

CAPA

EDITORIAL (pag. 2)
João Ladislau Rosa, presidente do Cremesp

ENTREVISTA (pág. 3)
Geraldo Alckmin

CRISE (pág. 4)
O precário atendimento das UTIs neonatais

URGÊNCIA & EMERGÊNCIA (pág. 5)
Serviços hospitalares

ESPECIAL I (pág. 6)
Doação de órgãos

ESPECIAL II (pág.7)
Doação de órgãos

ESPECIAL III (pág. 8)
Doação de órgãos

ESPECIAL IV (pág. 9)
Doação de órgãos

EVENTOS (pág. 11)
Agenda dos conselheiros

ANUIDADE 2015 (pág. 12)
Valores da anuidade para PF e PJ

JOVENS MÉDICOS (pág. 13)
Preenchimento da DN

TESTAMENTO VITAL (pág. 14)
Encontro contou com palestrante português

BIOÉTICA (pág. 15)
Atendimento médico

GALERIA DE FOTOS

ESPECIAL IV (pág. 9)
Doação de órgãos
(cont.)
VINCENZO PUGLIESE
Cirurgias emergenciais
"O transplante envolve uma sobrecarga emocional grande
para o médico e a equipe"
Vincenzo Pugliese tem em seu currículo inúmeras cirurgias e transplantes de fígado e, nesse tempo de profissão, pôde acompanhar de perto o avanço da Medicina e dos métodos terapêuticos. O procedimento só se consolidou durante a sua formação, nos anos 80.
Médico formado pela Faculdade de Medicina da USP (FMUSP), em 1983, especialista em cirurgias hepatobiliopancreáticas, Pugliese trabalha no Hospital das Clínicas – o primeiro a realizar esse tipo de operação no País –, onde participou de seu primeiro transplante, em 1986.
No início, o procedimento era muito longo e exaustivo, durava quase 24 horas, e essa era uma das maiores dificuldades que o médico poderia encontrar. Com o passar dos anos, e o aperfeiçoamento da técnica, o transplante é realizado em cerca de cinco horas, mais prático e rápido.
A maioria dos transplantes hepatobiliopancreáticos é emergencial, e esse é outro fator que dificulta o dia a dia de qualquer médico, inclusive o de Pugliese. Isso faz com que, muitas vezes, tenha de abrir mão da vida pessoal. “A nossa rotina é seriamente afetada. Não contamos com horário para entrar ou sair, como em um emprego convencional. O médico tem de estar com a vida pronta”, relata Pugliese.
Muitos casos graves já chegaram até o cirurgião, a maioria de pessoas que apresentam um quadro de insuficiência hepática aguda. Ou, ainda, de pacientes que chegam ao hospital com tumores de fígado e, após tentar realizar um transplante em outras localidades, sem sucesso. “Isso me dá a sensação de dever cumprido”, diz.
Um paciente que, em especial, marcou a trajetória profissional de Pugliese, foi o de uma criança do Rio Grande do Sul, que apresentava um quadro gravíssimo e precisava de transplante. Quando foi encontrado um órgão compatível, enviaram com urgência a São Paulo. “Hoje a criança está ótima. Transplantar crianças e vê-las crescendo bem, se formando, tendo suas profissões, é muito bom”, alegra-se o médico.
Realizar transplantes é uma profissão que envolve risco, responsabilidade e momentos de tensão, uma sobrecarga emocional muito grande, tanto para o cirurgião, quanto para a equipe, mas, segundo Pugliese, vale a pena. “O médico tem em suas mãos o poder de salvar uma vida, e dependendo das decisões que toma, pode colocar essa vida em risco, mas é recompensador ver que tudo deu certo”, afirma.
Casado com Renata e pai de dois filhos – Flávia, de 25 anos, e André, de 22 anos –, Pugliese busca conciliar a vida pessoal com o amor pela profissão, procurando, a cada dia, salvar mais vidas.
LUIZ AUGUSTO CARNEIRO D’ALBUQUERQUE
Estímulos aos novatos
"Apesar do êxito em 80% dos transplantes de fígado, a reperfusão é o momento mais delicado"
Com mais de 100 transplantes realizados neste ano no Hospital das Clínicas (HC), Luiz Augusto Carneiro D’ Albuquerque vive uma carreira dupla, como professor titular e Chefe do Departamento de Gastroenterologia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP).
Ele acredita que o entusiasmo dos médicos brasileiros com a melhora da técnica de transplantes faz com que o País ganhe cada vez mais visibilidade internacional. “Tento formar novos cirurgiões que estejam dispostos a seguir a carreira, o que é difícil, mas muito recompensador. Quando realizamos a cirurgia com sucesso, o sentimento de felicidade e recompensa é maior que o sacrifício. É isso o que eu transmito aos alunos”, conta.
Nascido em Guariba (SP), D’Albuquerque desde criança quis ser médico e formou-se pela Faculdade de Taubaté, em 1974. Depois, fez Residência de Clínica e Cirurgia Geral no HC, onde atua.
O transplante surgiu em seu caminho por acaso. O médico – que sempre se interessou por cirurgias em pacientes complexos e graves – foi nomeado responsável pela área de cirurgia experimental da FMUSP, em 1981. Foi quando começou a trabalhar com fígado, por meio do atendimento prestado no pronto-socorro do HC. Na época, a especialidade estava começando, não se sabia muito sobre esse tipo de cirurgia. Com isso, foi para os Estados Unidos, em 1989, para se especializar em transplantes de fígado, onde ficou por sete meses, tendo realizado por lá 400 cirurgias. Após essa etapa, D’Albuquerque dedicou-se à outra Residência, desta vez em cirurgia do aparelho digestivo.
No Brasil, D’Albuquerque realizou seu primeiro transplante em 1992, no hospital Beneficência Portuguesa. Apesar dos 80% de êxito que o transplante de fígado consegue atingir, o momento da reperfusão – quando o órgão volta a ter o sangue circulando – é o mais delicado, assim como a recuperação do paciente, já que existe risco de rejeição.
Apesar da exigência de um alto nível de envolvimento e comprometimento com a especialidade, para D’Albuquerque a maior frustração é a perda dos pacientes. “Quando um paciente não consegue resistir à cirurgia, eu penso em desistir. Tento viver um dia de cada vez, mas lidar com a perda do paciente sempre é complicado para o médico”, afirma.