CAPA
EDITORIAL (Pág.2)
Mauro Gomes Aranha de Lima - Presidente do Cremesp
ENTREVISTA (Pág. 3)
Paulo Hoff
PROFISSIONAIS DA SAÚDE (Pág. 4)
Campanha conjunta
INSTITUIÇÕES DE SAÚDE (pág.5)
Reabilitação
SAÚDE PÚBLICA I (Pág. 6)
Sífilis congênita
SAÚDE PÚBLICA II (Pág. 7)
Imunização
JUDICIALIZAÇÃO (Pág. 8 e 9)
Decisão jurídica
LITERATURA (Pág. 10)
Novas publicações
AGENDA DA PRESIDÊNCIA (Pág.11)
Eventos com a presença do Cremesp
EU MÉDICO (Pág. 12)
Gabriel Liguori
PARCERIAS (Pág. 13)
Exame do Cremesp
EDITAIS (Pág. 14)
Convocações
BIOÉTICA (pág. 15)
Bolsas para residentes
GALERIA DE FOTOS
EDITORIAL (Pág.2)
Mauro Gomes Aranha de Lima - Presidente do Cremesp
Diálogo e tolerância
“Quando a violência da guerra já não poupa nem médicos,
enfermeiros e hospitais, alguma coisa precisa mudar”
O Cremesp lançou dois importantes livros para a Medicina e para a sociedade: Saúde Mental e Trabalho e Trabalho e Saúde Mental dos Profissionais da Saúde. O estudo da mente humana é essencial para promover o bem-estar dos indivíduos e das comunidades.
A nós, profissionais da saúde, cabe colaborarmos para a integração do físico e do psíquico, para que cientistas sociais proponham, e gestores públicos implementem, ações políticas para a construção de um país socialmente sustentável.
Na relação saúde mental e trabalho, a precariedade de um desvirtua o andamento do outro. E, no campo estrito das profissões da saúde, existem inúmeros diferenciais a se considerar, pois se trata de ofício, a um só tempo, desafiador e gratificante. Destaco, como ponto essencial para nosso equilíbrio, a harmonização das relações multiprofissionais. Ao tocar nesse aspecto, me dou a oportunidade de homenagear as 15 categorias da área da Saúde. Médicos, enfermeiros, farmacêuticos, fisioterapeutas, psicólogos, cirurgiões-dentistas, fonoaudiólogos e todos os demais profissionais da área que procuram oferecer uma boa assistência aos cidadãos, mesmo com as incontáveis debilidades do sistema. E, em clima, por vezes, de muita ansiedade e dor, constroem a sinergia necessária para que a atuação conjunta resulte em conforto e luz aos pacientes.
Diálogo e tolerância nos edificam em todos os momentos da vida, em especial no campo da Saúde. Agora mesmo enfrentamos uma controvérsia quanto à prescrição de medicamentos por farmacêuticos (veja na pág. 4). Um primeiro impulso nos levaria apenas a uma guerra judicial, até às últimas consequências. Criaríamos uma animosidade, em tudo lesiva à população, entre duas classes que se respeitam e têm um histórico milenar de cooperação.
Em vez disso, conversamos com o presidente do CRF-SP, Pedro Eduardo Menegasso, para buscar convergências e discutir eventuais equívocos das resoluções. Atuaremos visando ao esclarecimento, para a sociedade, da relevância das boas relações entre as duas profissões, cada uma com suas responsabilidades, prerrogativas e limites legais.
Quando, em divergências, apostamos na cisão, como vem ocorrendo na política nacional e internacional, multiplicamos desavenças, perdemos força criativa e precursora de vidas promissoras e saudáveis e, claro, de sociedades justas e felizes.
O acirramento extremado distorce a harmonia entre partes e enfraquece conjuntos, em vitórias efêmeras que nos fazem, a todos, perder.
A cultura da soberba e do ódio, como vemos atualmente, nos estarrece de espanto.
E quando a violência da guerra já não poupa nem médicos, enfermeiros e hospitais, alguma coisa precisa mudar. Em todos nós, e já!
Opinião
A abandonada Atenção Primária
João Ladislau Rosa
Conselheiro do Cremesp
A Atenção Primária à Saúde (APS) é conhecida no mundo todo como uma estratégia de organização da atenção à saúde voltada para responder de forma regionalizada, contínua e sistematizada à maior parte das necessidades de saúde de uma população, integrando ações preventivas e curativas, bem como a atenção a indivíduos e comunidades.
Esta concepção aparece pela primeira vez no chamado Relatório Dawnson, em 1920. Esse documento do governo inglês procurou, de um lado, contrapor-se ao modelo americano flexneriano, de cunho curativo e individualista, e por outro, constituir-se numa referência para a organização do modelo de atenção inglês, que começava a preocupar as autoridades daquele país, devido ao elevado custo, à crescente complexidade da atenção médica e à baixa resolutividade.
No Brasil, a APS incorpora os princípios da Reforma Sanitária, levando o Sistema Único de Saúde (SUS) a adotar a designação Atenção Básica à Saúde (ABS) para enfatizar a reorientação do modelo assistencial, a partir de um sistema universal e integrado de atenção à saúde.
Na primeira metade do século 20, a APS reduzia-se a alguns centros de saúde que trabalhavam com educação sanitária. Com a reforma sanitária e o advento do SUS, a APS passa a ter maior destaque, seguindo tendência internacional.
A Estratégia da Saúde da Família e da Comunidade passa a ser o eixo estruturante do sistema de saúde.
Após a criação do SUS, mais de duas décadas se passaram. Governos de diferentes cores partidárias também passaram, defenderam e enalteceram o SUS, porém seus investimentos na saúde pública foram pífios, entre os menores da América Latina.
Esse parco destino de recursos segue rumos erráticos, de acordo com interesses diversos. Investe-se em tecnologias de alta complexidade, necessárias, de alto custo, mas relega-se a atenção básica a um segundo plano.
A APS persiste abandonada pelas autoridades sanitárias, desenvolve-se lentamente. Não acompanha o crescimento demográfico. Não atinge a população como um todo. Esse abandono aumenta a prevalência de doenças crônicas e perde o controle das doenças agudas. As epidemias em curso — dengue, gripe H1N1, zika, chikungunya — são a prova do descontrole e do descaso do poder público.
Doenças letais, porém, controláveis, atingem a população como um todo, sem distinção de classe social. Tanto o atendimento individualizado como as ações coletivas são necessários. No entanto, é importante um equilíbrio no investimento nos mais diversos níveis de atenção à saúde. A APS vem perdendo nessa contenda.