CAPA
EDITORIAL (pág. 2)
Lavínio Nilton Camarim - Presidente do Cremesp
ENTREVISTA (pág. 3)
Mauro Hilkner Silva
INSTITUIÇÃO DE SAÚDE (pág. 4)
HC de Ribeirão Preto é referência terciária para 90 municípios da região Nordeste do Estado
REMUNERAÇÃO (pág. 5)
Cremesp já recebeu mais de 100 denúncias envolvendo remuneração médica
SUS (pág. 6)
SES-SP lança manual técnico com informações sobre arboviroses
ATO MÉDICO (pág. 7)
Cremesp aciona Justiça para garantir prerrogativas médicas
CRISE NA SAÚDE (pág. 8, 9 e 10)
Subfinanciamento da Saúde e má gestão levam Conselhos de Medicina a questionar MS
AGENDA DA PRESIDÊNCIA (pág. 11)
Presidente do Cremesp é homenageado pela Santa Casa de Franca
EU,MÉDICO (pág. 12)
Flavio Henrique Nuevo Benez
JOVENS MÉDICOS (pág. 13)
Novas normas para Residência Médica devem vigorar a partir de 2018
EDITAIS (pág. 14)
Convocações
BIOÉTICA (pág. 15)
Escolha de antimicrobianos depende de reflexões éticas dos médicos
GALERIA DE FOTOS
ENTREVISTA (pág. 3)
Mauro Hilkner Silva
“A tuberculose é um marcador das desigualdades sociais”
O Brasil foi classificado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como prioritário, no período de 2016 e 2020, para a abordagem da tuberculose. O que isso representa?
A OMS tem uma vigilância constante em relação à tuberculose, que acomete em torno de 10 milhões de pessoas por ano e leva a óbito 1 milhão de pacientes em todo o mundo. Em nosso País, os dados apontam para cerca de 70 mil novos casos anuais, com quase 5 mil mortes em decorrência da doença. A organização redefiniu os países prioritários até o ano 2020 por meio de três listas de 30 países, por seus dados epidemiológicos de carga da tuberculose, tuberculose multidrogarresistente e a presença de coinfecção tuberculose/HIV. O Brasil ocupa a 19 ª e a 20ª posições em coinfecção com HIV e em carga de doença, respectivamente.
Quais os principais fatores que levam a essa posição desfavorável?
Características sociais e econômicas do Brasil favorecem a multiplicação dos casos da doença. Embora a tuberculose possa acometer pessoas em condições adequadas de vida, as moradias insalubres, em assentamentos irregulares e precários, com várias pessoas coabitando pequenos imóveis, os movimentos migratórios que aumentam a densidade populacional em áreas sem saneamento adequado e com baixo Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) podem aumentar a incidência local e as condições de proliferação da doença. Assim, a tuberculose é um marcador das desigualdades sociais, da pobreza, da carência nutricional e demonstra a falta de ações públicas. Por outro lado, é importante ressaltar que, mesmo ainda com índices alarmantes, o Brasil tem apresentado uma tendência nacional de queda do número de casos novos, com exceções estaduais pontuais.
Considerando os dados epidemiológicos, qual o problema mais grave a ser enfrentado no País?
Não é possível uma dissociação entre os parâmetros, que são os três dados epidemiológicos que redefiniram as orientações da OMS. Mas a tuberculose multidroga resistente é uma ameaça real e preocupante, seja a uma ou mais drogas. A coinfecção HIV/Aids é relativamente recente. De um lado, uma doença de milênios e, de outro, uma nova epidemia, de 30 anos. Não raramente a detecção do HIV é feita quando do diagnóstico de tuberculose; e essa coinfecção se torna uma das maiores causas de morte nos pacientes soropositivos, que têm maiores possibilidades de tuberculose extrapulmonar e disseminada.
O Ministério da Saúde (MS) elaborou um plano nacional para eliminar a tuberculose enquanto problema de saúde pública no Brasil. Quais os principais desafios?
Esperamos ações efetivas do governo em infraestrutura básica. Campanhas educativas que ensinem sobre a tuberculose e a aids, e quebrem estigmas que contribuem com a baixa adesão e comprometimento com o tratamento. Os médicos dos postos públicos e da Medicina de Família e Comunidade merecem melhor reconhecimento. Os serviços de saúde precisam de melhorias tecnológicas para diagnóstico precoce, tratamento completo e testes de sensibilidade adequados. Os recursos humanos devem estar capacitados, qualificados e fixos nos locais de trabalho.
Tendo em vista o subfinanciamento da Saúde, a meta do MS de menos de 10 casos de tuberculose por 100 mil/habitantes até o ano de 2035 é viável?
Espero que sim. Mas, a meta é ousada. Estamos com 32 casos por 100 mil e, nos últimos dez anos, diminuímos essa taxa em 14%. O percentual do PIB para a Saúde tem que ser progressivamente maior, e as ações básicas do governo, também. O subfinanciamento do SUS já prejudicou muito os pacientes individualmente. Em relação à tuberculose, há o risco de o prejuízo ser coletivo e de as despesas aumentarem, justamente, por negligência.
No ano de 2014, do total de novos casos pulmonares diagnosticados, 75,1% curaram e 11,3% abandonaram o tratamento. De que forma o médico pode intervir para aumentar a adesão?
O relacionamento médico-paciente continua a base dos tratamentos. As orientações devem ser claras, extensivas aos familiares e demais envolvidos ou expostos, pois as ações precisam ser integradas. Estigmas devem ser minimizados ou quebrados. As consultas de retorno rigidamente acompanhadas e, cada vez mais, valorizadas as ações multidisciplinares dentro das unidades públicas de saúde e a importância de seus agentes comunitários em suas visitas aos domicílios dos enfermos, garantindo maior adesão ao tratamento e fiscalizando a ingestão dos comprimidos, no chamado tratamento supervisionado.