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CAPA

CARTA AOS BRASILEIROS (pág.2)
Entidades médicas direcionam carta à população sobre medidas do Governo


ENTREVISTA (pág.3)
Florisval Meinão


MOVIMENTO MÉDICO (pág.4)
Medidas do Governo Federal


MOVIMENTO MÉDICO (pág.5)
Milhares de médicos protestam na capital paulista


MOVIMENTO MÉDICO (pág.6)
Programa Mais Médicos


MOVIMENTO MÉDICO (pág.7)
Revalida obrigatório no Estado


MOVIMENTO MÉDICO (págs. 8 e 9)
Medicina 8 anos


ATO MÉDICO (pág.10)
Ato Médico


REGIONAIS (pág.11)
Novas instalações das regionais no interior


VIII Seminário Médico-Mídia (pág.12)
Telemedicina & Telessaúde


SAÚDE PÚBLICA (pág.13)
O tratamento da tuberculose entre profissionais da saúde


BIOÉTICA (pág.16)
Remuneração permitida


GALERIA DE FOTOS



Edição 305 - 07/2013

ENTREVISTA (pág.3)

Florisval Meinão


“Os médicos não são os responsáveis pelo caos na Saúde”


“As pessoas não aceitam a ideia de que serão atendidas por profissionais não capacitados. Sabem que essa medida trará risco para elas”

 


“O governo federal está tentando jogar os problemas da Saúde do País nas mãos dos médicos, mas a população já percebeu que não é assim. As manifestações demonstraram que as pessoas querem serviços de melhor qualidade, e que isso depende de mais investimentos públicos.” A afirmação é de Florisval Meinão, médico que preside a Associação Paulista de Medicina (APM), entidade que há 80 anos atua em defesa da boa prática médica e zela pela parceria com a sociedade civil e com órgãos do governo. Na entrevista concedida ao Jornal do Cremesp, Meinão classificou as medidas recentes do governo como “tentativas desesperadas de dar uma resposta à população. Ninguém quer ser atendido por estudantes ou profissionais mal preparados”, disse.


O Programa Mais Médicos pode ajudar a resolver o problema da Saúde no País?
Não. O pacote do governo é uma tentativa desesperada de dar uma resposta à população. O governo acabou elegendo os médicos como os grandes responsáveis pela situação caótica que vive o sistema de saúde, mas o problema está no investimento. O Brasil aplica 3,8% do PIB em Saúde, metade da média de muitos países. Há também a ineficiência do Estado em gastar os recursos que dispõe. É por tudo isso que a população foi às ruas.


Nas suas últimas decisões, o governo ouviu as entidades médicas?
Estivemos com a pre­si­denta alguns meses atrás e relatamos os problemas na Saúde. Mas ela só ouviu, não debateu, e depois soltou este pacote com o qual discordamos. Um dos pontos é o aumento de dois anos nos cursos para médicos. Construir a grade curricular de um curso de Medicina é tarefa para especialistas e exige anos de experiência, é inaceitável que seja alterado da forma como foi.  Em todas as escolas, os alunos já aprendem com pacientes do SUS.  E eles ainda não são médicos, são estudantes que vão atender moni­to­­rados à distância por algum preceptor. Também não se pode aceitar que médicos venham do exterior sem passar pelo exame de revalidação. Esse exame reprova 90% em média, o que significa que dos 10 mil médicos esperados, pelo menos 9 mil serão reprovados para exercer a Medicina em nosso País. Essa medida desorganiza o curso de Medicina e coloca em risco a população.


O governo insiste em mais vagas e escolas médicas. Elas são necessárias?
A presidenta chegou a sugerir a criação de um grupo de trabalho para estudar como melhorar a qualidade de formação, mas isso não aconteceu. Ela propõe a abertura de mais vagas e de mais escolas, mas o Brasil não tem docente suficiente para ensinar.  E não tem hospitais com o perfil apropriado para o ensino.


Há uma queixa geral quanto à Saúde e alguma coisa precisa ser feita. Por onde começar?
É preciso investir em infra­­es­trutura e valorizar os profissionais de saúde. Para os médicos, em particular, é necessário a aprovação do projeto que cria a Carreira de Estado, uma maneira de valorizar esse profissional e garantir condições para o atendimento.


O governo está sugerindo que se faça um pré-teste do Revalida também para estudantes brasileiros. Como o senhor vê isso?
Nós não temos objeção a que se faça um exame. Mas achamos que isso pode ser uma armadilha. O governo pode fazer uma prova muito difícil agora, reprovar um grande número de profissionais formados no Brasil e então dizer que o problema está na dificuldade excessiva do exame. E com esse argumento facilitar o exame no futuro para que mais médicos venham do exterior.


Como as entidades médicas estão avaliando o veto da presidenta à lei do Ato Médico?
Foi um desrespeito aos médicos e ao Congresso Nacional, que debateu esse assunto durante 12 anos e aprovou o texto daquela forma, inclusive com o apoio dos demais profissionais da Saúde. Foi um debate muito democrático. Não há justificativa para o veto da presidenta.


Quais serão as conse­quências?
Se o veto não for derrubado, a profissão médica fica sem sentido. O artigo vetado é o mais importante porque define que as doenças são diagnosticadas por médico e cabe a ele orientar o tratamento e indicar o processo tera­pêu­tico. Se esse artigo cair e isso passar a ser prerrogativa de todos profissionais de saúde, então perdeu-se todo o sentido de uma lei que define a profissão do médico. O governo está colocando em risco a população porque os outros profissionais de saúde não têm formação para diagnosticar doenças e para orientar tratamento. A própria presidenta Dilma, quando ficou doente, não foi procurar outros profissionais, foi procurar os médicos. E agora ela veta isso dessa forma, o que é inadmissível.


As atitudes do governo estão jogando a população contra os médicos?
Estamos tendo o apoio da população como um todo. As pessoas não aceitam a ideia de que serão atendidas por profissionais não capacitados, sabem que essa medida vai trazer um grande risco para elas, em particular para as mais vulneráveis. A população entende que o governo está procurando jogar o problema da Saúde nas mãos dos médicos. As manifestações de rua deixaram claro que as pessoas sabem que o governo é o responsável pela crise.

 


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