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EDITORIAL (pág. 2)
Bráulio Luna Filho, presidente do Cremesp


ENTREVISTA (pág. 3)
José Otávio Costa Auler Júnior


RESIDÊNCIA MÉDICA (Pág. 4)
Movimento Nacional de Valorização da Residência Médica


EXAME DO CREMESP (Pág. 5)
11ª Edição


INSTITUIÇÕES DE SAÚDE (pág. 6)
Transplante renal


TRABALHO MÉDICO (Pág. 7)
Carreira Médica


SUS (Págs. 8 e 9)
CPMF


ÓRTESES E PRÓTESES (Pág. 10)
Seminário: A relação entre os médicos e a indústria farmacêutica


AGENDA DA PRESIDÊNCIA (pág. 11)
VII Congresso de Bioética de Ribeirão Preto


EU, MÉDICO (pág. 12)
Raymundo Azevedo Neto


JOVENS MÉDICOS (pág. 13)
Ética Médica


CONVOCAÇÕES (pág. 14)
Informações úteis ao profissional de Medicina


BIOÉTICA (pág. 15)
Como proceder na morte encefálica?


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Edição 329 - 09/2015

INSTITUIÇÕES DE SAÚDE (pág. 6)

Transplante renal


Hospital do Rim é modelo de centro
transplantador mundial


A dedicação exclusiva ao transplante de rim é o principal fator que contribuiu para que o número desses transplantes passasse
de 3 mil para 6 mil por ano


HR realiza 20% dos transplantes de rim no Brasil


O Hospital do Rim é o maior centro de transplante renal do mundo, com 900 procedimentos por ano. É mais que o dobro das melhores instituições internacionais da especialidade. Fundado em 1998 e administrado pela Fundação Oswaldo Ramos, o hospital faz 20% de todos os transplantes de rins realizados no País. Por trás dos números está uma equipe médica que chega a fazer até oito transplantes por dia; e um grupo de “caçadores” de rins, cujo trabalho vai do consentimento da família do doador até a logística de coleta dos órgãos e o monitoramento dos candidatos a receptor. O centro de captação é o coração do hospital, localizado no quinto andar. Na lousa fixada na parede estão  iniciais de dezenas de doadores e receptores que mudam de posição à medida que a fila anda.


Contra o tempo

O outro “coração” da instituição fica no 11º andar, onde algumas salas simples abrigam a diretoria do hospital na Vila Clementino, zona Sul de São Paulo. O nefrologista e professor José Medina é o superintendente dessa engrenagem que luta contra o tempo para transplantar órgãos de doadores falecidos, para doentes que estão na fila para viver. Medina é saudado como o médico que mais transplantes fez em todo o mundo. Dois anos atrás, em Boston, nos Estados Unidos (EUA), foi homenageado por Joseph Murray, uma espécie de papa do transplante de rim, que em 1954 fez o primeiro do gênero. “Foi um prêmio para toda a equipe”, ele diz.

Nos 17 anos de sua existência, o hospital dobrou o número de transplantes e ensinou para todo o País um modelo fundamentado nos procedimentos em larga escala: “Aqui só fazemos transplante de rim, todos os dias. A repetição sistemática do mesmo procedimento faz com que o resultado final seja melhor”, acredita Medina. A prática foi “importada” dos pós-doutorados que fez em Cleveland (EUA) e Oxford (Inglaterra). O modelo implantado é visto como principal fator que contribuiu para que o número de transplante renal passasse de 3 mil para 6 mil por ano. Por exemplo, o hospital criou um centro para desenvolvimento dos programas de transplante com doador falecido, para receber gente de todo o Brasil. “O modelo que o Hospital do Rim passou para o resto do País, fez com que, em poucos anos, os números dobrassem e os transplantes pudessem ser feitos em muitos hospitais”, diz Medina. “O transplante de rins passou a ser coisa rotineira.”
 

Doadores

A substituição de doadores vivos por falecidos é uma das principais práticas disseminadas pelo Hospital do Rim. No início, os doadores vivos representavam 75% contra 25% de mortos. Atualmente a relação é contrária, 3/4 dos rins vêm de pessoas falecidas. Essa é a média dos bons centros americanos e europeus. “O doador vivo é uma exceção porque você tira o rim de uma pessoa para dar a outra. Ter dois rins é sempre melhor que um”, observa Medina.

A questão está em achar doadores falecidos em tempo e conseguir autorização da família. No cotidiano do Hospital do Rim, cerca de 40% das doações não são autorizadas pela família; em outros 30% o rim não pode ser aproveitado por diferentes razões; e apenas 30% dos órgãos são aproveitados. O número de aproveitamento parece baixo, mas é assim também nas melhores instituições, explica Medina.
 

Fila de espera

De todo modo, mesmo se todos os possíveis doadores – vítimas de acidentes, de homicídio, AVC – doassem seus órgãos, não seria bastante. “Haverá sempre mais pacientes precisando de um órgão do que doadores disponíveis”, diz Medina. Na fila única da Secretaria da Saúde para transplante de rins, o tempo de espera é de três a quatro anos. Boa parte desses pacientes da fila está em diálise ou hemodiálise. A longa espera se justifica para a grande totalidade dos pacientes: feito o transplante, 90% deles estão bem depois de um ano; após 12 anos, a taxa de sucesso é de 50%.


Logística rápida

Em uma manhã de domingo de setembro, um médico plantonista de um hospital da Baixada Santista informa à Central de Transplante da Secretaria da Saúde a morte cerebral de um jovem de 21 anos, que levou um tiro numa briga de bar. Começava ali uma cadeia de esforços para preservar os órgãos e a vida de vários receptores da fila. Os dados são repassados para as Organizações de Procura de Órgão (OPO), que podem receber os órgãos. A OPO da Unifesp/Hospital do Rim ficou com um dos rins. Coração, fígado, pâncreas e o segundo rim foram para outras instituições, como Santa Casa, HC e Dante Pazzanezi.

Na mesma manhã, uma enfermeira foi para a Baixada Santista, onde moram familiares do jovem morto. Sua missão era orientar a família sobre a autorização de retirada dos órgãos – desta vez, a família concorda. Em cerca de 40% dos casos ela não permite. Autorizada a extração, uma equipe médica se deslocou de São Paulo para o Litoral para salvar os órgãos. Um rim foi para o Hospital do Rim.

Na Central de Captação da Unifesp, a equipe selecionou receptores que se enquadravam nas características do doador e que estavam nos primeiros lugares na fila. É a Central de Transplante, da Secretaria Estadual da Saúde, que informa sobre os candidatos. Para cada rim, dois receptores são chamados. O exame de compatibilidade sanguínea e genética é responsável pela eleição do candidato a receptor. O outro continua na fila.

O rim pode ser transplantado em até 48 horas depois da morte cerebral. O pâncreas e o fígado, em 12 horas. E o coração e pulmão, em 8 horas. O aproveitamento dos órgãos exige uma logística precisa e rápida. Muitos chegam por carro, outros de avião. “Cada vez que o telefone toca no hospital, alguém corre para atender. Pode ser mais um candidato a salvar vidas”, diz Vanessa Ayres, enfermeira coordenadora da OPO da Unifesp.


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