

CAPA

EDITORIAL (pág.2)
João Ladislau Rosa - Presidente do Cremesp

ENTREVISTA (pág.3)
José Osmar Medina Pestana

DROGADIÇÃO (pág.4)
Congresso discute malefícios do tabagismo

DEPENDÊNCIA QUÍMICA (pág.5)
58% das famílias bancam tratamento

MOVIMENTO MÉDICO (pág.6)
ADIs sobre o Mais Médicos serão julgadas em 2014

PLENÁRIA ESPECIAL (pág.7)
Formação e prática médica no Canadá

ESPECIAL (pág.8)
Médicos voluntários

ESPECIAL (pág.9)
Médicos voluntários

ESPECIAL (pág.10)
Médicos voluntários

AGENDA DA PRESIDÊNCIA (pág.11)
Novos diretores no HSPE

COLUNA DOS CONSELHEIROS DO CFM (pág.12)
Artigos dos representantes de SP no Federal

JOVENS MÉDICOS (pág.13)
Nova diretoria da Ameresp é eleita

BIOÉTICA (pág.16)
Uso de animais em pesquisas

GALERIA DE FOTOS

ENTREVISTA (pág.3)
José Osmar Medina Pestana
Muito além das salas de aula
“O médico precisa fazer uma leitura correta das necessidades sociais de saúde que ultrapassem os limites do tratamento”
Entre os cinco médicos homenageados pelo CFM, neste ano, figura o nome do nefrologista José Osmar Medina Pestana, por sua trajetória na área de transplantes de alta complexidade, aliada a conceitos humanísticos e solidários, aplicados nas atividades voluntárias de seus alunos junto a comunidades. Formado pela Escola Paulista de Medicina (Unifesp), possui pós-doutorado nas áreas de transplante renal, pela Cleveland Clinic (EUA), e em transplante experimental, na Universidade de Oxford (Reino Unido). É membro da Comissão de Ética da Sociedade Internacional de Transplantes e vice-presidente da Academia Nacional de Medicina. Nesta entrevista ao Jornal do Cremesp, ele fala sobre os desafios da área de transplantes no Brasil, modelos de assistência e atividades na área de ensino e administração.
Como professor, de que forma procura estimular os alunos a se interessar pela área de transplantes?
Trabalho com os alunos de graduação a necessidade de “criar uma história fora da sala de aula”, evitando colocar toda a energia nas notas das provas. Procuro mostrar que, além do conhecimento teórico, o médico necessita de uma refinada capacidade de aliar bom senso ao conhecimento, quando diante de situações clínicas. Recomendo o trabalho voluntário na comunidade, pois isso pode ajudá-los a desenvolver o humanismo e a capacidade de fazer uma leitura correta das necessidades sociais de saúde que ultrapassem os limites do tratamento. Tento, ao mesmo tempo, promover o “desassossego”, insistindo na obtenção de informações globais sobre política, geografia e comportamento relacionadas a cada cultura, muitas vezes obtidas no intercâmbio internacional. E também insisto na necessidade do envolvimento em projetos de iniciação científica, objetivando o desenvolvimento da capacidade crítica na interpretação das inovações que podem ou não ser aplicadas ao paciente, de acordo com sua realidade.
Como define o modelo de atendimento especializado em larga escala, aplicado em sua atividade como médico?
Há 15 anos, iniciamos no Hospital do Rim – e constantemente buscamos aprimorá-lo – um conceito de atendimento especializado em larga escala, que segue um modelo aplicado em produção em escala, mas estruturado em uma área que permita a interação permanente entre os profissionais e mantenha o caráter humanitário da assistência à saúde. O modelo visa otimizar o desempenho de cada segmento (ou estação de trabalho), buscando aperfeiçoar o resultado final.
De que forma isso se aplica à rotina de um transplante?
Existem equipes multiprofissionais especializadas, dedicadas a cada segmento do atendimento e organizadas em estações de trabalho interconectadas no preparo pré-transplante, na captação de órgãos, no centro cirúrgico, na enfermaria, nos cuidados pós-transplante imediato, na unidade de acompanhamento ambulatorial, na enfermaria de intercorrências tardias e na pesquisa clínica. Esse alinhamento do atendimento em elos é refinado semanalmente, quando o grupo se reúne, revisando os dados e dificuldades da semana anterior, bem como fazendo a previsão das atividades da semana seguinte. O modelo está sendo aplicado também em outras situações clínicas. O benefício inicial – como ocorre na produção industrial – é o melhor desempenho na produção que, depois de certo tempo, é seguido pela melhoria acentuada na qualidade do resultado final, em função da repetição sistemática de cada ação por essas equipes.
Esse modelo poderia ser aplicado a outras unidades de atendimento?
O sucesso da aplicação deste modelo em saúde depende da integração do paciente ao sistema, em que equipes multiprofissionais circulam em um mesmo ambiente, com comprometimento uniforme no aprimoramento do atendimento humanitário a diversas necessidades das pessoas. Acredito que a reprodução de centros de atendimento em larga escala – especializados em determinados segmentos – poderá melhorar a eficiência tanto clínica como econômica do atendimento à saúde, seja na área pública ou privada. É desejável que esses centros não sejam geograficamente distantes entre si, mas concentrados em determinada área – cada um dentro da sua especialidade – e incorporando inovações proporcionadas pelo entorno, seguindo o exemplo do polo de informática concentrado no Vale do Silício, nos Estados Unidos.
Como está o cenário da área de transplantes no Brasil?
O País é referência mundial em transplantes de rim, fígado, coração e pulmão. É o segundo em número de procedimentos – só perde para os Estados Unidos. Temos o maior sistema público de transplantes do mundo. Graças à solidariedade da população brasileira, a fila para transplantes de córneas desapareceu, e dobrou o número de transplantes de rim e fígado nos últimos seis anos.
O que é necessário para ser doador de órgãos?
Todas as pessoas podem ser doadoras, independente da idade e da condição de morte. Apenas algumas poucas doenças infecciosas sistêmicas impedem a doação. Para ser doador, após a morte, basta avisar a família sobre sua intenção: ela vai considerar isso como seu último desejo e autorizar o transplante. Nos casos em que há negativa de doação, ela nunca se baseia em dogmas religiosos ou culturais, mas sim na falta de informação prévia comunicada pelo paciente aos familiares.
Como o médico pode colaborar nesse processo?
O médico é fundamental, pois o transplante só ocorre se ele – quando estiver tratando de um paciente em morte encefálica –, entrar em contato com a central estadual de transplantes de órgãos. Ou mesmo com as comissões intra-hospitalares de transplantes, para que a família possa ser adequadamente abordada. Infelizmente, isso acontece em um de cada quatro casos de potenciais doadores, sendo uma situação que, se aprimorada, poderia beneficiar muito mais pessoas.