CAPA
EDITORIAL (JC pág. 2)
A revalidação da certificação médica obtida no exterior, por Luiz Alberto Bacheschi
ENTREVISTA (JC pág. 3)
Expedicionários da Saúde: heróis anônimos à frente do terremoto no Haiti
ATIVIDADES 1 (JC pág. 4)
O reconhecimento pelos 50 anos dedicados integralmente à prática da Medicina
ATIVIDADES 2 (JC pág. 5)
Já estão programados novos encontros entre os presidentes dos CRMs e a diretoria do CFM
ÉTICA & JUSTIÇA (JC pág. 6)
A publicidade médica e a atuação das Comissões de Divulgação de Assuntos Médicos
LEGISLAÇÃO (JC pág. 7)
Cartões de descontos e a Resolução do Conselho Federal de Medicina nº 1.939
ESPECIAL (JC pág, 10)
Levantamento realizado pelo Cremesp mostra a distribuição dos médicos no Estado
ARTIGO (JC pág. 10)
A emissão de receitas médicas e a prescrição de medicamentos controlados
ICESP (JC pág. 11)
Instituto do Câncer: priorização dos pacientes conforme os recursos clínicos de última geração
GERAL (JC pág. 12)
Acompanhe a agenda de cursos e eventos em diversas especialidades
CFM (JC pág. 13)
Coluna dos representantes do Estado no Conselho Federal de Medicina
ALERTA ÉTICO (JC pág. 14)
Análises do Cremesp ajudam a prevenir falhas éticas causadas pela desinformação
PRESIDÊNCIA (JC pág. 15)
Confira a participação do Cremesp em eventos relevantes para a classe
ESPECIALIDADE (JC pág. 16)
Uma pausa para conhecer a Câmara Técnica Interdisciplinar de Bioética e o Centro de Bioética do Cremesp
GALERIA DE FOTOS
ENTREVISTA (JC pág. 3)
Expedicionários da Saúde: heróis anônimos à frente do terremoto no Haiti
Ricardo Affonso Ferreira
Médicos brasileiros no Haiti
“Solidariedade é uma questão de sobrevivência”
Ricardo Ferreira: "o maior desafio é a tristeza de ver tanta gente machucada"
O terremoto que atingiu o Haiti no início do ano, responsável pela morte de cerca de 300 mil pessoas, desencadeou a mobilização de diversos grupos ao redor do mundo, interessados em ajudar de alguma forma os afetados pela catástrofe. Do Brasil, um grupo de médicos liderados pela Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (Oscip) – os Expedicionários da Saúde – partiu em direção àquele país e, apesar das dificuldades de infraestrutura encontradas, tem conseguido, com o espírito solidário e o bom atendimento, conquistar a confiança dos pacientes. Mesmo estando a 200 quilômetros ao sul de Porto Príncipe, e longe do epicentro do terremoto, a equipe relata que a demanda não era menor, já que 80 mil haitianos emigraram da Capital após os tremores. O médico Ricardo Affonso Ferreira, fundador da organização, fala, em entrevista ao Jornal do Cremesp, sobre as dificuldades de se trabalhar em uma catástrofe desta proporção e a experiência que a equipe por ele liderada obteve com o evento.
Como surgiu a ideia de montar uma equipe de médicos para ir ao Haiti?
Os Expedicionários da Saúde existem há bastante tempo. Quando soubemos do terremoto, em quatro dias um enfermeiro e eu estávamos lá para ver onde iríamos montar nosso centro cirúrgico. Em Porto Príncipe, buscamos inúmeros hospitais e, sempre no final de tarde, íamos à reunião da Organização Mundial da Saúde (OMS) para saber onde precisavam de pessoas como nós. Três dias depois nos informaram que na cidade de Les Cayes estavam precisando de médicos. A intenção era levar nossa equipe, com um centro cirúrgico móvel e seis ortope¬distas, quatro aneste-sistas, cinco enfermeiras e um técnico de raio-x, para executar as cirur¬gias ortopédicas. Fui para essa cidade e, após trabalhar alguns dias no hospital central, descobrimos o hospital Brenda Strafford Ins-titute, que me permitiu chamar toda a equipe. Depois enviamos, em parceria com a Associação Médica Brasileira (AMB), a segunda equipe para o Haiti.
De onde provêm os recursos para estas expedições?
Quando disparamos o S.O.S. Haiti, houve um grande número de recursos de amigos e conhecidos que já gostavam dos Expedicionários. A atriz Maitê Proença, por exemplo, junto com seu namorado, nos doaram uma boa quantia. No total, já arrecadamos cerca de R$ 150 mil, mas temos muitos gastos com passagens e logística. Os americanos fecharam o aeroporto da Capital, nos obrigando a desembarcar em Santo Domingo, capital da vizinha República Domi¬nicana, aumentando, assim, os gastos com transporte.
Como era a situação do local de trabalho?
Quando chegamos a Les Cayes, no hospital central, havia uma equipe panamenha, uma cubana e uma haitiana, e estava uma bagunça. Já no Brenda, havia uns médicos americanos, mas solicitamos a saída deles do local, com o aval do diretor do hospital, porque não estavam atendendo de maneira adequada.
Existe toda uma maneira de pensar os Expedicionários da Saúde, como o grupo da solidariedade, do carinho e da atenção com todos os nossos pacientes. Sabemos que quando vamos fazer uma cirurgia, precisamos de um ambiente nas melhores condições higiênicas possíveis. Nem sempre conseguimos tudo, mas se partirmos do princípio “dê o melhor de si”, vamos chegar em algum lugar. Solidariedade não é uma questão de altruísmo, mas sim de sobrevivência, e isso é uma coisa difícil de embutir na cabeça de boa parte dos médicos.
E vocês tiveram algum reconhecimento pelo trabalho?
Éramos chamados de médicos brasileiros. Graças ao nosso carinho e atenção, fomos nos transformando em uma referência, e as pessoas vinham nos procurar. Estamos acostumados a entrar em território alheio, onde você tem que lidar com os egos, mas isso tem de ser feito.
Qual o maior desafio em prestar atendimento em situações de catástrofe?
O maior é a tristeza de ver tanta gente machucada, sofrendo, chorando, e a falta de perspectivas. Todos que integraram a expedição ao Haiti voltaram diferentes, mais humanos, principalmente os que não faziam parte dos Expedicionários.
O médico precisa de alguma formação específica para atuar em catástrofes?
Ortopedista, anestesista e uma enfermagem apropriada são vitais. Não pode ser um profis-sional que esteja apenas com vontade de ir para o Haiti.
O Brasil teria condições de enfrentar uma grande catástrofe?
Acredito que não. Uma das coisas que pretendemos fazer é montar um container com aparato de centro cirúrgico para quatro dias e uma verba de US$ 50 mil para, em caso de uma emergência, podermos, em no máximo 72 horas, prestar atendimento.
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