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Edição 195 - 11/2003

ENTREVISTA

Ulysses Fagundes Neto


                         “Nossa preocupação é que o médico tenha uma formação humanista”

 

Doutor em Gastroenterologia Pediátrica, ex-presidente da Sociedade Latino-Americana de Gastro­­enterologia Pediátrica e Nutrição, autor de inúmeros trabalhos e obras publicados no Brasil e no exterior, Ulysses Fagundes Neto comanda agora uma das mais conceituadas universidades brasileiras, a Universidade Federal de São Paulo/Escola Paulista de Medicina (Unifesp/EPM). Nomeado reitor neste ano, com mandato até 2007, Ulysses ainda encontra tempo para exercer a vice-presidência do Lar Escola São Francisco, uma entidade beneficente. A Unifesp/EPM conta atualmente com cerca de 600 docentes, 600 alunos de graduação em Medicina e 1.200 na graduação dos demais cursos da área médica, 430 médicos residentes, aproximadamente 1.500 alunos em cursos de especialização Lato Sensu e 2.700 na pós-graduação, mestrado e doutorado. Nesta entrevista ao Jornal do Cremesp, Ulysses fala sobre esse pólo de excelência do ensino médico e da pesquisa científica, além de outros temas relativos à Medicina.

 

Jornal do Cremesp. Que tipo de profissional as escolas médicas estão formando?

Ulysses Fagundes Neto. Há uma gama imensa de médicos sendo formados. Existem diferentes currículos, diferentes visões e formações, não há uma padronização, pois não há uma diretriz nacional a esse respeito, infelizmente. Em alguns locais, a formação dos médicos ainda está muito voltada para o atendimento de uma clientela que é absolutamente minoritária no país, de classe média-alta.

 

Há um esforço dos Ministérios da Saúde e da Educação no sentido de o médico ser um agente de inclusão social comprometido com a promoção da cidadania. É uma visão bem recente e não acredito que as faculdades de Medicina estejam totalmente alinhadas com essa proposta. Nós, particularmente, encampamos essa idéia na Unifesp e agora a batalha é para que essa visão seja fortemente incorporada à nossa legião de estudantes de Medicina e professores, porque a mudança deve começar pela própria estrutura docente.

 

A preocupação é que o médico tenha, acima de tudo, uma formação humanista,  conhecimentos gerais da medicina, responsabilidade social e, evidentemente, conhecimentos médicos técnicos. Ele deve entender que o paciente é um ser humano, é alguém que vem em busca de socorro, fragilizado, e precisa de um atendimento global com atenção, carinho e humanismo.

 

JC. Como o senhor vê a abertura indiscriminada de escolas médicas?

Ulysses. É uma tragédia, um crime inadmissível por várias razões. A primeira delas é que já estão sendo formados mais médicos do que o mercado de trabalho necessita. Não existe uma descentralização na instituição dessas escolas e elas acabam sendo criadas num eixo que já está absolutamente saturado. Além disso, não há corpo docente suficientemente gabaritado para atender todas essas escolas de Medicina. A qualidade do ensino oferecido por elas está absolutamente fora de qualquer padrão de excelência. Para culminar, na quase totalidade dos casos as novas escolas são entidades privadas que têm como objetivo maior o lucro e não a formação profissional. É uma distorção absoluta da visão universitária.

 

JC. Há ainda os problemas com a residência médica. Uma grande parte de recém-formados não consegue uma vaga como residente.

Ulysses. Isso também já é uma conseqüência do número excessivo de médicos. Se estão formando mais médicos do que o mercado necessita e em maior número do que o de vagas de residência, vamos ter profissionais absolutamente desqualificados para o exercício da profissão.

 

JC. Esses recém-formados que não passam nos exames para a residência e, portanto, estão mais despreparados, são os que caem no mercado de trabalho direto...

Ulysses. Claro. Não foram aprovados e vão direto para o mercado de trabalho e são os mais desqualificados. Isso só faz depreciar a imagem do profissional e da nossa profissão, proporciona uma má assistência à população – que, como leiga, não tem como avaliar a qualidade técnica de um profissional de saúde. E nós sabemos quais são as conseqüências disso. É a falência e o fracasso das políticas de saúde pública.

Isso leva também a outros problemas, até de ordem econômica, porque esses profissionais desqualificados aceitam qualquer tipo de emprego, com qualquer remuneração, competindo de forma absolutamente desigual e desleal em relação àqueles que têm uma qualificação e uma formação de excelência.

 

JC. Qual o papel da pós-graduação?

Ulysses. Na pós-graduação o docente tem uma atuação específica. Ele capta recursos com projetos e, por isso, tem uma autonomia maior para desenvolver suas atividades, não dependendo apenas da estrutura orçamentária do MEC. A falta de verbas faz com que os docentes busquem, cada vez mais, uma saída individual para poder sobreviver e continuar dando conta de suas atividades de pesquisa, ensino e extensão.

 

JC. O senhor acha que essa é a solução?

Ulysses. Não. Acredito que a solução é a autonomia universitária, com responsabilidade por parte do gestor central e autonomia para o gestor local, cumprindo com as responsabilidades para a manutenção da instituição.

 

JC. Como o senhor vê a convalidação do diploma de médicos estrangeiros?

Ulysses.  Entendo que deve existir um rigor muito grande na convalidação. E só devem ser convalidados aqueles em que se comprove a qualificação do médico que está fazendo a solicitação. Uma das formas seria analisar o currículo da graduação e do médico, além de realizar um exame de capacitação. Como eu fiz, por exemplo, quando fui trabalhar nos Estados Unidos, onde tive que me submeter a um exame de qualificação, e se eu não obtivesse a nota mínima, superior a cinco, simplesmente não poderia exercer a profissão naquele país.

 

JC. Como a Unifesp transformou-se num pólo de excelência do ensino médico e da pesquisa científica?

Ulysses. Graças ao esforço extraordinário dos nossos antecessores e dos nossos contemporâneos. Sempre houve uma visão de que na Unifesp as portas deveriam estar sempre abertas para a excelência. Nunca houve uma atitude xenófoba, sempre abrimos as portas para todos aqueles que vieram trazer alguma contribuição de excelência, viessem de onde viessem. Esse foi o princípio que norteou o crescimento da nossa instituição e é o espírito que continua norteando a nossa vida contemporânea. Houve dois grandes marcos, um foi a implementação da residência médica, no fim da década de 50, e o outro foi a pós-graduação, que trouxe mais qualidade para dentro da instituição, mais competição, mais exigência pela excelência e um padrão de referência que passou a ser internacional.

 

JC. A Unifesp sempre esteve voltada para a questão social, muito aberta à sociedade...

Ulysses. A Unifesp não está voltada para si mesma, ela sempre procurou retribuir ao cidadão o financiamento que ela recebe. Estamos profundamente inseridos no sistema público de saúde. Nossos hospitais e todo o complexo da Unifesp, com unidades em diferentes locais da cidade de São Paulo e do Estado, têm uma ação muito intensa junto às comunidades populares. Temos também uma série de outros projetos sociais fora do Estado de São Paulo, que atendem, inclusive, os povos nativos, os índios Terenas, em Aquidauana, e Guaranis no Litoral de São Paulo

 

JC. Quais são os caminhos para a universidade?

Ulysses. A universidade desempenha uma função estratégica para a nação. Todo país desenvolvido a tem como pilar de sustentação. A soberania nacional depende de uma estrutura universitária extremamente sólida, fortalecida, reconhecida e financiada. Qualquer país que queira ser autônomo, soberano e independente, tem que gerar seu próprio conhecimento e depender muito pouco da importação de tecnologia. Enquanto não houver a devida valorização da universidade em nosso país, não vejo possibilidade de termos soberania. É importante ressaltar que a Academia necessariamente serve à sociedade e deve interagir permanentemente com ela.


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