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Psiquiatria


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Edição 334 - 03/2016

INSTITUIÇÕES DE SAÚDE (Pág.5)

Psiquiatria


Bairral oferece programas específicos de
tratamento psiquiátrico


Aberto a novas práticas, hospital preconiza
a união de assistência hospitalar qualificada para casos agudos
e cuidados extrahospitalares para reinserção social
de pacientes crônicos




Complexo Bairral: seis ambientes distintos para
diferentes tratamentos

 

O Instituto Bairral de Psiquiatria de Itapira (SP) reúne a experiência de 80 anos com a disposição de um jovem hospital aberto a novas práticas e tratamentos em saúde mental. O hospital foi fundado em 1937, época em que os cuidados aos enfermos mentais se restringiam a trancá-los em manicômios e a medicá-los com drogas pouco eficazes, associadas a desagravos físicos. Já na década de 1970, o hospital foi um dos primeiros a separar doentes por perfil de diagnóstico, prática atualmente adotada pelas melhores instituições. “A ideia é reunir pacientes que tenham as mesmas características em termos de patologia, oferecendo programas específicos de tratamento. As respostas são muito melhores”, diz o psiquiatra Marcelo Ortiz de Souza, diretor executivo da Fundação.

“A divisão de pacientes por perfil de diagnósticos é uma tendência nos hospitais-escolas, e o Bairral foi pioneiro. Essa separação faz com que os processos sejam mais bem adaptados às demandas daquele grupo clínico”, diz Renato Luiz Marchetti, coordenador da Residência Médica do Bairral e do Projeto de Neuropsiquiatria da Epilepsia (Projepsi), do Instituto de Psiquia­tria do HC-USP e membro ca Câmara Técnica de Psiquiatria do Cremesp.

Outra inovação do Bairral é o tratamento integral do paciente, da prevenção em crianças ao tratamento ambulatorial, reservando a internação como último recurso. “O Bairral começou com uma unidade de internação psiquiátrica mas, de uma década para cá, adotou recursos extra-hospitalares”, diz Souza. O hospital tem um ambulatório de saúde mental em parceria com a Prefeitura de Itapira. Atende cerca de 300 pacientes divididos em subespecialidades, como ambulatórios de Psiquiatria Infantil, de Geriatria e de Transtornos do Humor, entre outros.


Divisões

Criada em 1937, a Fundação Espírita Américo Bairral é a mantenedora do Instituto de Psiquiatria Bairral de Itapira, a 170 km de São Paulo e a 75,3 km de Campinas. Foi um início dramático, relatam seus diretores. Como ocorria com outros hospitais psiquiátricos da época, o Bairral vivia de donativos, atendendo enfermos indigentes trazidos das mais diversas regiões do País, sem diagnóstico prévio. Mudanças importantes aconteceram a partir dos anos 1960, com nova direção, novas políticas de tratamento e o primeiro convênio com o então Instituto Nacional de Previdência Social (INPS).

O passo seguinte foi a abertura do Bairral para pacientes privados e de convênio, atendidos em “mini-hospitais” externos ao Instituto Central e desenhados para diferentes perfis de diagnóstico. Seis ambientes foram abertos a partir de 1969, o Recanto, naquele ano; a Vivenda, em 1971; e a Estância, em 1975; além do Núcleo de Tratamento Intensivo, em 2005. Cada unidade tem cor, arquitetura, equipamentos próprios e um perfil de pacientes diferentes. No espaço Recanto, por exemplo, estão internos com quadros psicóticos deficitários e rebaixamento intelectual. O Vale Verde é destinado aos pacientes com comprometimento cognitivo avançado, que necessitam de auxílio para atividades elementares. O Instituto Central, que foi o primeiro edifício do hospital, é o setor que abriga pacientes do SUS e que, internamente, também é dividido por perfis diagnósticos. Ali estão 511 pacientes do SUS. Outros 313, do setor privado, encontram-se nos seis mini-hospitais.


Ambientação

Com área de 400 mil m2, o Bairral lembra um horto florestal, com grandes extensões de verde entre as unidades e espaços para diferentes atividades. Segundo a direção do instituto, o conjunto visa assegurar harmonia, equilíbrio e qualidade de vida aos pacientes.

A importância do hospital é reforçada pelas parcerias com universidades de renome como USP, Unifesp e Unicamp. Em 2012, ampliou sua presença no ensino e pesquisa com a abertura da Residência Médica, com 24 vagas. “A Residência Médica amplia o perfil do hospital, já que os residentes precisam atender em todos os ambientes, desde as unidades básicas de saúde, aos prontos-socorros de hospitais gerais, ambulatórios e atendimento no próprio hospital”, diz Marchetti.

 


Hospital adota recursos extra-hospitalares


A história de 80 anos do Bairral passa por embates de grande importância na política de saúde psiquiátrica. Até os anos 1960, o cenário era de abandono dos pacientes em instituições fechadas. A partir da Reforma Psiquiátrica ini­cia­da na Itália, a antipsi­quia­tria se estende por muitos países, pregando a “derrubada dos muros” dos manicômios. No Brasil, depois de anos de embates, o Congresso aprovou a lei 10.216, em 2001, que ficou conhecida como Lei da Reforma Psiquiátrica. Nas suas diretrizes, a lei determina que, para cada leito de hospital psiquiátrico fechado, seria aberta uma nova vaga em serviço de atendimento especializado, como os Centros de Atenção Psicossocial (CAPs). Hoje, segundo o Ministério da Saúde, há 25 mil pacientes em hospitais psiquiátricos e 10% deles serão retirados neste ano.

“Com o movimento contrário à institucionalização e o desenvolvimento de novos tratamentos, uma parcela grande de pacientes não precisa mais de internação”, diz Souza, diretor do Bairral. Quinze anos depois da Lei da Reforma Psiquiátrica, o embate continua: um lado prega o fim de todos os hospitais psiquiátricos; o outro, defende a necessidade de um ambiente seguro e protegido para parte dos pacientes, até que possam retornar ao convívio social. O Bairral prega a junção dessas duas correntes. “O hospital começou como unidade de internação psiquiátrica, mas de 30 anos para cá vem adotando recursos extra-hospitalares”, explica. O hospital associa a atenção a pacientes crônicos com o tratamento de casos agudos. O ambulatório do Bairral, por exemplo, tem cerca de 3 mil pa­cientes cadastrados. Entre os internados, a maioria permanece ali entre 40 e 60 dias.

 

 

 


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