CAPA
EDITORIAL (pág. 2)
Mauro Aranha - Presidente do Cremesp
ENTREVISTA (pág. 3)
Helena Nader
INSTITUIÇÕES DE SAÚDE (pág. 4)
Modernização do Iamspe
PRESCRIÇÃO (pág. 5)
Substâncias antimicrobinos necessitam de receituário específico
BENEFÍCIO (pág. 6)
Bolsas de Bioética
ATIVIDADES DO CREMESP (pág. 7)
Núcleo de Defesa Ética em Remuneração Médica
EXAME DO CREMESP (págs. 8 e 9)
Cresce o número de reprovados em comparação ao ano de 2015
SAÚDE PÚBLICA (pág. 10)
Decisões em políticas sobre drogas devem ser colegiadas
AGENDA DA PRESIDÊNCIA (pág. 11)
Agenda
EU, MÉDICO (pág. 12)
Urologista leva atendimento médico a comunidades ribeirinhas
JOVENS MÉDICOS (pág. 13)
Cartilha do Cremesp orienta residentes sobre assédio moral
EDITAIS (Pág. 14)
Convocações
BIOÉTICA (pág. 15)
Análise ética de pesquisas pode sofrer mudanças com projeto aprovado no Senado
GALERIA DE FOTOS
EDITORIAL (pág. 2)
Mauro Aranha - Presidente do Cremesp
Além das consequências
Em uma nova sondagem realizada pelo Cremesp, em parceria com o Conselho Regional de Enfermagem de São Paulo (Coren-SP), a situação dos médicos e dos profissionais de enfermagem diante da violência segue em estado crítico. Os resultados mostram, por exemplo, que cerca de 60% dos entrevistados já sofreram algum tipo de agressão no trabalho, seja ela física, verbal ou psicológica. A maior parte ocorre no âmbito do SUS.
Os altos índices e a recorrência da violência não são indicadores de desgaste da relação entre profissionais de Medicina e de Enfermagem com os pacientes e seus familiares, como alguns equivocadamente podem deduzir. Prova disso é que, em 15 de março, o Datafolha divulgou pesquisa dando conta de que os médicos são os profissionais com maior credibilidade e confiança junto à população, seguidos pelos professores e bombeiros. No fim da lista, os políticos.
É justamente na bifurcação entre a política e a gestão da coisa pública que podemos propor uma explicação para o crescimento da violência. A insatisfação geral da população advém da precariedade, da falta de qualidade dos serviços de saúde. Envolve a dificuldade de acesso a tratamentos; longos deslocamentos e filas de espera, no dia da consulta, sem o devido acolhimento; carência de especialistas na rede pública; e condições estruturais precárias dos equipamentos de saúde. Disso resulta que os profissionais de saúde, linha de frente da atenção aos doentes e familiares, respondam indevidamente pelo descaso dos governos, de que também são vítimas. Cremesp e Coren-SP, irmanados, continuarão atentos e trabalhando nisso.
Todavia, se a cadeia causal, e mesmo multifatorial, dos fatos da vida desdobram-se em nexos previsíveis e, por vezes, trágicos, são os acontecimentos fortuitos que nos fazem exultar, em esperanças que emocionam, como as relatadas nesta edição do JC: estudantes de Medicina que produzem reflexões bioéticas, eivadas de valores humanistas e sociais; egressos de escolas médicas que comparecem em peso no Exame do Cremesp, movidos pelo desejo de serem melhores médicos; um secretário municipal de saúde disposto a ouvir e a conciliar as angústias e as divergências dos cidadãos que produzem ou recebem as ações em saúde; um “doutor das águas” que, num dia de pescaria, se deixou tocar por um sintoma simples de pessoas simples, e que fez do humano entretecer humanos, o mais além do humano: transformou os outros, transformou-se a si.
Boa leitura.
Placentofagia
Krikor Boyaciyan* e Luiz Camano**
O destino que se dá à placenta na espécie humana resulta de vários aspectos relativos à tradição, cultura, religião, crenças e superstições. Habitualmente, ela e seus anexos são descartados. Alguns preservam parte da sua estrutura, como os japoneses, que guardam o cordão umbilical. Há outros que enterram a placenta: os maoris, da Nova Zelândia; os esquimós; e os índios navajos dos Estados Unidos. Alguns comem a placenta: é a chamada placentofagia, praticada no norte da Califórnia e em certas regiões do Reino Unido.
A placentofagia é praticada por múltiplas razões: por aumentar o bem estar devido à presença de prostaglandinas e ocitocina, promover a involução uterina, aumentar a produção de leite, diminuir a depressão pós-parto, obter efeitos estéticos e melhorar a imunidade.
Ressaltamos que não são bem conhecidos os riscos da placentofagia e que poderíamos equipará-los ao consumo de vísceras não controladas do ponto de vista sanitário. Assim, protozooses, infecções bacterianas e virais podem ser transmitidas. Duas doenças oriundas de ingestão de alimentos impróprios e causadas por príons (proteinaceus infectious particles) também devem ser consideradas: a encefalopatia espongiforme e o Kuru (doença dos canibais).
Príons são agentes infecciosos, não vivos, formados por moléculas protéicas aberrantes, que no encéfalo induzem a troca de conformação das proteínas normais, causando doenças neurodegenerativas fatais em mamíferos.
Em atenção a todas essas considerações, a placentofagia não deveria ser praticada.
A Anvisa estipula que a paciente ou a família realize requisição prévia, informando que pretende levar a placenta que, destarte, não deverá ser considerada como resíduo de serviço de saúde. Destaca, também, que a instituição deve dispor de procedimentos para acondicioná-la de forma adequada, proporcionando a entrega do material com segurança e preservando-a da ação do tempo.
Julgamos que o médico não deve recomendar, aconselhar ou indicar a placentofagia. Porém, respeitando o princípio da autonomia, deve compartilhar com a paciente suas convicções, na procura da solução adequada. No diálogo, o médico deve sempre preferir a inteligente persuasão em lugar da arrogante imposição.
*Doutor e mestre em Obstetrícia pela Unifesp, conselheiro, diretor corregedor e coordenador da Câmara Técnica de Ginecologia e Obstetrícia (CTGO) do Cremesp.
**Professor titular emérito de Obstetrícia pela Unifesp e membro da CTGO do Cremesp.