CAPA
EDITORIAL (Pág.2)
Bráulio Luna Filho
ENTREVISTA (Pág. 3)
William Saad Hossne
ALERTA TERAPÊUTICO (Pág. 4)
Krikor Boyaciyan*
INSTITUIÇÕES DE SAÚDE (Pág.5)
Psiquiatria
CONDIÇÕES DE TRABALHO (Pág. 6)
Violência
NOVA SEDE (Pág. 7)
Alteração de endereço
ENSINO MÉDICO 1 (Pág. 8)
Cremesp Educação
ENSINO MÉDICO 2 (Pág. 9)
NBME
EVENTOS (Pág.10)
Atualização
AGENDA DA PRESIDÊNCIA (Pág.11)
Atividades do Conselho
EU MÉDICO (Pág. 12)
Antranik Manissadjian
SAÚDE SUPLEMENTAR (Pág. 13)
Planos de saúde
EDITAIS (Pág. 14)
Convocações
SAÚDE PÚBLICA (Pág. 15)
Zika vírus
GALERIA DE FOTOS
SAÚDE PÚBLICA (Pág. 15)
Zika vírus
Aumentam anomalias em bebês ligadas ao Zika
e a outras infecções
Há casos de perímetro cefálico normal ou microcefalia discreta
decorrente de comprometimento após a 20ª semana
Entre os mais de 4 mil casos suspeitos de microcefalia no País – atualmente em investigação pelo Ministério da Saúde (MS) – aumentam casos de crianças que, mesmo sem ter o diagnóstico de perímetro encefálico menor, apresentam diferentes alterações do sistema nervoso central, todas possivelmente relacionadas com o vírus Zika e outras infecções congênitas.
O novo boletim do MS, divulgado no dia 1º de março, aponta também que das 5.909 notificações de casos suspeitos de microcefalia, 1.046 já foram descartadas, e 641 confirmadas para microcefalia e outras anomalias do sistema nervoso, sugestivos de infecção congênita.
“Há casos em que o perímetro cefálico é normal ou apresenta microcefalias mais discretas, decorrentes de comprometimentos mais tardios após a 20ª semana, que não mostram alterações malformativas e microcefalias graves”, afirma o neurologista Fernando Arita, membro da Câmara Técnica de Neurologia do Cremesp. Entretanto, “esses cérebros podem mostrar calcificações e imagens destrutivas e, possivelmente, distúrbios da maturação e desenvolvimento dos futuros neurônios, que deverão merecer atenção nos casos de infecções da segunda metade da gestação”.
Na opinião de Arita, o estabelecimento da relação causal da infecção pelo vírus Zika e as complicações neurológicas é difícil de se estabelecer. “Isso acontece quando a doença torna-se endêmica, quando a maioria dos casos é assintomática ou de manifestação autolimitada. Ou ainda quando outras infecções virais – como rubéola, sífilis ou toxoplasmose, citomegalovírus e herpes viral, contraídas pela mãe durante a gestação – são altamente prevalentes”, avalia.
Segundo o neurologista, “testes diagnósticos por PCR, que detectam RNA viral, são limitados porque podem ser positivos somente nos períodos de viremia, às vezes, relativamente curtos”. Arita acrescenta que testes sorológicos apresentam reação cruzada com outros flavivírus, que podem ser altamente prevalentes em regiões endêmicas, como é o caso do Brasil, para a dengue e a infecção pelo vírus Chikungunya. Entretanto, reações específicas para infecção pelo vírus Zika ainda não estão disponíveis.
Guillain-Barré
Síndrome tem possível ligação com o vírus Zika
Nos países em que ocorreram surtos de infecção pelo vírus Zika aumentaram significativamente os registros de síndrome de Guillain-Barré.
“A provável relação causal da síndrome de Guillain-Barré com a infecção pelo vírus Zika tem sido fortemente estabelecida por evidências científicas e epidemiológicas, apesar dos escassos casos de isolamento do vírus”, explica o neurologista Fernando Arita. Segundo ele, “recentemente, o vírus Zika foi isolado do líquido amniótico de gestantes, cujos fetos apresentavam microcefalia diagnosticada por ultrassonografia pré-natal e também no cérebro fetal em caso de autópsia”.
A síndrome de Guillain-Barré caracteriza-se clinicamente por uma paralisia flácida sensitivo-motora, rapidamente progressiva, ascendente, simétrica e com manifestações disautonômicas, decorrente da desmielização de nervos periféricos por mecanismo autoimune, reacional a agentes infecciosos variados, bacterianos ou virais.
Recentemente foram descritos 42 casos de síndrome de Guillain-Barré, ligados ao vírus Zika, na Polinésia francesa, com aproximação etiológica pelo isolamento do vírus, PCR e sorologia específica.
Microcefalia congênita
Crescem casos, mas notificação não é obrigatória
O número de casos de microcefalia congênita também é crescente no País. “Trata-se de um sinal neurológico, sem obrigatoriedade de notificação, e que tem múltiplas etiologias, genéticas e adquiridas durante a gestação”, explica o neurologista Fernando Arita. Segundo ele, “os registros de casos de microcefalia congênita no Brasil, anteriores a 2015, são imprecisos e incompletos”. Porém, “inquestionavelmente ocorreu um aumento significativo de casos de microcefalia grave na região Nordeste do Brasil, após um surto de infecção pelo vírus Zika, no início de 2015, com características epidemiológicas e neurorradiológicas peculiares”, avalia.
De acordo com Arita, a microcefalia pode ser detectada por ultrassonografia pré-natal e estar associada a múltiplas causas, como doenças genéticas, intoxicações químicas e por drogas, desnutrição materna e infecções virais ou bacterianas por via transplacentária, tais como rubéola, citomegalovírus, herpes, varicela-zoster, HIV e toxoplasmose. “Uma extensa exclusão de causas de microcefalia congênita é necessária diante do painel etiológico possível para explicar o quadro,” afirma.
Diagnóstico para microcefalia ou malformações
O primeiro registro brasileiro autóctone do vírus Zika foi detectado em maio de 2015. “Trata-se de um flavivírus, filogeneticamente relacionado com o vírus da dengue, da febre amarela e do Nilo Ocidental, transmitido pelo mosquito Aedes aegypti”, explica o neurologista Fernando Arita.
Segundo ele, a infecção pelo vírus Zika frequentemente é assintomática ou manifesta-se como um quadro sintomático moderado e autolimitado de febre, erupção cutânea, artralgia e conjuntivite.
Os comprometimentos cerebrais – nos casos de infecção pelo vírus Zika adquirida durante a gestação – mostram um neurotropismo marcante, com neuroinvasão intensa, transpondo a barreira hematoencefálica e provocando lesões graves no cérebro em desenvolvimento. Entretanto, “a extensão e a gravidade das lesões encontradas dependem da idade gestacional no momento da invasão viral”, observa.
Arita acrescenta que o período crítico do desenvolvimento da formação cerebral ocorre entre a 4ª e a 20ª semana de gestação. E isso envolve uma intensa proliferação celular, que produzirá a população neuronal futura e a migração dessas células para suas topografias definitivas. “Uma interferência nesses processos determinam malformações cerebrais graves, com prejuízo para o desenvolvimento neuropsicomotor,” diz.