, a criança parece que está chorando, mas na verdade apresenta os primeiros sintomas do sarampo. "As tosses secas são mais de infecções, principalmente na garganta. A tosse produtiva é mais no pulmão, nos alvéolos, com catarro", ensina.

Sobre o tipo de atendimento feito pelos profissionais de hoje, ele reclama da "pressa" nos consultórios. "Muitos colegas, para não parecerem antigos, receitam remédios novos, para se mostrarem atualizados; eu prefiro receitar os mais antigos, dos quais eu conheço os prós e os contras", completa.

Orgulha-se por ter trabalhado exatos 11 anos e 122 dias no cargo de Diretor da Saúde da Criança da Secretaria de Saúde do Estado, de 1968 até se aposentar no cargo.

Puericultura  
"O Brasil teve uma fase muito boa na assistência, nas décadas de 1950 e 60". Havia unidades de atendimento chamadas Postos de Puericultura, que tinham tanto atendimento médico como vacinas e orientação alimentar, com o objetivo de prevenir as doenças. "Por isso se chamava Puericultura", explica Maciel.

Médico-chefe do posto localizado em Ourinhos, em 1952, ele se orgulha de ter baixado a mortalidade infantil, na época, de 142 mortes por 1000 nascidos, para 65, em cinco anos. "Lá tínhamos até cinema falado, com sessões gratuitas para o povo".

Trabalhou ainda com a LBA - Legião Brasileira de Assistência, criada no governo Getúlio Vargas. Entre 1972 e 76, teve importante atuação nas campanhas de vacinação empreendidas pelo governo do Estado para controlar a meningite.

Wilson Maciel tem muitos "causos" para contar: "Em Ourinhos, eu tinha que cercar gente para vacinar, e acabei sendo ferido por um arame farpado na testa. Tenho a cicatriz até hoje". Mais recentemente, em 2000, teve outro acidente. Enquanto dava aula, teve um derrame. Antes, já havia passado por duas paradas cardíacas. "Sou amigo de São Pedro", brinca o médico, que continua firme e forte, sem perder o bom humor.


Francisco De Fiore

"Sem estresse, professores e alunos chegavam de bonde"


"A missão do pediatra é cansativa, mas a acho muito nobre. Para ser pediatra, precisa gostar. Se você fica angustiado ou trata mal a mãe que o procurou sem necessidade é melhor mudar de especialidade". Assim, o pediatra Francisco Ferrucio De Fiore, 76 anos, define sua relação com a profissão que escolheu. "Se o médico não tem paciência é melhor fazer laboratório, ficar sozinho sem conversar com ninguém", completa ele.


Nascido no Brás, em São Paulo, formou-se em 1954, na Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (Fmusp). Recorda-se que no período de faculdade a vida era mais tranqüila que atualmente. "Ninguém vivia estressado. Não tinha trânsito, professores e alunos chegavam de bonde, tudo era bem mais calmo".

Desde a conclusão do curso considera que a imagem do médico foi muito deteriorada: "isso se deve aos próprios médicos. Muitos profissionais se colocavam em um pedestal e pareciam Deus, e nós os criticávamos. Além disso, a socialização da Medicina e o surgimento de escolas sem aparato necessário para o treinamento hospitalar também dificultaram bastante a imagem do profissional".

Para Fiore a principal - e pior - mudança ocorrida na Medicina afetou a relação médico- paciente. "Antes o paciente procurava o médico no qual ele confiava, agora procura o hospital melhor aparelhado. Tem gente que opera o estômago e não sabe nem o nome do médico que realizou a cirurgia".
 
Orgulho
"Aposentei-me, não fui aposentado" aos 70 anos, em 1998. Foi interno e residente em Pediatria no HC; responsável pela enfermaria do Pronto Socorro do Ipiranga, atuando durante a epidemia de meningite, em 1974; chefe do ambulatório de Pediatria e diretor executivo do HC. Mantém seu consultório particular, seu maior orgulho, e vai regularmente ao Instituto da Criança da Fmusp, onde presta serviços como médico da Fundação daquela universidade.

Registrado com CRM 383, sua história pessoal se mistura à da Pediatria. Entre seus mestres destaca o professor Pedro de Alcântara, com o qual garante ter aprendido não só sobre Pediatria, mas sobre vida, comportamento e ética.

Considera um marco o primeiro pronto-socorro pediátrico em São Paulo, construído por Augusto Gomes de Matos, que introduziu a pediatria social na cidade e iniciou a assistência à criança, dando origem a Clínica Infantil do Ipiranga. "Gomes de Matos foi um grande professor para os pediatras. Ele tinha o ideal de atender a criança pobre, o poder de aglutinação e de transmissão através da sua experiência".

Outros nomes lembrados por Fiore foram Fernando Figueira, "um grande líder" e Eduardo Marcondes.

Especialidades  
O número de especialidades cresceu. "Quando me formei, a Pediatria era apenas um apêndice da clínica médica". Atualmente existem 17 sub-especialidades pediátricas no Instituto da Criança do HC, como endocrinologia pediátrica, nutrição infantil diabetes infantil.

Segundo Fiore, a maior dificuldade do pediatra está no fato de não falar diretamente com o paciente: "é a mãe que diz o que a criança tem". Por isso, ressalta a importância da conversa: "da mesma maneira que o cirurgião usa o bisturi para mostrar sua arte, a arte do clínico é a comunicação".

O papel educacional do pediatra é outro fator apontado por Fiore: "os pais têm que impor limites, não se pode deixar o filho fazer tudo; tem vezes em que chegamos até a fazer papel de juiz entre pai e mãe".
Pai de quatro filhos, garante que, mesmo após anos de Medicina, continua aprendendo:  "na FMUSP eu aprendo com o pessoal mais novo. Apenas há diferença do uso do saber pois, à medida que você vai vivendo, aprende a usar de um modo diferente seu conhecimento".


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