CAPA
EDITORIAL (Pág.2)
Bráulio Luna Filho
ENTREVISTA (Pág. 3)
William Saad Hossne
ALERTA TERAPÊUTICO (Pág. 4)
Krikor Boyaciyan*
INSTITUIÇÕES DE SAÚDE (Pág.5)
Psiquiatria
CONDIÇÕES DE TRABALHO (Pág. 6)
Violência
NOVA SEDE (Pág. 7)
Alteração de endereço
ENSINO MÉDICO 1 (Pág. 8)
Cremesp Educação
ENSINO MÉDICO 2 (Pág. 9)
NBME
EVENTOS (Pág.10)
Atualização
AGENDA DA PRESIDÊNCIA (Pág.11)
Atividades do Conselho
EU MÉDICO (Pág. 12)
Antranik Manissadjian
SAÚDE SUPLEMENTAR (Pág. 13)
Planos de saúde
EDITAIS (Pág. 14)
Convocações
SAÚDE PÚBLICA (Pág. 15)
Zika vírus
GALERIA DE FOTOS
EU MÉDICO (Pág. 12)
Antranik Manissadjian
Aos 91 anos, pediatra se dedica ao consultório
Com muita clareza e disposição, Antranik Manissadjian ainda clinica.
Médico teve importante carreira na área acadêmica
Manissadjian: com energia surpreendente para o trabalho,
o médico conta que não se esforça além de seus limites
Grato à recepção que teve no Brasil como imigrante, o pediatra e professor emérito da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), o sírio Antranik Manissadjian, que chegou ao País aos seis anos de idade, dedica-se a uma carreira que acompanhou a evolução de sua especialidade em São Paulo.
De família armênia, o médico nasceu em Alepo (Síria), em 1924, e imigrou ao Brasil em 1930, em decorrência do genocídio ocorrido na Turquia. Formou-se em 1949, na FMUSP, após concluir o colégio médico (ensino médio, realizado na própria faculdade de Medicina, como uma espécie de curso preparatório) na mesma instituição, em 1943.
A escolha pela profissão, ele acredita ter ocorrido devido a um acidente que, na infância, levou seu irmão caçula à morte. “Naquele tempo as crianças era embaladas em redes, ele caiu e deve ter tido um hematoma subdural, que não foi diagnosticado corretamente. Aquilo me impressionou muito. Talvez seja o motivo de eu ter escolhido a Medicina, em primeiro lugar, e a Pediatria, em segundo”, reflete.
Manissadjian especializou-se em uma das primeiras turmas de Residência em Pediatria do Hospital das Clínicas da FMUSP, sendo, depois, médico assistente do pronto-socorro da instituição e da clínica pediátrica da Faculdade.
Em 1961, o pediatra foi escolhido como bolsista do programa Point IV, da International Cooperation Administration, destinado aos profissionais de países menos desenvolvidos, viajando aos Estados Unidos para estágios e visitas a diversos hospitais. “O meu objetivo era conhecer serviços de Pediatria fora do País, porque havia visitado os que tínhamos aqui e não fiquei satisfeito com o que vi. Por seis meses andei perambulando pelos Estados Unidos (EUA), visitando diferentes hospitais. Também fiz um mês de curso de Neonatologia em Nova York. Quando voltei, introduzi no hospital o que eu havia visto, e era muito importante”, conta. Após seu retorno, o médico ajudou a criar a Unidade de Terapia Intensiva para recém-nascidos no HCFMUSP, que podia receber também bebês não nascidos lá.
Contribuição
Na carreira acadêmica, o médico defendeu sua tese de Doutorado em 1968 e se tornou professor titular da disciplina de Pediatria do Departamento de Clínica da FMUSP, em 1977, o quarto a ocupar a função. E foi nesse cargo que criou a Fundação Criança, em 1992, responsável pelo Instituto de Tratamento do Câncer Infantil (Itaci). “No instituto, como professor titular, tive a oportunidade de criar as subespecialidades de Pediatria que tinha visto nos EUA: Neonatologia, Endocrinologia Pediátrica, Oncologia, Reumatologia, Cardiopatia, Processos Infecciosos etc. E as que foram surgindo à medida em que a especialidade foi se expandindo. Cheguei a deixar, enquanto titular, umas 14 subespecialidades pediátricas”, explica o médico.
Agora professor emérito, Manissadjian permaneceu como titular até sua aposentadoria compulsória, em 1994. Continua ativo em seu consultório particular e como membro da equipe de retaguarda do pronto-atendimento do Hospital Sírio-Libanês, na qual atua com casos de crianças que precisam de internação e não têm um médico fixo. Além disso, é vice-presidente da Associação de Assistência à Criança Deficiente (AACD).
Com uma energia surpreendente para o trabalho, aos 91 anos, o médico conta que não se esforça além de seus limites, restringindo o número de pacientes atendidos em seu consultório, em decorrência da própria idade, que, segundo ele, provoca “um pique e depois um declínio”, que é natural.
Na mesa do pediatra não se vê computador, mas, ao lado dela, há uma máquina de escrever. Com todos esses anos de diferentes experiências, ele considera que a Medicina se transformou muito ao longo do tempo, e por uma razão simples: a internet. “Mudou não apenas a mentalidade dos médicos, mas também a dos pacientes. O que acontece agora é que os médicos frequentemente deixam de raciocinar clinicamente e pedem uma fileira grande de exames. E, se não pedem, o próprio paciente acha ruim. A internet em vez de ajudar, atrapalha. O médico precisa ter muita paciência para clarificar os pontos falhos daquilo que o paciente fala porque leu na internet e não interpretou bem”, aconselha.
Atendimento à comunidade
Muito ligado à comunidade armênia no Brasil, Manissadjian conta que, desde que se formou, fez questão de atender e ajudar seus companheiros, pois soube cedo que muitos, assim como sua família, chegaram ao País em uma situação difícil. “Eu sabia que tinha de colaborar também para que o espírito da armenidade prevalecesse, porque posso ser um bom brasileiro, sem deixar de ser um bom armênio. Porque se o País me propiciou tudo, também tenho que retribuir, porém sem esquecer as minhas origens”, diz o pediatra, que participa intensamente das atividades na Igreja Apostólica Armênia do Brasil, como presidente da Diretoria Executiva, mas não se envolve com entidades políticas.
Satisfeito com sua trajetória, o médico está consciente das escolhas que fez na profissão. “Eu queria uma vida mais acadêmica, estava muito mais interessado em ampliar meus conhecimentos e devolver ao País que me recebeu de braços abertos, dando-me tantas oportunidades como imigrante, no sentido de aumentar a eficiência e a instrução em Pediatria. De alguma forma, eu consegui”, considera Antranik.