CAPA
EDITORIAL (pág. 2)
Renato Azevedo Júnior - Presidente do Cremesp
ENTREVISTA (pág. 3)
Dom Odilo Scherer - Cardeal Arcebispo de São Paulo
NOTA TÉCNICA (pág. 4)
Confirmação bacteriológica na TB
ESCOLAS MÉDICAS (pág. 5)
Exame Nacional de Revalidação de Diplomas Médicos expedidos por Universidades Estrangeiras
ENTIDADES MÉDICAS (pág. 6)
Academia de Medicina de SP nomeia 27 novos titulares
PLANOS DE SAÚDE (pág. 7)
Dia Nacional de Advertência
SALÁRIO DO MÉDICO (págs. 8/9)
O trabalho no Serviço Público Estadual
TRSS (pág. 10)
Resíduos sólidos de saúde
CFM (pág. 11)
Agenda da presidência
CFM 2 (pág. 10)
Coluna dos conselheiros do CFM
MEDICAMENTOS (pág.13)
Plenária debate mudanças nas diretrizes de prescrição e dispensação
BIOÉTICA (pág.15)
Ética médico-profissional
SUS (pág.16)
Financiamento do Sistema Único de Saúde
GALERIA DE FOTOS
ENTREVISTA (pág. 3)
Dom Odilo Scherer - Cardeal Arcebispo de São Paulo
“Acesso à saúde é questão de solidariedade”
“O SUS é um modelo bem pensado para atender a saúde, mas faltam recursos para realizar seus objetivos”
A saúde é, pela segunda vez, tema da Campanha da Fraternidade, evento organizado pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), iniciado na Quarta-feira de Cinzas e que se estende por toda a Quaresma. Na primeira vez, o foco era o paciente. Desta, com o tema Fraternidade e Saúde Pública, o olhar da Igreja Católica se volta para o acesso aos serviços, as políticas públicas, os atendimentos médicos e hospitalares e a falta de acesso a medicamentos. Nesta entrevista ao Jornal do Cremesp, o cardeal arcebispo de São Paulo e membro permanente da CNBB, Dom Odilo Scherer, explica a adesão ao Movimento Nacional em Defesa da Saúde Pública, do qual também fazem parte o Cremesp, várias organizações profissionais e de usuários da saúde e centrais sindicais.
Por que a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) escolheu o tema da Saúde Pública para a Campanha da Fraternidade de 2012? O que a Igreja pretende com essa temática?
A Campanha da Fraternidade já acontece no Brasil há mais de 40 anos, sempre com algum tema de interesse social amplo. Todos sabemos da importância da saúde para a vida das pessoas. No Brasil, o SUS é um modelo bem pensado para atender a saúde, mas faltam recursos para realizar seus objetivos. Além disso, fatos de corrupção e má administração têm comprometido a eficiência do sistema. Muitos brasileiros ainda não possuem um acesso adequado ao bem da saúde, que lhes é assegurado pela Constituição, como um direito básico, fundamental. A saúde privada é cara e inacessível para a maioria da população. Por esses e tantos outros motivos, a Igreja Católica entende que é questão de solidariedade e de fraternidade cristã unir esforços para que todos tenham o acesso adequado aos bens da saúde no Brasil. O tema deste ano propõe refletirmos sobre a saúde pública, suscitando o espírito fraterno e comunitário das pessoas na atenção aos enfermos e na busca por melhorias no atendimento.
De que forma serão conduzidos os debates sobre a saúde pública no âmbito da Igreja Católica? Que ações serão realizadas?
O Movimento Nacional em Defesa da Saúde Pública – integrado pelas Centrais Sindicais e organizações de profissionais e usuários da saúde no país, com apoio da Arquidiocese de São Paulo – quer a alteração da recém-aprovada Lei 141/2012, que regulamentou a Emenda Constitucional 29 (EC-29). O ideal é que a União aloque pelo menos 10% de sua receita bruta para as políticas públicas de saúde. Os recursos do SUS não são suficientes para que possa atender bem ao seu objetivo.
Como a Arquidiocese de SP participará desse movimento?
Recentemente recebi, na Cúria Arquidiocesana, um grupo representativo de diversas entidades ligadas à saúde – entre elas, o Cremesp – para a apresentação de uma proposta de Projeto de Lei de iniciativa popular para conseguir que a União aplique 10% do seu orçamento na Saúde. Apoiei imediatamente a proposta e recomendarei, às nossas paróquias e organizações eclesiais, o endosso a essa iniciativa. Tenho certeza de que acontecerá o mesmo com os bispos católicos em todo o Brasil. A decisão deverá ser tomada na próxima Assembleia Geral da CNBB, depois da Páscoa.
Várias entidades ligadas à Igreja Católica têm tradição na área da saúde, como as Santas Casas e hospitais ligados a congregações religiosas, algumas geridas por Organizações Sociais (OSs). O senhor se posiciona de forma crítica em relação à terceirização dos serviços públicos de saúde. Por quê?
Não sou contrário que hospitais públicos sejam administrados por Organizações Sociais idôneas. Pelo contrário. Desde que tudo seja realizado de maneira transparente, é desejável que essas instituições – muitas delas com grau de excelência na saúde – ajudem a melhorar o atendimento em hospitais estaduais e municipais. A crítica que faço refere-se à progressiva comercialização dos serviços de saúde. Por insuficiência e precariedade do SUS, as pessoas se veem obrigadas a pagar planos e seguros privados de saúde, que são geralmente caros e fora do alcance da maioria da população.
Que trabalhos a Igreja Católica vem desenvolvendo por meio das Pastorais da Saúde no Estado de São Paulo?
Há duas frentes principais de atuação: a primeira é a assistência ao doente e às pessoas que o assistem, ou de seu círculo familiar. O doente é uma pessoa e não apenas um “objeto de cuidados”, por isso, o atendimento humano, religioso e solidário é fundamental. A outra frente de atuação refere-se à educação para a saúde, como os hábitos salutares de alimentação e de vida, mas também à participação na busca de políticas públicas de saúde mais condizentes com as necessidades da população. A Campanha da Fraternidade reforça o papel das Pastorais, que auxiliam os usuários dos serviços de saúde pública. Isso nos impulsionará a criá-las em regiões onde elas não existem e fortalecê-las em locais em que já estão em atuação.